Victoria’s Secret: uma marca que tenta se reinventar em meio ao caos
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A grife californiana de acessórios e roupas íntimas femininas, Victoria’s Secret, se consagrou no mercado da moda como uma das melhores do mundo, sendo a queridinha das capas de revista e das passarelas. Porém, todo esse brilho e glamour não durou por muito tempo. Apesar de fazer grande sucesso por quase 20 anos, a marca não se reinventou em tempos digitais, foi seguindo uma fórmula ultrapassada, desgastada e problemática, levando a si própria ao declínio e quase à falência.
A empresa não foi capaz de entender as mudanças da sociedade ou o próprio espírito do tempo. Em 2018, a marca praticamente sumiu de cena, promovida pelas críticas do movimento contra o assédio sexual e agressões sexuais, #MeToo, sobre a falta de diversidade de corpos, tons de pele, a imposição de padrões e a hipersexualização das modelos nas passarelas dos desfiles. No mesmo ano, houve uma queda anunciada pela própria VS de 41% nas suas ações devido a baixa quantidade de vendas e 30 lojas da marca foram fechadas. Devido às diversas acusações de assédio contra modelos em 2019, Ed Razek, criador das Angels e um dos principais executivos da empresa até então, é demitido e a marca retorna ao mercado de lingeries com uma nova abordagem mais inclusiva.
Foto: Reprodução / Instagram @realbarbarapalvin
Muitos se questionaram se essa nova identidade da grife era genuína ou só mais um ato desesperado dela de não ir à falência total. Bianca Dramali, professora de Marketing na ESPM Rio, explica que um processo de mudança de imagem de uma empresa vai muito além de uma só campanha: “Precisa ser diário. Em cada pequena atitude ou grande decisão. Da área de estilo, passando pelo marketing até a frente de loja. Precisa ser do CEO ao Estagiário. Caso contrário, será apenas mais um movimento de “brandwashed” (quando uma empresa altera todo o marketing e imagem da sua marca para ‘apagar’ a imagem negativa que possuia) e vai se esvaziar com tempo.”
A nova campanha da grife é focada na produção de peças para corpos reais, como os de gestantes, mães que deram à luz recentemente, mulheres plus size e adolescentes. A importância dessa inclusão na marca é fundamental para que as mulheres se sintam acolhidas, que vejam seus corpos nas vitrines usando essas roupas e também se sentirem confortáveis com elas. Fazendo com que o foco da marca seja sobre o que as mulheres querem vestir e não o que os homens querem que elas vistam.
Foto: Reprodução / Instagram @victoriassecret
A representação desses diferentes corpos na mídia é fundamental, é mostrar para as jovens mulheres que não precisam se encaixar nesses padrões irreais que até então eram apresentados nas passarelas. Para a modelo Ana Luisa Dantas, isso é fundamental: “Acho essencial para o crescimento da nossa sociedade, essas mudanças serem feitas. O corpo feminino nunca foi de maioria magro, um corpo saudável não precisa ser necessariamente um corpo ‘padrão’ da sociedade e é muito importante que exista essa renovação em todas as empresas do mundo para mostrar isso.”
A estudante de moda Anna Beatriz Amaral, completa falando sobre o impacto negativo que uma marca pode trazer ao promover o ‘culto’ dos corpos magros e como isso afeta o seu público-alvo: “Imagina você desejar ter algo de uma marca que acompanha e, quando chega para comprar, não tem seu tamanho? Ou, ao vestir, você percebe que ficou totalmente diferente daquela modelo que viu na passarela? Isso não combinava mais com a moda.”
Foto: Reprodução / Instagram @victoriassecret
Foi anunciado em fevereiro deste ano que a marca fechou contrato com sua primeira modelo com síndrome de down, a Sofia Jirau, de 24 anos, sendo um passo muito importante para a inclusão de todos os tipos de meninas e mulheres. Além disso, estão sendo feitas diversas campanhas nas redes com modelos plus e mid size, o que não era visto antes. Depois da demissão do Ed Razek da direção criativa, Raul Martínez assumiu e está trazendo um trabalho muito positivo desde a Love Cloud Collection (primeira campanha de inclusão da Victoria’s secret) até agora e a esperança é que ele e a marca cresçam muito mais no mundo da moda.
Reportagem: Fabiano Cruz, Lorenna Medeiros e Sarah Soares
Supervisão: Brenda Barros
Crédito da foto de capa: via instagram da Victoria’s Secret