As dificuldades dos motoristas de aplicativo no Brasil
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Na última segunda-feira (15), motoristas das empresas Uber e 99 Táxi declararam uma greve parcial em todo o Brasil. Apesar do aumento do preço das corridas para os passageiros, os motoristas contestam a ausência de reajustes na tarifa desde 2016. Segundo uma estimativa da Associação dos Motoristas de Aplicativos (AMA-SP), aproximadamente 65% da categoria aderiu ao movimento em busca de melhores condições de trabalho, maior valor por quilômetro rodado e aumento da tarifa mínima da corrida.
O motorista de aplicativo William dos Santos afirma que as corridas são muito baratas e que os gastos para manter o carro são maiores do que ele recebe. “O Uber não escuta os motoristas, eles não tem noção do que é manter um carro na rua. O combustível está caro, o pneu mais barato custa em torno de R$200,00, mas o aplicativo não vê dessa forma. Pelo contrário, constantemente colocam promoções para os passageiros.”
Apesar dos pontos negativos, William reconhece os benefícios desse tipo de trabalho. Em seus 12 anos de volante, o motorista, que já trabalhou como cobrador de ônibus e office boy, afirma que o trabalho autônomo lhe permite uma maior flexibilidade. Ele lamenta as dificuldades enfrentadas e a subvalorização do serviço prestado, mas considera positivo “ser seu próprio patrão” e poder decidir sobre o horário do expediente e sobre os locais que irá entrar, por exemplo.
No Brasil, os altos índices de desemprego determinam a entrada dos trabalhadores no mercado de trabalho informal. No primeiro trimestre de 2023, a taxa média de desemprego subiu a 8,8%, totalizando aproximadamente 19 milhões de novos desempregados. Na Sondagem do Mercado de Trabalho, realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas entre novembro e dezembro de 2022, cerca de 32,1% dos trabalhadores confirmaram que tiveram o desemprego como principal motivação para se tornarem autônomos.
Karla Gobo, doutora em Sociologia pela UNICAMP e mestre em Ciência Política pela USP, afirma que, além do cenário empregatício, as novas tecnologias também favorecem a substituição de postos de trabalho e a consolidação dos empregos informais, que sofrem com a falta de organização e representatividade da classe. Karla pontua que esse movimento não depende só dos trabalhadores, sendo trivial a participação do Estado.
A socióloga ainda reconhece a necessidade de apresentação de projetos de lei que visem a formalização desse tipo de trabalho no Brasil. Para Karla, após a implementação de novas regulações, é dever do judiciário fiscalizar e punir as plataformas que não cumprirem as demandas do Estado brasileiro. “O que vejo é que sem a regulamentação clara desses serviços, os trabalhadores continuarão a ser o elo mais fraco dessa cadeia, expostos a péssimas condições de trabalho e baixos salários.”
Reportagem: Julia Bento, Maria Eduarda Reis e Thiago Vivas
Supervisão: Heitor Leite e Júlia Vianna