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As plataformas de streamings estão acabando com o cinema?

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Nos últimos anos os serviços de streaming como Netflix, Prime Video e Disney+ estão em uma crescente, e, dentro da indústria cinematográfica, existe um debate sobre essas novas formas de consumir conteúdo audiovisual. Um dos principais argumentos é que essas plataformas estão essencialmente acabando com a experiência de ir ao cinema. Isso ficou evidente quando Dennis Villeneuve, diretor de “Duna”, afirmou que assistir seu filme na televisão é “ridículo” e tira da “experiência de assistir na telona”.

A indústria do cinema passa por um período de grande pressão devido à competição contra esses serviços, no entanto, também é preciso considerar que ela acabou de sair de um período de pandemia, onde, como praticamente todas as indústrias, sofreu um forte impacto devido à implementação das regras de lockdown. De acordo com o site BoxOfficeMojo, entre 2019 e 2020, primeiro ano da pandemia, ocorreu uma diminuição de quase 81% com relação à bilheteria mundial total.

Até 2019 a bilheteria mundial anual se mantinha estável na faixa de 11 bilhões de dólares. Também vale destacar que, em novembro deste ano, foram lançados os serviços HBO Max e Disney+. Porém no ano seguinte, houve uma queda brusca no box office alcançando apenas 2 bilhões de dólares, isso ocorreu pois, além da inclusão desses novos serviços, também teve o início da pandemia da Covid-19. Com a diminuição das regras de lockdown, ocorreu um aumento de aproximadamente 112%. Já em 2022, alcançou 7 bilhões de dólares, no entanto, ainda não voltou a alcançar seus valores anteriores.

O professor do curso de cinema da ESPM-Rio, Pedro Butcher, acredita que essa bilheteria mundial está ligada com o circuito de filmes dos Estados Unidos ao redor do mundo, e questiona como seria possível obter os dados de todos os filmes, em todos os cinemas, em todos os países. Além disso, ele ainda completa que o cinema estadunidense preenche uma grande fatia desse mercado, mas não é tudo: “Cada país está tendo uma reação diferente, não tem como ter tanta certeza dessa resposta uniforme em termos globais.”

De acordo com o sistema de acompanhamento da distribuição em salas de exibição da Ancine (SADIS) e o Sistema de Controle de Bilheterias, no Brasil, a queda de renda foi bastante significativa entre 2019 e 2022, com um declínio de 64%. Isso ocorreu apesar de, no ano passado, os cinemas já estarem liberados e sem nenhum tipo de restrição. O que indica uma mudança no hábito de ir ao cinema, no sentido que, as pessoas continuam optando por serviços de streaming, com seus números de inscritos aumentando a cada ano. 

Segundo Philippe Leão, professor de cinema e associado da Abraccine, as bilheterias voltarão a se estabilizar, porém, não como era antes, pois a pandemia acelerou uma nova forma de consumo onde não é necessário haver deslocamento para cumprir a demanda. “A tendência é que as salas de cinema tenham que superar esse desafio buscando uma experiência diferente daquela que a casa do espectador poderia oferecer”, completa Leão.

Outra forma que serviços de streaming estão “roubando” espectadores das salas de cinema, é através de parcerias com estúdios. Como por exemplo, o HBO Max criou a campanha “Do Cinema Para a Sua Casa”, onde a plataforma traz os mais novos lançamentos da Warner Bros. e de outros grandes estúdios pouco tempo depois de chegarem ao cinema. Além disso, o Disney+ também criou o “Premier Access”, que permite alugar os filmes da empresa pelo streaming no mesmo dia do lançamento nos cinemas.

A tendência é que, ao invés de ser uma questão de retomar sua liderança sobre o mercado, as salas de cinema terão que focar em manter uma certa estabilidade. Pois, enquanto o box office mundial sofreu um grande declínio nos últimos anos, a soma do número total de assinantes dos 5 principais serviços de streaming aumentou em quase 4 vezes, entre 2017 e o primeiro quarto de 2023. 

Segundo Philippe Leão, o crescimento dos streamings é natural no atual momento e nos próximos anos, porque o mercado tende a centralizar a lógica de consumo. As pessoas atualmente ficam em casa com celular para pedir comida no aplicativo, comprar um livro ou uma roupa pela internet, e assistir um filme tal como no Shopping center. 

Os dois entrevistados afirmam que os streamings não vão acabar com o cinema, pois ambos concordam que historicamente a sétima arte sempre soube se reinventar. Para eles, o cinema possui uma história de mais crises do que uma constância, então, é um processo comum por parte dessa indústria ter que romper com a lógica que ela produzia antes, para assim surgir algo novo.

 

Reportagem: Lucas Moll e Vitor Miguel

Supervisão: Heitor Leite

Imagem de capa: Blog do Rodman

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