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“Retratos Fantasmas”: novo filme de Kleber Mendonça Filho ressalta a importância dos cinemas de rua

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“Retratos Fantasmas”, o mais recente longa-metragem do diretor Kleber Mendonça Filho, estreia nesta quinta-feira, após uma semana intensa de pré-estreias no Rio de Janeiro. A maratona de exibições começou no dia 16 com sessão no histórico cinema Odeon, e seguiu nos dias 17, no Estação Net Botafogo, e dia 18, no Cine Arte UFF, em Niterói.

A partir de diversas imagens de arquivos do centro de Recife, o filme conta a história dos cinemas de rua da capital pernambucana. O diretor também usa registros pessoais para falar do seu amor pelo cinema e pelas salas de cinema. O longa teve sua primeira exibição em maio deste ano no Festival de Cannes, na França, onde Kleber já esteve anteriormente com “Aquarius” e “Bacurau”. No Brasil, sua estreia foi no Festival de Gramado no dia 12 de agosto. Também durante este mês, a produção começou a campanha para ser o representante brasileiro no Oscar do próximo ano.

Em entrevista exclusiva para o Portal de Jornalismo da ESPM Rio, Kleber afirma que não pensou nesse trabalho como um documentário. “Eu sabia que ele seria visto como um documentário, mas eu não disse “Meu próximo filme é um documentário”. Eu acho que filmes são em primeiro lugar filmes. Depois você tenta colocar em uma caixa”, disse. “Eu adoro que em ‘Bacurau’ as pessoas não sabem o que fazer com o filme. As pessoas falam que não entendem se é um drama rural, um western, uma ficção científica. Eu acho ótimo isso”, completa.

Kleber Mendonça Filho (ao centro) durante o debate de “Retratos Fantasmas” no Cine Arte UFF mediado pelo professor João Luiz Vieira (à esquerda) (Foto: Bernardo Erthal)

 

O principal tema tratado pelo filme é a falta de preservação desses cinemas de rua. “É muito importante que cidades e governos salvem ou resgatem espaços históricos que foram uma vez dedicados ao cinema. Eu não acredito na volta de cinemas do passado enquanto salas comerciais. Isso não vai acontecer. Mas eu acredito no resgate de lugares históricos e restaurados para serem transformados em cinemas como esse aqui (o Cine Arte UFF). Cinemas de formação de público, de política, de inclusão, de diversidade. No filme eu falo que uma sala como essa constrói caráter e eu realmente acredito nisso”, afirmou.

De acordo com o site Filme B, o Brasil terminou 2022 com 3.366 salas de cinema. Segundo a ANCINE (Agência Nacional do Cinema), apenas 17% não estão em shopping centers. No Rio de Janeiro, o cenário não é diferente. O bairro de Botafogo concentra a maioria delas: o Estação NET Rio, o Estação NET Botafogo e o Espaço Itaú de Cinema. A jornalista e professora da ESPM Rio Talitha Ferraz tem os estudos de cinema de rua como uma das suas principais linhas de pesquisa. Ela afirma que a situação piorou após a pandemia, mas alguns cinemas conseguiram resistir. “O Estação é um cinema de rua importante, que tem sessões de filmes que muitas vezes eles não podem ser assistidos nos grandes multiplexes. É um dos lugares no Rio de Janeiro que você consegue assistir a filmes que, em geral, você não tem como encontrar nos grandes multiplexes dos shoppings”, disse ela que mediou o debate de “Retratos Fantasmas” em Botafogo.

Em 2021, o Estação NET Rio sofreu a possibilidade de fechar. O Grupo Severiano Ribeiro, proprietário do espaço, intimou o Grupo Estação alegando a falta de pagamento do aluguel desde o início da pandemia, em março de 2020. A partir disso, um grupo de frequentadores protestou contra o fechamento, iniciando um movimento chamado “Salve o Estação”. Em abril de 2022, a ordem de despejo foi revogada e a renovação do contrato foi feita. Além dos cinemas de Botafogo, são poucas as salas de rua em funcionamento na cidade: o Cine Santa Teresa, no Centro; o CineCarioca Méier, na Zona Norte; e o Kinoplex São Luiz e o Kinoplex Leblon Globoplay, na Zona Sul. O Odeon, onde “Retratos Fantasmas” fez sua primeira pré-estreia no Rio, só está funcionando para eventos e festivais de cinema.

Com mais de sete salas, Copacabana já foi uma das áreas com maior concentração de cinema de rua. Em 2021, o bairro perdeu o seu último cinema comercial, o Roxy. Na época, o Kinoplex, empresa que administrava o cinema, lamentou o fechamento alegando que a decisão foi pautada nos resultados que o cinema vinha apresentando. Em agosto deste ano, anunciaram a volta do Roxy como uma dinner show, ou seja, uma casa de show de luxo. A entrada custará R$480,00 com “uma experiência completa”: jantar com entrada, prato principal e sobremesa, e um show em sequência. Também em Copacabana, o Cine Joia reabriu em maio, após receber propostas para virar igreja e farmácia. No entanto, a ideia é que não exiba filmes do circuito comercial. Com a exibição de filmes clássicos e considerados cults, o foco é o público idoso.

Talitha afirma que a presença de salas de cinema não é boa apenas para os seus frequentadores, mas para todo o comércio da região. “Se não fossem os cinemas naquela região, de Botafogo, talvez não tivesse tantos bares, uma Livraria da Travessa. Então, você tem uma certa ocupação espacial e uma justificativa para que as pessoas ocupem esses espaços, justamente porque há a presença de cinemas de rua, que estão colocados ali”.

 

Reportagem: Bernardo Erthal e Pedro Zandonadi

Supervisão: Lorenna Medeiros e Pedro Zandonadi

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