A relação de altos e baixos dos idosos com a tecnologia
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Os avanços da tecnologia têm proporcionado grandes conquistas para a sociedade, principalmente para a terceira idade, com a diversificação e evolução de tratamentos na medicina e nos meios de comunicação. Apesar disso, muitos idosos ainda sofrem dificuldades em fazer parte desse universo tecnológico e acabam sentindo-se excluídos por uma maioria ao frequentar ambientes que utilizam a tecnologia como principal meio. Observa-se que as atualizações e mudanças de interface dos aplicativos e sites se configuram como barreiras para o amplo acesso e uso das pessoas mais velhas, dado que mesmo aqueles que já utilizam, podem vir a ter adversidades mediante às mudanças, tendo como exemplo os aplicativos de operações bancárias e transportes.
Com a ascensão tecnológica, os jovens sentem-se independentes e confiantes em relação ao manuseio das plataformas digitais e a partir dessa agilidade eletrônica, os idosos sentem-se confortáveis em solicitar auxílio a eles. Reynaldo Teixeira, aposentado de 86 anos, fala sobre a necessidade de as pessoas mais novas ajudarem os anciões com a atualidade. “A verdade é que as pessoas de certa idade precisam estar juntos e assessorados por uma pessoa mais jovem, que já entenda de computador, de internet, porque o que não pode é a sociedade deixar que o idoso fique à mercê da tecnologia atual, porque senão, a gente fica completamente deslocado. O idoso, às vezes, tem dificuldade de se atualizar, de aprender as coisas com mais rapidez.” – conta Reynaldo.
Segundo o IBGE, a parcela de idosos na internet aumentou significativamente, tendo em vista que em 2008 apenas 5,7% dessa população estava conectada na web, e em 2016, esse número subiu para 24,7%. O psicólogo Gustavo Silva, especialista em psicogerontologia, confirma essa informação a partir do momento em que é possível compreender que o uso da tecnologia passou a fazer parte do cotidiano social de maneira mais abrangente. O que possibilitou que as pessoas idosas realizassem operações básicas como compras, comunicação e até mesmo agendamentos de exames via internet, combatendo a ideia de que não haveria aprendizado neste período da vida.
O percentual de idosos no Brasil é heterogêneo e, a partir disso, é preciso compreender o amplo público e suas respectivas particularidades. A tecnologia é um agente de impacto na participação social, na promoção do bem estar e na autoestima da pessoa idosa, pois auxilia na adaptação de atividades e tarefas, o que fomenta a melhoria da qualidade de vida, manutenção e treino das habilidades. Por isso, o aposentado Reynaldo relatou que utiliza diariamente a tecnologia em diferentes funções, pois através das redes sociais, consegue se comunicar com amigos e familiares, ver filmes e séries por três tipos de streamings diferentes e que não precisa mais ir ao banco para pagar contas, porque consegue atuar de maneira online.
Diferente de Reynaldo, Cleoneide da Silva, de 70 anos, afirma ser um pouco analfabeta digital. Apesar de utilizar alguns aplicativos no cotidiano, sobretudo aqueles que auxiliam na organização da casa e o E-mail, existem muitos idosos em seu ciclo de amizades que são mais evoluídos no meio tecnológico. No entanto, ela afirma que esse distanciamento das redes não a faz se sentir mais sozinha. “Eu acho que se sentem sozinhas as pessoas que vivem muito na era digital. Por exemplo, em casa, é muito difícil você conversar. Na hora do almoço, está todo mundo com o celular na mão. Não te dão atenção. Então, eu acho que as pessoas não sabem usar muito a tecnologia nessa forma. Eles que se sentem sozinhos, porque eles se isolam”.
Apesar do cenário excludente, alguns projetos de lei que tramitam na Câmara dos Deputados buscam contornar a situação. Em 2020, o Projeto de Lei 5.475, apresentou a criação de uma campanha pública permanente para orientar os idosos quanto à contratação de produtos e serviços oferecidos por instituições financeiras, com o objetivo de prevenir golpes e abusos econômicos. Posteriormente, a PL 421/2021, do deputado Delegado Fernando Martins (PSL) propôs a aproximação intergeracional através da organização de oficinas de inclusão digital que facilitem a utilização das novas tecnologias de informação.
Reportagem: Agnes Todesco, Luciana Campos e Maria Eduarda Reis
Supervisão: Heitor Leite e Júlia Vianna