O “Boom” dos reality shows de culinária e o impacto na gastronomia
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Nos últimos anos, os programas de competição culinária se tornaram uma opção popular na televisão brasileira. Segundo dados da Kantar Ibope Media, o programa “Masterchef Brasil” exibido pela Band, teve um aumento de 20% em sua audiência em 2020, em comparação com o ano anterior. Além disso, o lançamento de programas como o “Mestre do Sabor” pela Rede Globo, “Top Chef Brasil” pela Record e o “Cozinhe se Puder” pelo SBT, escancaram a relevância e a audiência que os realitys do gênero têm. O “boom” desses reality shows levou a um aumento na demanda por chefs de cozinha e uma mudança no cenário da culinária no país.
De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), houve um aumento de 60% no número de pessoas que procuraram cursos de gastronomia nos últimos anos. Giulia Mariah, graduada na área, explicou que os programas tiveram impacto direto na sua formação. “Sempre assisti, e na verdade acho que foi o que despertou meu primeiro interesse pela cozinha. Os programas em geral trazem uma visão mais lúdica da cozinha, que dá vontade de estar lá.”
A popularidade desses programas também tem incentivado muitas pessoas a cozinhar em casa e experimentar novas receitas. De acordo com um estudo da empresa de pesquisa Euromonitor International, o mercado brasileiro de alimentos e bebidas cresceu 3,8% em 2020, impulsionado pelo aumento da demanda por produtos relacionados à culinária.
Anderson Lima é um cozinheiro amador que começou a se aventurar no mundo da culinária a partir dos reality shows de gastronomia:“O MasterChef e os programas de gastronomia fazem parte do meu dia a dia, e eu comecei a replicar os pratos que eu via na TV”, ele conta. O cozinheiro se sente inspirado para reproduzir em casa as comidas preparadas pelos chefs:“Antigamente eu preparava coisas rápidas e práticas só para me alimentar, mas desde então, tenho me dedicado mais e valorizado o momento da refeição, com pratos saborosos que eu vejo no programa e também fico com vontade de comer”.
Além disso, os programas também impactam os participantes. Muitos desses novos chefs ganham reconhecimento do público, contratos de patrocínio e oportunidades de abrir seus próprios restaurantes. Existem diversos participantes que não venceram a competição, mas que mesmo assim, conseguiram ter sucesso na carreira. A chefe de cozinha, Heaven Delhaye, estava entre os três finalistas da edição de 2018 do MasterChef, e mesmo sem ser campeã, conseguiu destaque dentro da profissão e hoje conta com três restaurantes na cidade do Rio de Janeiro.
Apesar do sucesso desses programas, alguns críticos argumentam que eles podem distorcer a realidade da culinária e colocar muita pressão sobre os participantes. Alguns chefs também acreditam que a glamourização em excesso e a falta de sabor nos pratos são um problema que os programas causam. Vanessa Vagnotti, participante das edições de 2016 e 2019 do MasterChef, alertou sobre esse problema. “Ao mesmo tempo que as pessoas querem ‘gourmetizar’ demais, o que eu acho uma grande bobagem, reproduz-se uma ideia de muito conceito e pouco sabor”, explicou a chef.
A supervalorização da questão visual na gastronomia é um dos principais problemas acarretados pela febre dos realitys. Para Vanessa, o sabor segue sendo o componente protagonista e o que caracteriza um prato como bom. Apesar de muitas pessoas “comerem com os olhos” segundo a chef, nada supera o tempero e o gosto ao experimentar e avaliar uma comida.
Reportagem: Guilherme Dias e Arthur De Castro
Supervisão: Gabriel Rechenioti e Júlia Vianna