CARREGANDO

O que você procura

Esporte Geral Praia

A inserção de mulheres no big surfe

Compartilhar

O surfe de ondas grandes, também chamado de “big surfe” é uma modalidade que engloba a prática de surfar ondas que chegam a 6 e podem atingir mais de 20 metros, o que corresponde a um prédio de 7 andares. Diferente do surfe tradicional, praticado em ondas pequenas de até três metros. 

O big surfe é uma das práticas esportivas mais antigas do mundo, com raízes nas culturas polinésias, especialmente no Havaí. No século XX, o havaiano Duke Kahanamoku, considerado o “pai do surfe moderno”, foi responsável por difundir a prática na Califórnia, Austrália e, posteriormente, para o mundo. Com o desenvolvimento da versão moderna da modalidade, surgiu também uma vertente ousada: o surfe de ondas grandes.

As mulheres vêm conquistando espaço e quebrando barreiras no universo do surfe de ondas grandes. Nesse cenário extremo, surfistas brasileiras e internacionais vêm protagonizando capítulos marcantes da história do esporte.

A pioneira do surfe feminino foi a americana Margo Oberg, que nos anos 70 começou a desbravar as ondas grandes na Califórnia e no Havaí. Em uma época sem competições voltadas exclusivamente para mulheres no big surfe, Margo desafiou o machismo estrutural do esporte e pavimentou o caminho para as futuras gerações.

Décadas depois, a brasileira Maya Gabeira se consolidaria como um dos maiores nomes da história do big surfe feminino. Entre 2013 e 2015, ela se tornou a primeira mulher a surfar ondas gigantes em Nazaré, local reconhecido mundialmente pelas maiores ondas já registradas. “Ela abriu caminhos para todas nós. Eu vejo a Maya como uma referência do big surfe feminino”, relata a surfista em processo de evolução, Juliana Frare. 

Nos últimos anos, outras brasileiras também vêm se destacando no cenário do surfe de ondas grandes. Em 2024, Michelle des Bouillons se tornou a primeira campeã brasileira da modalidade, no CBSurf Big Wave Mormaii, realizado em Laguna (SC). 

Nesse mesmo ano, ela alcançou o segundo lugar no prestigiado TUDOR Nazaré Big Wave Challenge, e recentemente em 2025 venceu a final mista do Itacoatiara Big Wave, ao lado do parceiro Ian Cosenza, reforçando seu protagonismo nas maiores competições do mundo.

 

Michelle des Bouillons palestrando sobre sua experiência em big surfe no Rio Innovation Week 2025. Foto: Kaylane Pedroso.

Outra grande promessa é Mikaela Fregonesi, que iniciou sua trajetória no bodyboard e migrou para o surfe aos 16 anos. Em dezembro de 2024, Mikaela desafiou o lendário pico de Jaws, no Havaí, surfando uma onda estimada em 21 metros durante o maior swell, que são ondulações formadas por tempestades no oceano. O feito que segue sendo analisado por uma equipe de cenógrafos pode se tornar a maior onda já surfada por uma mulher no local. 

Para muitas surfistas, estar diante de ondas grandes vai além do desafio físico, é também um processo de se reconhecer e se afirmar como mulher em um espaço historicamente masculino. Juliana Frare, que está iniciando no mundo do big surfe, conta que durante suas aulas de Tow-in, a modalidade onde os jet-skis puxam os surfistas até a crista da onda, foi para a cidade de Maresias, litoral de São Paulo, e teve a oportunidade de surfar pela primeira vez em um mar grande. “Aquele momento era a realização de um sonho, eu me encontrei como surfista, como pessoa e como mulher”, sublinhou Frare.

 

Domínio técnico de Juliana Frare em ondas grandes. Foto: MS Design.

Outras surfistas, assim como Juliana, também compartilham da mesma sensação de pertencimento quando encaram ondas gigantes, mostrando que o mar se tornou um espaço de resistência e afirmação. Michelle des Bouillons conta como foi o momento em que percebeu que o big surfe era seu lugar: “Quando comecei a pegar ondas grandes e ser convidada para o campeonato mundial, eu falei, acho que é isso. Acho que finalmente encontrei o meu lugar no universo do surfe”. 

A maternidade pode ser um processo desafiador dentro da vida de uma mulher e ao vivenciar esse momento praticando um esporte que exige tanta disciplina e dedicação, a atleta Mikaela Fregonese conta as mudanças que ocorreram após o nascimento de seu filho: “Depois que eu me tornei mãe, eu fiquei bem mais cautelosa. Apesar de eu estar pegando ondas gigantes, eu faço tudo com muita cautela, com bastante segurança.” 

Por mais que exista esse receio dentro da vida de algumas dessas mães que praticam o surfe de ondas grandes, a paixão pelo o que fazem e o desejo de mostrarem aos seus filhos como é importante seguir seus sonhos fala mais alto. “Dá medo, mas ao mesmo tempo eu acho importante eles verem. Os filhos têm que ver a mãe fazendo aquilo que sonha, aquilo que ama”, disse Juliana Frare. A rotina da maternidade também pode ser muito exaustiva, a surfista, que é mãe solo de quatro filhos, onde dois são neurodivergentes, explica que é necessário uma adaptação de rotina e treino para conciliar a vida pessoal com o big surfe. Para ela, uma rede de apoio é essencial no dia a dia, já que além das exigências do esporte, muitas mulheres enfrentam a pressão social de corresponder a um ideal de “maternidade perfeita”.

A história continua sendo construída,  as surfistas se preparam para as grandes competições que vão acontecer no próximo ano, em 2026.

 

Reportagem: Iago Valadares, Luisa Teixeira, Maria Eduarda Torres e Mirella Casanova

Fotos: Marcio Rovai e Kaylane Pedroso

Supervisão: Vinicius Carvalho 

 

Tags:

Você pode gostar também