México
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“O presidente ter contrariado as ordens da OMS é uma grande vergonha e a maioria dos mexicanos também sentem o mesmo”. (Cristiano Moraes)
O México, na última quinta-feira (26) declarou Estado de Emergência apesar de o presidente, Andrés Manuel López Obrador, ter contrariado as recomendações da OMS e se declarado contra a quarentena. O líder mexicano justificou que sua fé o protegia e, em seguida, mostrou imagens de santos católicos para a imprensa. No entanto, uma semana depois, ele muda sua posição e afirma estado de emergência. Segundo dados do Ministério da Saúde do México, o sistema hospitalar local possui 121.400 leitos para atendimento médico de mexicanos. Isso significa que existem 94 camas para cada 100.000 habitantes. Além disso, foram confirmados 1.094 e 28 mortos pelo novo coronavírus. Com isso, entrevistamos o brasileiro Cristiano Moraes da Silva, 45 anos, executivo de uma Multinacional Suíça, que mora na Cidade do México há um ano.
Portal: Como era sua rotina antes do coronavírus?
Cristiano: Eu faço prospecção comercial e sou responsável pela atividade comercial da empresa na américa latina. Além disso, faço visitas, reuniões, apresentações, lido com clientes, assuntos de negócio. Minha base já era em casa, porque trabalho de “home office” há muito tempo. Tinha uma rotina de viajar bastante, então viajo muito pela América Latina. No Brasil, Colômbia, Chile, Caribe, Porto Rico, América Central, Panamá e isso foi impactado. Minha atividade de viagens era alta e, óbvio que com o surgimento da pandemia, isso foi alterado.
Portal: Após o presidente do México ter declarado estado de emergência, como está a sua nova rotina?
Cristiano: Eu já trabalhava em casa, então não foi um grande desafio. Minha esposa é professora e teve início da quarentena junto com as crianças. Estamos bem, já adaptados. Mas, estamos sendo um pouco mais rígidos do que a maioria da população, não saímos nem para compras e farmácia. Estamos comprando pela internet e delivery. Evitando ao máximo de sair de casa. Estamos fazendo exercícios físicos em casa também.
Portal: Como foi a repercussão após a abordagem contraditória do presidente Andrés Obrador?
Cristiano: Depois do pronunciamento do presidente do México, o Sr. Obrador, as coisas realmente melhoraram. Havia uma contradição entre o que o presidente falava e o que seus ministros e assessores orientavam, inclusive com orientações mais técnicas, seguindo recomendação dos órgãos internacionais. Os ministros seguiram isso mas ele tinha uma visão diferente. No início da semana ele saiu, fez comício e disse para população que não era nada, sobre beijo, abraço, ele disse que não passava nada, “coisa normal”. Agora, com o presidente de acordo com seus ministros, estão decretando o fechamento dos departamentos públicos, dos serviços não essenciais, a rotina começa a fazer mais sentido. Antes tinha um grupo que parava, outro grupo que ia às ruas, e agora há um consenso, então essa semana já vejo a atividade nas ruas e das pessoas, reduzida.
Portal: Como está o movimento nas ruas?
Cristiano: Com a recomendação da quarentena feita na sexta-feira, o povo acatou bem. Eu moro perto de um bairro movimentado e agora vejo uma redução do volume de pessoas e carros na rua. Agora sim vejo que o povo mexicano segue o que os países da Europa estão fazendo.
Portal: O que você acha sobre o presidente ter contrariado as orientações da OMS?
Cristiano: Acho uma lástima e uma vergonha para todos, independente de ser estrangeiro ou mexicano. É visto um desalinhamento, um discurso populista baseado em opiniões e sentimentos e não em decisões técnicas, sem amparo técnico e com falta de racionalidade. O presidente ter contrariado as ordens da OMS é uma grande vergonha e a maioria dos mexicanos também sentem o mesmo.
Portal: A população está reagindo de que maneira? Estão havendo manifestações?
Cristiano: Até agora está tudo pacífico, sem manifestações.O povo mexicano é muito pacífico e agradável, então eles estão seguindo a orientação, estão indo bem em relação a isso. As escolas, trabalhos e funcionários públicos também acataram.Também tem um grupo muito grande da população economicamente ativa, como trabalhadores autônomos e domésticas, que está sofrendo bastante por depender do dia a dia para sobreviver.
Portal: Quais medidas você e sua família estão adotando para prevenir o contágio?
Cristiano: Aqui em casa, assim que começamos a ver um movimento na Europa mais forte, já iniciamos as medidas mais fortes. Já tínhamos os hábitos, por ter passado pelo H1N1, como o uso de álcool em gel. Então, não foi difícil implementar as medidas. A gente antecipou um pouco a decisão do governo de fazer quarentena por conta própria, em sequência, a própria escola já orientou permanecer em casa, antecipando as férias e, agora, dando as aulas por plataformas online. Nossa família começou 3 dias antes do pronunciamento oficial a quarentena.
Reportagem: Ana Júlia Oliveira, Gabriel Lorenzo, Leo Garfinkel, Lucas Geia, Maria Luísa Martins e Paola Burlamaqui