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Entenda o que é dolarização, proposta de Javier Milei, ganhador das primárias na argentina

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O candidato de extrema direita Javier Milei, venceu as eleições primárias da Argentina, neste último domingo (14). Esse resultado não tem consequências práticas, e as eleições oficiais estão marcadas para o dia 22 de outubro. Milei defende uma política econômica radical. A medida que chama mais atenção é a dolarização da economia argentina. Caso aprovado, o projeto pode acabar com o uso do peso no país e a moeda oficial seria o dólar americano. 

O processo eleitoral na Argentina prevê as Primárias Abertas Obrigatórias Simultâneas (Passo), uma simulação das eleições. Os vencedores não garantem nenhum cargo, porém assumem o favoritismo para a votação oficial, que este ano acontecerá em seis semanas. Apesar de ser obrigatório, apenas 69% dos eleitores foram às urnas, segundo relatório da Câmara Nacional Eleitoral.

Propostas econômicas de Milei

A dolarização é o processo de vinculação da moeda local ao dólar, neste caso, o peso argentino. Porém existem várias modalidades para essa conexão, o plano de Javier Milei é o mais “agressivo possível”. Para o candidato, a moeda oficial  da Argentina seria o dólar americano, que supostamente, traria mais credibilidade e estabilidade. Essa também seria uma forma de controlar a inflação, pois o aumento dos preços passaria a ser atrelado à economia dos Estados Unidos.  

Porém, de acordo com o Professor de economia da ESPM, João Branco, essa política também tem um lado negativo que não pode ser ignorado. “A primeira desvantagem é que você perde a autonomia sobre a política monetária do seu país”. Em uma situação de crise extrema, qualquer país pode desvalorizar sua própria moeda para atrair investimento externo, e assim ter mais dinheiro circulando na economia. 

Além da falta de autonomia, para João Branco a Argentina teria muita dificuldade para implantar o dólar como moeda oficial, devido à falta de estoque do dinheiro americano. “O Banco Central Argentino tem um nível de reserva muito pequeno. E a moeda estrangeira que tem, está com as pessoas de uma maneira geral”. Com isso, devido à crise econômica e a desvalorização do peso argentino, a população usa o dólar como reserva financeira e o dinheiro não circula na economia. 

Foto:Diego Giudice/Bloomberg

A Argentina já tentou uma política econômica de dolarização parecida no passado. Durante a gestão do Ministério da Economia por Domingos Cavallo (1991-1996), a paridade do peso argentino com o dólar já foi utilizada. João Branco destacou que a principal diferença entre a política dos anos 90 com a proposta do Milei é a taxa de câmbio. “Naquela época, eles tinham uma livre conversibilidade do peso ao dólar. Então, existia uma taxa de câmbio fixa. [..] Então você podia trocar livremente seus dólares por peso ou seus pesos por dólares. A economia naquele momento ficou totalmente atrelada à moeda americana, embora funcionasse em pesos.” 

Hoje, a situação da economia argentina é caótica, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina (Indec), a inflação no país no último mês de julho foi de 113,4%. Número que representou uma queda em relação aos 115,6% de aumento de preços registrado em junho. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), mostra o crescimento acentuado do custo de vida na Argentina nos últimos anos.

Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina (Indec)

 

 A ascensão da extrema-direita no país 

Argentina é mais um país em que a extrema-direita encontra terreno fértil para o seu avanço. Países europeus como a Itália, a Suécia, a Polônia e a França são exemplos recentes onde políticos dessa ideologia assumem ou ficam próximos do poder. Na América Latina, o presidente de esquerda do Peru, Pedro Castillo, sofreu impeachment em dezembro do ano passado. Já no Paraguai, o conservador Santiago Peña venceu as eleições presidenciais. Algo semelhante ao Brasil em 2018, quando Jair Bolsonaro chegou ao poder. Nem a eleição de Lula em 2022, não impediu que o congresso mantivesse o perfil conservador. Para o cientista político Matheus Braga, há semelhanças entre todos esses países. “Na Argentina, por exemplo, há uma crise. Esses momentos criam um ambiente propício para a extrema-direita pelo seu discurso de manutenção da ordem e da segurança”, disse. 

Foto: Alejandro Pagni/AFP

Outra semelhança entre Javier Milei e o ex-presidente do Brasil é o seu discurso se apresentando como uma novidade na política e anti-sistema. Milei iniciou a sua carreira política em 2021, quando se elegeu deputado em seu país. Ele se apresenta como anarcocapitalista, que se caracteriza por ser uma vertente extrema do liberalismo. Segundo Matheus, a ideologia começa a surgir no mundo pós-crise de 29 quando muitos teóricos entendiam que o liberalismo havia acabado. “A partir disso, começa a disseminação dessa ideia, que é o entendimento que o Estado deve ser abolido e que a propriedade privada tem que estar acima de tudo”, completa. 

No Brasil, o anarcocapitalismo começou a ganhar projeção em 2014 através de canais de Internet com ideias radicais. Ano passado, Paulo Kogos, assumidamente anarcocapitalista, se candidatou para o cargo de deputado eleitoral por São Paulo. Mesmo não tendo sido eleito, ele teve mais de 33 mil votos e foi o mais votado do seu partido, o PTB.

 

Reportagem por: Bernardo Erthal e João Scistowicz

Supervisão: Heitor Leite e Vitor Renato

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