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Complexo da Maré completa seis dias de operação da Polícia Militar e moradores têm a rotina afetada

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Hoje é o sexto dia de operações no Complexo da Maré, que tem passado por momentos intensos diante de operações de combate ao tráfico. A PM declarou que, na semana passada, foram 24 presos e um morto em confrontos. Nesses últimos dias, a Polícia buscou por membros do Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro, facções criminosas que surgiram, respectivamente, em 1979 e 2002. Foram descobertas áreas de lazer e campos desportivos que eram utilizados para treinamentos de guerrilha aos bandidos. Pelo menos 8 localidades do Complexo foram percorridas com o objetivo de cumprir  54 mandados. 

O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, se reuniu ontem com o Prefeito da Cidade, Eduardo Paes, e o Governador do Estado, Claudio Castro, para discutir a atuação do Estado em relação à segurança da cidade. A partir dessa reunião, a Força Nacional de Segurança (FNS), Polícia Federal (PF), e Polícia Rodoviária Federal (PRF), estabeleceram uma integração nas operações que serão realizadas, começando hoje.

As maiores preocupações dos moradores são a respeito da falta de acesso aos direitos básicos, como saúde e educação. Para Raniery Soares, morador do Complexo, as operações já estão afetando o seu dia a dia. Ele diz que está sem aula desde segunda-feira passada, e que as da próxima semana foram canceladas, totalizando 8 dias. 

Ao menos, 41 escolas suspenderam suas aulas, afetando pouco mais de 13 mil alunos do Complexo. Além disso, quatro unidades de saúde foram fechadas. São pelo menos 120.000 pessoas, e moradores direta e indiretamente impactados. Tainá Alvarenga e Maykon Sardinha, coordenadores do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, acreditam que essas atuações sendo realizadas podem, mais uma vez, atrapalhar as crianças e jovens. “Apesar da prefeitura afirmar que há aula remota, esse dano é irreparável, se pensarmos que nem todos possuem acesso à internet, além do campo subjetivo como o emocional e psíquico para assistir.”, dizem.

Além disso, o Governo do Estado do Rio divulgou ontem que a Polícia Militar apreendeu mais de 120 kg de cocaína, uma arma, duas granadas, e que um suspeito foi preso. O Governador Cláudio Castro disse que o objetivo destas operações é asfixiar as atividades desses grupos. “As máfias que atuam no Rio não terão descanso”, afirma ele.

Para se protegerem em situações de risco, como tiroteios, os moradores buscam os cômodos mais afastados da rua. No caso de Raniery, ele diz procurar se esconder entre a cozinha e o banheiro. Afirma, também, já ter trocado pelo menos 8 vezes o vidro da janela da frente por causa dos tiros. 

Raniery explica, ainda, que existem barreiras invisíveis dentro do complexo da Maré, as que dividem os diferentes grupos civis armados. Ele diz que não costuma acontecer troca de tiros entre as congregações, apenas quando ocorrem operações policiais. “A minha rua em específico fica bem perto dessa divisa, que chamamos de barreira”, conta. Esses são considerados os locais mais perigosos. 

Para reduzir a violência, os moradores e representantes da Rede da Maré acreditam que há a necessidade da criação de trabalhos dentro do Governo Estadual, incentivando a redução do preconceito, além de priorizar as investigações. Pesquisar maneiras preventivas para que armas e drogas não entrem nas comunidades. 

Historicamente, as operações em comunidades são frequentes no estado, o que já é visto como habitual entre os moradores. Para Tainá e Maykon, elas não geram mudanças eficazes na forma como a Segurança Pública deveria ser efetivada: “Os moradores da Maré nunca vivenciaram a segurança enquanto um direito.” Já para Raniery, as operações são feitas como uma forma de demonstrar o poder bélico: “Eles apostam mais no ‘atira primeiro, para depois perguntar’, do que na prevenção”.

 

Reportagem: Manuela Monzo e Maria Fernanda Buczynski

Supervisão: Júlia Vianna, Lorenna Medeiros e Pedro Zandonadi

Foto de capa: Fabiano Rocha/Agência O Globo

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