Por trás das lentes: Dia do Repórter Fotográfico
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Comemorado em 2 de setembro, o Dia do Repórter Fotográfico celebra não apenas a entrada da fotografia nos jornais, mas também a trajetória de uma profissão que atravessou guerras, revoluções e transformações tecnológicas. Em 1880, o jornal Daily Graphic, de Nova Iorque, publicou pela primeira vez uma fotografia. A profissão começou a ganhar destaque com a cobertura de conflitos, tendo Roger Fenton como o primeiro fotógrafo oficial de guerra, responsável por registrar a Guerra da Crimeia. Mais de um século depois, os repórteres fotográficos seguem contando histórias por meio de imagens, com um olhar atento e apurado.
A popularização da profissão caminhou junto com os avanços técnicos. Na era analógica, o fotojornalista não apenas capturava os registros, mas também levava os filmes aos laboratórios para revelação, num processo lento e trabalhoso. Com a chegada da fotografia digital, o procedimento tornou-se mais rápido, ainda que muitos profissionais tenham se mantido fieis aos rolos de filme fotográfico.
Por meio de denúncias e da busca pela verdade, o fotojornalista procura estabelecer uma relação de confiança com o público. O repórter fotográfico Marco Terranova, vencedor do Prêmio Esso 1999 com a fotografia “Domingo de Pavor”, exemplifica essa relação em seu projeto “Santa Marta dos Anjos”, que teve como foco registrar a vida e as emoções de moradores do Morro Santa Marta, no Rio de Janeiro. “O nosso trabalho é conseguir obter o respeito das pessoas, no momento em que você enxerga o outro como ele é, e você é visto como você é, isso não tem preço” comenta Terranova.

Domingo de Pavor. Foto: Marco Terranova
Ao registrar um acontecimento, o profissional procura transmitir uma informação por meio da imagem. Essa autonomia para noticiar reacende o debate sobre o ditado popular: “uma imagem vale mais que mil palavras?”. Marco Terranova questiona se “realmente uma imagem vale mais que mil palavras. Mas quem está contando essa história? Essa imagem é real? Ela está contando a história como ela é de fato?”
O repórter fotográfico a todo momento olha para a situação como uma possível notícia. Severino Silva, fotojornalista, relata um episódio de tiroteio que viveu na Linha Vermelha. Enquanto todos corriam e se abaixavam, Severino era o único em pé, pronto para registrar o momento. “Desde aquele dia, não ando mais sem equipamento. Posso até não tirar a foto, mas não vai ser por falta da maquina”.

Foto: Severino Silva
A fotógrafa esportiva e CEO da Staff Images Woman, Lívia Villas-Boas, compartilha sua experiência profissional: “Eu, como mulher, sempre fui a última a ser escolhida. Se tivessem três homens e eu para fazer as pautas mais interessantes no jornal, era a última a ser escolhida.” Em um ambiente dominado pelo sexo masculino, as mulheres tiveram que enfrentar diversas barreiras no campo profissional, mas, ainda assim, conseguiram conquistar seu espaço na profissão.
No Brasil, o fotojornalismo ganhou destaque, especialmente no campo esportivo, com a profissionalização do futebol, na década de 1930. Villas-Boas, em busca de um olhar feminino na cobertura do esporte, fundou a Staff Images Woman, uma agência formada exclusivamente por mulheres. “Quando a gente estava em campo tinham 70 homens e 2 mulheres (…) Então eu pensei: Vou criar essa agência só com mulheres para atuar no futebol feminino. Porque nunca uma mulher vai colocar uma jogadora, numa situação ridícula ou numa foto sexualizada.”

Foto: Lívia Villas Boas
Segundo o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, pelo menos 247 jornalistas palestinos foram mortos no conflito em Gaza, majoritariamente por bombardeios israelenses. “A imprensa não era para ser alvo, o jornalista está lá para fazer um serviço, para ajudar, mas agora eles são o alvo, estão silenciando os poucos jornalistas que já são de lá, porque eles não deixam entrar ninguém de fora.” Afirma a repórter fotográfica, Ana Carolina Fernandes, sobre os riscos da profissão. Carolina ainda menciona as dificuldades vividas nessas coberturas, onde jornalistas têm deixado cartas para suas famílias ao saírem para trabalhar, sabendo da possibilidade de não sobreviverem.

Foto: Ana Carolina Fernandes
Hoje, a profissão sofre mais desafio tecnológico. A inteligência artificial vem sendo usada como ferramenta em diversos casos. Villas-Boas comenta: “Se vai te ajudar a editar uma foto, beleza, mas se for para manipular, já é outra coisa. Acho que pode acabar mascarando um profissional.” A reflexão indica um futuro em que a inovação tecnológica se soma ao olhar humano, sem substituir o princípio fundamental da profissão, que pode continuar retratando a realidade com sensibilidade, cuidado e ética.
Reportagem: Adercino Orçay, Júlia Luparelli, Kaylane Pedroso e Letícia Capela
Supervisão: Vinicius Carvalho


