POR DENTRO DA ÚLTIMA TEMPORADA DE MODA
Compartilhar
As Fashion Weeks são as semanas onde ocorrem as apresentações das coleções e tendências das maiores marcas de luxo do mundo. Recentemente, o Paris Fashion Week encerrou a temporada de outono/inverno 2022, neste mês de março, finalizando um dos eventos mais comentados e esperados do mundo da moda. Nova York foi a primeira cidade a apresentar os desfiles, dos dias 12 a 16/02; seguindo o calendário internacional, Londres, dos dias 18 a 22 de fevereiro; em seguida o Milão Fashion Week, do dia 22 a 27/02.
No geral, foi uma temporada bem ampla e com mais desfiles que a passada. As marcas voltaram a apostar em maiores desfiles e estruturas, sem abandonar a integração digital aprimorada pela pandemia. Os desfiles lotaram e contaram com a presença de artistas, celebridades, influenciadores, jornalistas e tiktokers disputando a primeira fila.
Um ponto importante sobre o evento é que os desfiles estão se tornando cada vez mais inclusivos e isso chamou atenção do público. O perfil @fash.insider, que faz análises de moda no Instagram, explica que essa temporada foi inovadora, principalmente no quesito da diversidade. “Acho que um aspecto diferente que teve nas semanas de moda foi ter mais diversidade de corpos na passarela, ainda bem longe do ideal, mas já foi um passo dado.”
As tendências, para fazerem sucesso, necessitam da visão do designer em criar uma ideia interessante e precisam que a coleção se comunique com seu tempo, é o que comenta o Estilista, Professor, Consultor de Produto de Moda na faculdade de Santa Marcelina, Marcio Ito: “O designer, entre aspas, ele tem sim controle do que pode ser tendência desde que ele se torne uma pessoa envolta de um contexto atual.” A partir disso, se essas propostas desfiladas, forem desejadas e aderidas pelo público, tornam-se tendências a serem seguidas.
Sci-fi Fashion
A Diesel fez o seu retorno às passarelas sob a direção criativa de Glen Martens, abrindo a semana de moda em Milão, o desfile fez uma releitura do estilo dos anos 2000, com mini saias, cintura baixa e muito jeans. Glen soube trazer um ar moderno e tecnológico, que em alguns momentos se assemelhou à ficção científica com modelos pintados das cabeças aos pés. Elementos tecnológicos também estiveram presentes em vários momentos, Maria Grazia, diretora criativa da Dior, foi duramente criticada pela forma que introduziu o tema no desfile da maison; e a marca Anrealage, do designer japonês Kunihiko Morinaga, criou um vestido que possuía acesso remoto capaz de controlar a estampa do vestido, em meio a um desfile sobre a viagem à lua.
Maximalismo
A extravagância, estruturas exageradas, proporções enormes estiveram vários desfiles, trazendo uma tendência em que quanto mais, melhor. Em Milão, o desfile da GCDS parecia ter saído do guarda roupa de um personagem em quadrinhos, muito rosa e balaclavas em crochê; a Prada misturou texturas, blazer com plumas, saias longas e fluidas com casacos de couro gigantescos. Em Nova York, Marc Jacobs apresentou uma coleção com jaquetas puffers super longas em uma proposta mais conceitual.
100% sensual
Para além das propostas mais “diferentonas”, vários designers optaram por apresentar coleções com tendências mais fáceis de serem assimiladas pelo público e um destaque, para o público jovem, é o que afirma a produtora de fashion content no Tiktok e estudante de moda, Brenda Cellos: “A Coperni e a Versace fizeram isso perfeitamente. No desfile da Coperni, por exemplo, tinha um vestido curto bem a cara da geração Z, mas que no meio da coleção fazia sentido.” Essa conexão rendeu muita transparência, mini comprimentos e sensualidade na passarela.
Pelada mas nem tanto
A estampa 3D ou que imita uma ilusão ótica, é conhecida como Trompe L’oeil e foi consagrada na década de 90 por Jean Paul Gaultier. Ela veio reinterpretada na Loewe, Y Project, Balmain e Alexander MCqueen. O modelo, que já estava sendo sucesso nas ruas foi apresentado na passarela depois, mostrando como as tendências não são apenas criadas na alta costura, como podem ganhar vida através de uma cultura já presente, como explica Márcio ito: “Outras culturas, podem fazer com que o movimento de tendência aconteça, como já aconteceu nos anos 90 em vista do Grunge, a vinda do próprio movimento da rua para a passarela.”
Ponta fina
Para os calçados, os estilistas apresentaram vários modelos de ponta fina. O formato mais afunilado na frente, apareceu em Milão, na Bottega Veneta, Prada, Valentino e Fendi, e criam uma estrutura diferente no próprio salto trazendo classe, delicadeza e modernidade. Versace manteve a plataforma, sucesso da última temporada, o atualizando mas com o modelo de ponta fina e tiras acima do tornozelo. Givenchy adotou as pantashoes, estilo de bota que se une a calça ou a meia-calça, esse tipo de salto foi popularizado pela Balenciaga é uma aposta de tendência para Brenda Cellos, “As botas de cano super alto, que não tem tanto a cara do Brasil, mas lá fora vai bombar.” A Balmain aplicou esse estilo aos tênis e chinelos, trazendo uma ideia futurista, que já é uma marca registrada da maison desde que Olivier Rousteing passou a ser o diretor criativo.
Monocromia
Quem também aderiu aos saltos de plataforma nessa temporada foi a Valentino, que fez um desfile emblemático usando apenas 2 cores. A coleção foi considerada inovadora, como comenta a produtora de conteúdo de moda, Brenda Cellos “É muito difícil fazer uma coleção fora da caixinha, com modelagens intrigantes, estudo de tecido, fazer uma coleção quase monocromática é um desafio e tanto.”
A monocromia foi o grande destaque dessa temporada de moda de inverno, observada em diversos shows, Versace , David Koma Anrealage, Rick Owens e Brandon Maxwell usaram desse elemento, mas foi no desfile da Balenciaga que a monocromia ganhou uma outra dimensão de significado. Demna Gvasalia, diretor criativo da maison, usou as cores da Ucrânia nos dois últimos looks do desfile como forma de se posicionar contra a guerra entre Rússia e o país, tornando o desfile um evento que narra a história da humanidade acontecendo no presente. “Um pequeno pensamento pode se tornar muito potente dentro de uma visibilidade como foi o desfile da Balenciaga”, completa o professor Márcio.
Reportagem por: Isys Bueno, Beatriz Mattos e Lorenna Medeiros
Revisão por: Brenda Barros