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A vida noturna no Rio: desafios e oportunidades para quem pensa em curtir a boemia carioca

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A cidade do Rio de Janeiro é conhecida pela cultura da boemia carioca. Em agosto, a capital do turismo brasileiro foi eleita a cidade com a melhor vida noturna do mundo pela revista Time Out Global. A escolha se dá pela preferência de bares como novo ambiente de lazer após o entardecer. No entanto, o Rio sofre com a precariedade da segurança, fator que tem feito a criminalidade aumentar por toda a extensão da Zona Sul e Centro. 

Segundo um levantamento feito pelo O Globo com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), 9a DP, que atende as regiões do Catete, Flamengo e Glória, é a primeira com mais casos de roubo de rua nos sete primeiros meses deste ano. Com 888 registros – 38,5% a mais do que de janeiro a julho de 2023, o roubo de rua configura-se como a junção de ocorrências a pedestres, celulares e a ônibus. O aumento em geral destes crimes evidencia a falta de segurança no cotidiano dos bairros.

Na Glória, o segurança de uma padaria localizada em uma das ruas mais movimentadas do Catete, Vladimir Ribeiro, de 51 anos, cita a falta de policiamento na região, o que traz mais insegurança para os pedestres: “Você não vê um guarda municipal transitando, um ‘Segurança Presente’ passando igual tem no Centro e na Lapa. As pessoas começam a ficar com mais medo de passar a pé por aqui, principalmente à noite”. Além disso, ele comenta sobre o local ser o ponto de estratégia da população: “A primeira coisa que as pessoas fazem é correr pra dentro da padaria para achar um motorista de aplicativo, para se sentir seguro você vem pra cá”. 

A estudante da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-Rio), Daniela Steinberg, de 21 anos, sofreu um assalto do lado do seu carro às 20h.  A jovem foi abordada no local onde costumava estacionar, e diz ter adquirido um novo medo em relação a entrada e saída da faculdade: “Chego sempre antes do horário para que não fique escuro e tenho ido para casa de Uber para não andar até o metrô muito tarde da noite. Não venho mais de carro, e nunca mais vou vir, até que algo seja feito no estacionamento”. 

Uma das áreas mais visitadas na noite carioca é a Lapa, por conta da grande presença de bares e boates renomadas. Nessa região, os dados do ISP mostram que os criminosos atuam por volta de 00h às 3h, e apresentam que os crimes mais cometidos são os de furto a celulares e a indivíduos que passam pela área. O local, que é cada vez mais frequentado, tem se tornado mais suscetível a ocorrências de crimes pela falta de segurança após as noitadas. 

A estudante de direito Beatriz Cunha, de 22 anos, foi assaltada na saída da Fundição Progresso. Ela foi abordada próximo ao posto de gasolina da avenida Mem de Sá por um grupo, e só percebeu o assalto quando avistou a arma do criminoso. “Depois que eu fui assaltada nunca mais frequentei lá, ainda não tenho coragem, mas talvez um dia eu consiga voltar” disse Beatriz sobre o ocorrido.

A situação  tem preocupado moradores e visitantes da Glória. Entre as medidas de resolução para o problema, está a chegada do programa “Bairro Presente” da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Inaugurado oficialmente em 2021, o programa inclui mais de 50 módulos, e a unidade na Glória foi iniciada em julho de 2024.

A base do programa fica no Largo da Glória, próximo a diversos comércios e um grande fluxo de pessoas. Dentre algumas medidas, o programa estabeleceu o objetivo da implementação de viaturas operacionais 24h por dia para reforçar a segurança ostensiva do território.

Outro fator que os visitantes relatam ao frequentarem a vida noturna do Rio são seus preços locais. Por ser um ponto turístico, seus valores não se adequam, muitas das vezes, aos bolsos dos moradores da região, que escolhem curtir suas noites em outros pontos da cidade, com preços mais acessíveis.

Para a mercadóloga Luena Teodoro, de 28 anos, as atividades turísticas acabam não sendo pensadas para os moradores do Rio de Janeiro e sim para os estrangeiros, principalmente os  seus preços. Ela comenta sobre a necessidade de programas que convidem mais os moradores da zona norte, que são cariocas, mas nunca puderam ter acesso ao Pão de Açúcar, Cristo Redentor, e outros pontos do Rio.

Luena reforça que o Rio é, na sua visão, a melhor noite do mundo, pela versatilidade de festas para diversos públicos e sua ampla cultura. “Se você for viajar a vários lugares do mundo, a noite acaba meia-noite, duas da manhã… Aqui se você quiser rodar até sete horas da manhã, ver o pôr do sol, vai ter lugares que vão te acolher, sabe? A galera é muito receptiva.”

Capa: Maria Vitoria Hucs

Reportagem: Julia Mota, Maria Vitoria Hucs e Kaylane Pedroso

Supervisão: Carolina Dorfman e Vinicus Nunes