Dia Mundial de Conscientização do Autismo
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Arte: Arthur Zanotelli
A data de hoje, 2 de abril, marca o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007. O objetivo da iniciativa “Abril Azul” é levar informação à população sobre o autismo, com a intenção de reduzir a discriminação e o preconceito enfrentados pelas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento. O nível intelectual varia muito de um caso para outro, variando de deterioração profunda a casos com altas habilidades cognitivas.
Intervenções psicossociais baseadas em evidências, como terapias comportamentais e programas de treinamento para pais, têm se mostrado eficazes na redução das dificuldades de comunicação e comportamento social de pessoas com Transtorno do Espectro Autista.
A terapeuta ocupacional Verônica Brandão enfatiza a importância de um acompanhamento profissional, visando proporcionar qualidade de vida e independência a estas pessoas, ao mesmo tempo em que orienta e esclarece os responsáveis e a rede de apoio sobre o assunto.
A terapia ocupacional, em sua prática, foca nas atividades do cotidiano (AVDs), promovendo a capacidade de realizar tarefas diárias de maneira mais autônoma.
Elaine Pereira, fonoaudióloga, explica a importância das práticas baseadas em evidências – abordagem que combina evidências científicas com experiências clínicas e do próprio paciente – através de três princípios básicos: a melhor evidência científica, a experiência clínica do profissional e os valores do paciente. Essa abordagem pode ser visível em muitas áreas, inclusive na saúde. Permite que os tratamentos sejam mais eficazes e seguros, pois reduz as práticas ineficientes. Os terapeutas que adotam essa estratégia decidem por uma prática clínica cientificamente comprovada.

Arte: Luana Bentes
A corretora de imóveis Paula Maldonado, mãe de Daniel, uma criança de nove anos com autismo nível 3 de suporte, menciona o alto custo do tratamento de seu filho, que custa em torno de R$9.000,00. Segundo ela, o valor “é fora de qualquer orçamento”. E ainda acrescenta: “Ele tem um plano do meu pai, que tem um teto. Então até uns R$4.000 eles pagam. Mas eu sozinha, não conseguiria”.
Maldonado desabafa sobre a dificuldade de encontrar uma escola que aceitasse Daniel. Por se tratar de uma criança autista, mentiam o preço da mensalidade e, quando ela dizia que poderia pagar, informavam que não havia mais vagas disponíveis. No entanto, quando outras pessoas entravam em contato, era informado que havia vagas sim. Quando finalmente encontrou uma, suas expectativas não foram atendidas: “Eu chegava lá e tinha um muro de vidro, a turma toda reunida em um canto, e o Daniel completamente isolado no outro.”
A corretora elogia o atual colégio de seu filho e todo o cuidado com ele, porém relata que precisou brigar para que ele tivesse direito a uma mediadora. Ela acrescenta que paga uma terapeuta que vai à escola duas vezes por semana para “ensinar à mediadora como se comportar com o Dani”.

Daniel Maldonado em foto enviada pela mãe.
Ela compartilha ainda suas angústias e desafios como mãe de uma criança atípica: “Por ele ser grau 3, eu tô fazendo tratamento psicológico, porque é uma sobrecarga emocional muito grande. Ele é uma criança totalmente dependente de mim”.
A professora da educação inclusiva da escola Oga Mitá, Andressa Bittencourt, entende que os estudantes devem ser vistos de forma individualizada: “A gente trabalha com o estudo de caso, entendendo que cada sujeito é um sujeito dentro desse processo de ensino-aprendizagem.”
Bittencourt explica que a escola procura identificar as dificuldades que o estudante enfrenta em relação ao aprendizado e suas limitações pedagógicas, com o objetivo de desenvolver práticas inovadoras que se adequem a cada perfil.
Fefe Martins, universitário do espectro autista nível 1 de suporte, define sua trajetória escolar como “confusa” e lamenta a imposição de uma forma única de aprendizagem: “Querem que você se adapte a um jeito específico de estudar e aprender. As pessoas não vêem o mundo como eu vejo.”
Yan Fernandes, estudante de jornalismo no espectro autista nível 1 de suporte, recebeu o diagnóstico ainda muito novo e recorda as frequentes brigas e transtornos comportamentais, que com o tempo foram diminuindo. Ele acredita que sua mudança seja resultado das sessões com a psicóloga, que atualmente acontecem às sextas, a cada duas semanas.
O Hospital Universitário Pedro Ernesto implementou o projeto “TEA Acolhe”, que promove a interação com animais no tratamento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista. Famílias que desejam participar podem obter informações na Policlínica Universitária ou entrar em contato pelas redes sociais (@teaacolheuerj) e pelo e-mail [email protected].
O Ministério Público aceita denúncias de planos de saúde que se recusam a fornecer atendimento a autistas ou praticam qualquer tipo de discriminação.
Basta acessar o site rj.consumidorvencedor.mp.br
Reportagem: Arthur Zanotelli, Laura Araújo e Luana Bentes
Supervisão: Ana Lúcia Araújo e Vinicius Carvalho