Crítica: Bicho de Sete Cabeças (2001)
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Bicho de Sete Cabeças (2001), é um filme dirigido por Laís Bodanzky, que denuncia os abusos e a desumanização presentes no sistema manicomial brasileiro antes da reforma psiquiátrica. O protagonista Neto, interpretado por Rodrigo Santoro é um adolescente de 17 anos, de classe média-baixa, com conflitos familiares não resolvidos devido a sua personalidade rebelde. O pai reprovava a condição de vida do filho e também da namorada dele. Após ser encontrado com um cigarro de maconha, ele é enviado pela família para um hospital psiquiátrico.
A tentativa de consertar Neto rapidamente se transforma em um pesadelo. Práticas abusivas, violência médica e um sistema que lucra com a repressão ao invés de reabilitar seus pacientes, termina por destruir não apenas sua saúde física e mental, mas também sua identidade.
No filme, o manicômio é visto como um “bicho de sete cabeças” porque, assim como a expressão, o local e o tratamento aplicado são mais complexos e opressores do que a situação parecia inicialmente. A escolha do nome enfatiza o sofrimento gerado por um problema que, em tese, poderia ser resolvido de forma simples, mas se torna um monstro devido à ignorância e falta de compreensão quanto ao problema que busca tratar.
O local em que o protagonista foi internado era repleto de problemas, que passavam desde a arquitetura até os médicos, que eram bastante maldosos com os dependentes químicos. A situação piora ao longo do filme, com os psiquiatras utilizando de métodos questionáveis para tentar reabilitar Neto, como choques elétricos e a aplicação de doses exageradas de medicamentos. O que era para ser um ambiente de cura e reabilitação mostra uma raíz para inúmeras sequelas físicas e emocionais.
O drama, inspirado no livro autobiográfico “Canto dos Malditos” (1990), de Austregésilo Carrano Bueno (1957-2008), apresenta uma crítica aos manicômios e à cultura punitivista da política antidrogas. O espectador é estimulado a reflexões profundas sobre o papel e eficácia dessas instituições, e repensar o tratamento de vícios e condições neurológicas, além de reivindicar mudanças na infraestrutura dos hospitais psiquiátricos.
Crítica: Caio Tostes e Yan Fernandes
Supervisão: Joana Braga e Vinicius Nunes