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Bate cabeça: A história e atualidade das Rodas Punk

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MC Maui pulando e se divertindo em roda punk junto do público carioca no Centro Cultural Lado B.

O público começa a gritar ao perceber as notas de uma melodia conhecida vinda do palco. Mãos para o alto e pulos em toda a parte dão a sensação de o chão tremer debaixo dos pés. Embalados pelo êxtase, dezenas, centenas, ou até mesmo milhares de pessoas buscam resposta para um sentimento quase primitivo causado pela música. Nesse momento, a plateia vai criando um vão em formato de círculo e se aglomerando em seus entornos. Com o crescimento da canção, corpos começam a se empurrar e esbarrar violentamente um contra os outros, como resposta instintiva ao sentimento de catarse. Assim que se formam os mosh pits, também apelidados de Rodas Punk. 

Originárias da costa oeste dos Estados Unidos e popularizadas pelas bandas californianas que aderiram ao heavy metal, grunge, punk e outros subgêneros da música rock, as rodas surgiram no final dos anos 70 em cidades litorâneas como Long Beach e Huntington Beach. O formato de dança pode ser relacionado ao passo Skanking, propagado entre o gênero reggae nos anos 50 e 60. Acredita-se que os mosh pits poderiam derivar de um skanking mais agressivo. Reza a lenda de que o termo teria nascido em Washington D.C., após o show da banda de rock americana, Bad Brains. Neste, o guitarrista H.R. teria mandando o público dividir-se ao gritar “mash it up”, porém, por conta de seu sotaque jamaicano, o público teria escutado “mosh pit” e iniciado um poço de pessoas se empurrando. 

Apesar das histórias, sua origem permanece incerta. O que se sabe, é que com a chegada da década de 80, houve uma rápida expansão do punk e, consequentemente, da prática pelo país. Em pouco tempo, elas começaram a ser formadas em bares de Boston e Nova York, ao desenvolverem suas próprias variantes regionais. Ao final da década, o punk se preparava para encarar um auge nunca antes visto. E com as rodas, não poderia ser diferente. 

Daniel Pequeno é mestrando em direito e frequentador assíduo de apresentações ao vivo. Tendo participado do Knotfest, um dos maiores festivais de heavy metal do país, contou um pouco sobre como foi a experiência em relação aos mosh pits. “Vi muita gente que parecia estar curtindo a roda pela primeira vez, sempre com estímulo e ajuda dos mais experientes.” Sobre o significado da prática, Daniel também comentou: “A roda pra mim representa duas coisas. Por um lado, um momento de catarse integrada ao espetáculo e a música. Em segundo, tem o significado coletivo da rodinha. Quase como uma dança em grupo, todos na mesma sintonia se divertindo e se expressando.”

Foto: Nobille Kim

Jovens e adultos curtindo a roda punk no Substation Club em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

‘Lenço’, mestre de cerimônias (MC) do Circo Voador, tem a oportunidade de acompanhar diariamente a evolução da cultura da dança em uma das casas de show mais importantes do país. Segundo ele, cada sonoridade musical possui sua linguagem específica, gerando diferentes formas de manifestação. No caso da roda punk, o MC diz ser uma questão de liberar a tensão e o estresse em um momento de divertimento e felicidade. Além disso, percebe um novo movimento relacionado aos moshs: “Existe uma nova geração usando a roda. Então, tem uma apropriação no bom sentido da coisa. É você entender e falar ‘cara, isso é legal’. É um ritual, tem um momento que é dado comando, e um momento da  explosão. Isso é teatral, poético, é bonito perceber esse momento. Parece aquele nome do disco do Rappa, ‘Silêncio que precede o esporro’.”

A prática, apesar de nunca ter sido extinta,  tem voltado a repercutir nas redes sociais, não só pelo efeito visual e impressão que causa, mas por ter sido adotada dentro de novos contextos e outros gêneros musicais. Vídeos de rodas feitas em shows de rap viralizam com frequência e artistas, como o rapper Travis Scott, tornaram isso quase um símbolo de suas apresentações ao vivo. No Brasil, tem-se o exemplo do cantor Major RD, que posta vídeos dos moshs de suas apresentações acompanhados com a frase irônica –  “Desculpe por ter vindo” –  nas legendas. Ademais, festas de gêneros de música eletrônica mais acelerados, a exemplo da “Exportação”, organizada pelo DJ ANTCONSTANTINO, não apenas contam com a prática recorrente da dança, como também tem inspiração direta da sonoridade e a estética do hardcore dos anos 80. 

Calina Merino, estudante de economia e fã da cena de música alternativa, contraria o senso comum ao afirmar que as rodinhas são um lugar de segurança e livre expressão. Para ela, o fato da prática ter nascido em ambientes construídos por camadas marginalizadas da sociedade faz com que esses espaços signifiquem, também, a inclusão em novas dinâmicas culturais. “Existe um senso de comunidade que mantém as pessoas protegidas, principalmente, em eventos menores”.

                                                          Reprodução: Multishow                                                         

Show do Travis Scott no Rock in Rio 2024.

Assim como os punks buscavam uma forma própria de expressão em um movimento incipiente, as novas gerações se inspiram no passado para construir novas práticas e culturas. Atualmente, esse caminho passa por uma tentativa de extravasar os estresses cotidianos de uma contemporaneidade acelerada e nauseante. Seja por onde for, os moshs continuam como parte integral da busca por momentos de liberdade dentro da música. Portanto, fique tranquilo, pois o bate cabeça recebe todos de braços abertos e punhos fechados.

 

Foto de Capa: Luca Alexandre;

Reportagem: Caio Tostes, Davi Magalhães e Luca Alexandre;

Supervisão: Pedro Henrique Mello

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