Maréas: pelo acolhimento das mulheres da Maré
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Na Casa das Mulheres da Maré, na última sexta-feira (18), houve o lançamento do Maréas, um canal de comunicação e espaço de acolhimento para as moradoras da Maré que têm seus direitos sexuais e reprodutivos violados. O canal é resultado dos 6 anos de trabalho da instituição e, com a pandemia, foi possível sistematizar a necessidade de atendimento da população a partir da impossibilidade de atendimentos presenciais. O Maréas permite que as moradoras com dificuldades de sair de casa devido à pandemia, ou por conta de violências domésticas, tenham contato direto à Casa.
A Casa das Mulheres da Maré foi concebida pela Redes da Maré para incentivar o protagonismo das mulheres da região. Mariana Aleixo, coordenadora da Casa, diz que o projeto é fruto de uma reflexão da Redes sobre formas de melhorar a vida da população. “Acreditamos que mudar a qualidade de vida dos moradores da Maré é melhorar a qualidade de vida das mulheres do território, porque acabamos impactando não só a vida delas, mas de quem está ao redor”, explica Mariana.
No site da Redes há as atividades oferecidas, como qualificação profissional, enfrentamento das violências contra as mulheres, atendimento sócio-jurídico e psicológico e articulação territorial para a criação de uma agenda positiva nas políticas públicas. A Casa ainda realiza pesquisas e levantamentos para transformar em dados concretos os acontecimentos na rotina das moradoras da Maré.
A coordenadora Mariana afirma que o Maréas busca reconhecer quais são as demandas das mulheres e permitir, assim, que elas tenham um ambiente seguro. “O Maréas também recolhe dados de quais direitos são demandados no território, e como podemos incidir em políticas públicas para melhorar a qualidade das moradoras”, conta.
Na sexta aconteceu também o lançamento do Curso de Manicure para jovens de 14 a 18 anos, que procura qualificar cada vez mais jovens moradoras, a fim de que elas possam buscar sua independência. De acordo com Mariana, a Casa busca possibilitar a capacitação profissional do público feminino, compreendendo também o papel social para a redução da violência. Ela disse que percebe que os cursos de qualificação são uma metodologia sofisticada de enfrentamento à violência contra as mulheres. “Dessa forma, elas percebem o desejo de se qualificar, ter acesso à educação e, consequentemente, poder ser melhor remuneradas”, explica Mariana
Além disso, a programação contou com duas mesas de entrevista e bate-papo sobre Visibilidade Trans, com importantes mulheres, como Lúcia Xavier, Gilmara Cunha, Jaqueline Gomes, Indinarae Siqueira, Maria Eduarda, Lohana Karla e Quitta Pinheiro. Após as mesas, aconteceu o desfile com mulheres do Centro de Cidadania do Instituto LGBTQIA+ e o encerramento foi com feijoada Maré de Sabores+Anis e Roda de Samba do grupo “Pra Elas”.
Intervenções artísticas
O evento teve a exposição da terceira edição do projeto 8 mulheres, 8 de março – Retratos da vivência de mulheres do Tijolinho, da Kamila Camillo. Cada edição possui uma temática diferente e desta vez, a artista escolheu retratar as moradoras nos ambientes em que elas pudessem estar confortáveis e demonstrarem sua identidade. Ela traz o questionamento de como cada mulher gostaria de se retratar para o mundo.
Desde 2017, a artista vem trabalhando com séries de fotografias. Kamila percebeu a partir de um projeto artístico com crianças e adolescentes no Tijolinho, que havia uma demanda de atividades voltadas para as mães e buscou uma forma de transformar a vivência dessas mulheres. Em passeio com uma amiga, surgiu o desejo de fazer algo diferente. “Estávamos na Lapa e eu virei para ela e falei: Vamos fazer algo diferente? Vamos perguntar a essas mulheres como elas querem se apresentar para o mundo?” Assim, surgiu essa edição do projeto, em que as personagens se mostram da sua própria maneira, cada uma com seus próprios aspectos.
No evento, também houve a intervenção artística da grafiteira Amora Moreira, que produziu um grafite para a divulgação do projeto. Segundo ela, as conexões que são feitas na Casa e o que as responsáveis pelo programa promovem são importantes para a população da Maré. “Eu queria que tivesse em todos os lugares. Justamente por ser um espaço periférico, com muita presença de moradores e pessoas negras, eu me sinto muito bem. E eles escolherem a minha arte para estar aqui me faz super feliz.”, comentou Amora.
A artista foi convidada para grafitar ao vivo e contou que sempre busca participar de atividades com a Casa. Além de grafiteira, Amora faz parte de um estúdio de animação independente da Maré chamado Tijolin Studio.
Reportagem: Beatriz Chagas, Deborah Lopes e Luciana Campos
Supervisão: Gabriela Leonardi