Crítica: Doutor Gama
Compartilhar
Lançado no último dia 05, o filme “Doutor Gama” conta a história de Luiz Gama, escritor e advogado abolicionista que teve um importante papel na libertação de escravos no Brasil, antes mesmo da formalização da Lei Áurea. Durante o longa, percebemos, de maneira bastante didática, as barreiras e paradigmas sociais que ele precisou quebrar para se firmar em uma sociedade de pensamentos antiquados.
O longa aborda a vida de Gama em três momentos. Na Bahia do século XIX, ele é vendido como escravo, apesar de ter nascido livre, para pagar dívidas de seu pai. Ainda menino, é o seu primeiro contato com a difícil realidade enfrentada pelo povo negro no Brasil. Passam-se alguns anos, e Luís conhece o jovem estudante de direito Antônio Rodrigues do Prado Júnior, que lhe ensina o alfabeto e mostra a ele toda a base que guiaria sua atuação nos anos seguintes. Na terceira e última fase, ele é um advogado experiente se destacando como militante a favor da igualdade racial durante uma época em que o assunto era considerado um forte tabu.
Todos os atores que interpretam o protagonista tem uma boa performance, mantendo a coesão entre os três momentos da narrativa. Pedro Guilherme é o menino, que se desespera clamando pelo pai que vira as costas por dinheiro. Já Angelo Fernandes dá vida a Gama em um dos melhores momentos do filme em que ele vai até o senhor de engenho, assume as rédeas de seu destino e se proclama um homem livre. Na maturidade, César Mello é o abolicionista que descreve em frente a um júri sobre a importância da liberdade, que ecoa como principal mensagem do filme.
A direção de Jeferson De se preocupa principalmente em explicitar a importância de Luis Gama para a equidade racial no Brasil. Nos momentos em que o advogado discursa em frente ao tribunal, é utilizado, com inteligência, o close up no rosto de César Mello, para que nada distraia o espectador da mensagem sendo transmitida. Também contribui para o sucesso do longa, a decisão de filmar boa parte das cenas em Paraty, cidade colonial que colabora para que os tempos do Brasil Império sejam retratados com fidelidade.
O filme, que está disponível no Globoplay e em cinemas selecionados, é uma ótima escolha para aqueles que buscam entender mais sobre consciência de classe, sobre a história do nosso país e sobre o quão importante é lutar pelo que se acredita. Também se mostra relevante à medida que dá destaque sobre a vida de alguém fundamental na trajetória de um povo que passou por tantas dificuldades e que agora têm suas vidas documentadas para que as próximas gerações possam tê-las como aprendizado.
Por: Pedro Ribeiro
Supervisão: Brenda Barros
Imagem: Divulgação