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Violência nas escolas: fatores que influenciam o crescimento dos ataques

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Nos últimos 15 dias, pelo menos quatro casos de violência em escolas do Brasil foram registrados. A Escola Estadual Thomazia Montoro em Vila Sônia (São Paulo), a Creche Cantinho Bom em Blumenau (Santa Catarina), o Instituto Adventista em Manaus e o Colégio Estadual Marco Aurélio em Santa Tereza de Goiás, são alguns dos locais em que aconteceram os atentados. Uma pesquisa do relatório “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação govenamental” registrou 22 tentativas de ataques as escolas no ano passado.

Nathália Soares, professora e doutora em políticas sociais, afirma que o aumento da violência é multifatorial. Apesar de reconhecer a influência da cultura estadunidense e a importação de determinados valores, ela afirma que o Brasil nunca teve uma cultura pacífica e, nos últimos anos, movimentos de extrema-direita responsáveis pela propagação de discursos de ódio e pelo culto à violência se fortaleceram. “Comecei a dar aulas no Estado em 2015 e o cenário polarizado já dava indícios do que estava por vir. Em 2016/2017, alguns alunos começaram a se sentir confortáveis em destilar ódio e cometer bullying […] Foi um contexto em que nos sentimos engolidos por uma onda, era como nadar contra a correnteza. Os alunos, quando percebiam que defendíamos os Direitos Humanos, ironizavam dizendo ‘B17’” – relata a professora.

Ao analisar as recentes ocorrências em escolas pelo Brasil, é possível identificar uma similaridade no perfil dos autores dos ataques. Em sua maioria, eles são homens ou adolescentes brancos, integrantes de fóruns ou grupos supremacistas que estimulam a atuação violenta e, em geral, portadores de algum transtorno psicológico não tratado. 

Familiares das vítimas e testemunhas afirmam que os terroristas praticavam bullying, racismo, homofobia e outras formas de preconceito antes de realizar os ataques nas instituições. Nessa questão, a psicóloga Nathalia Fatigatti afirma que esse fenômeno aparece como uma manifestação do adoecimento da masculinidade construída no país, sobretudo durante o último governo, cujos valores são de dominação, destruição e agressividade. A psicóloga também acredita que o ideal a se fazer é buscar compreender as emoções desses indivíduos desde a infância, visando o desenvolvimento de ferramentas indispensáveis para a convivência social. 

Além disso, o governo se responsabiliza pela criação de medidas contra esses atentados na esperança de contê-los e normalizar o convívio nesses ambientes que, uma vez destinados à educação de crianças e jovens, agora são alvos de violação. Na última quinta-feira, o presidente Lula, por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, lançou a Operação Escola Segura, iniciativa que previne e combate a onda de atentados, em parceria com as forças de segurança dos estados.

Já no estado do Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro anunciou no final de março a criação do aplicativo “Rede Escola”, que pode ser usado nas redes pública e privada para contactar a polícia por meio de um botão de emergência. O programa, que ficará pronto para uso em 30 a 60 dias, é uma medida que faz parte da criação de um Comitê Permanente de Segurança Escolar, que coordena políticas de proteção aos alunos dentro e fora das escolas.

No entanto, Nathália Soares afirma que as ações governamentais, apesar de legítimas, devem ir além do caráter emergencial. Dessa forma, ela reitera a importância da disponibilidade de psicólogos e assistentes sociais dentro das instituições, além da abordagem coletiva da cultura da não-violência para que se ataque as múltiplas causas do problema. 

Reportagem: Joana Braga, Maria Eduarda Reis e Pedro Mello

Supervisão: Gabriel Rechenioti e Júlia Vianna

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