Crítica: Conclave (2024)
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Thomas Lawrence, interpretado por Ralph Fiennes, é o cardeal encarregado de organizar a eleição do próximo sumo pontífice, após a morte do papa. Conclave narra a disputa por poder dentro do Vaticano, ao mesmo tempo que o personagem principal se vê incerto sobre sua fé. O ambiente secreto e misterioso das portas fechadas da Capela Sistina desperta curiosidade no resto do mundo, que anseia por ao menos uma pista do que ocorre lá dentro.
Ao longo do filme, diversos candidatos são apontados como futuros líderes do Vaticano, mas neste cenário mentiras e segredos são revelados, investigações são fomentadas, escândalos vem à tona e dúvidas e medos acabam interferindo nas escolhas dos cardeais.
No início da trama, um personagem curioso chama a atenção tanto dos outros padres, quanto do público: Vincent Benitez, um arcebispo mexicano até então desconhecido, que atuava em Cabul, no Afeganistão. Reservado, Benítez se mostra inclinado para votar em Lawrence, que considera ser a melhor escolha para um novo papa, porém de forma surpreendente, ele é votado no primeiro pleito.
Irmã Agnes, uma das únicas personagens femininas, interpretada por Isabella Rossellini, tem papel crucial na trama ao interferir no processo ao revelar histórias do passado de um dos fortes candidatos. Com direito a ataque à bomba, discursos de ódio e defesas dos costumes da Igreja Católica, Conclave, uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito por Robert Harris, aborda as mais distintas temáticas, desde a androginia, o crescimento do islamismo na Europa, até as hipocrisias existentes dentro das entidades religiosas. A todo momento, a tradição batalha a modernidade, seja pelos padres usando celulares e fumando cigarros ou “vapes”, ou pela pequena fala de Agnes sobre a exclusão das mulheres na igreja e no mundo.
Os simbolismos são recorrentes e fortes. Enquanto os cardeais lentamente arquitetam suas chegadas ao poder e traem uns aos outros, a cruz, maior símbolo de devoção e fé cristã, está presente em todos os cenários, como se estivesse, de longe, os vigiando.
Todas as atuações chamam a atenção, com olhares que implicam mais que diálogos. Ralph Fiennes, interpreta muito bem a dúvida interior de Lawrence, que, ao mesmo tempo que detém grandes responsabilidades e poder em suas mãos, duvida de todos à sua volta, da igreja e de Deus. Ele não precisa falar muito para que o espectador compreenda sua aflição e seus temores. O longa é emocionante se você se permitir identificar as nuances e as falas não proferidas, que adicionam um tom de mistério e angústia ao assisti-lo.
Crítica: Julia Novaes
Supervisão: Taís Vianna