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Liga das Nações: Cem anos do embrião da nova diplomacia internacional

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Reportagem de Yuri Murta

O que mudou nos últimos 100 anos? Diversas ideias e pensamentos foram transformados no mundo, dentre eles, as relações dos países com suas formas de conquistar seus objetivos. Hoje, Estados conversam e negociam de forma diplomática acordos e tratados dos mais variados temas, em grandes reuniões nas unidades da Organização das Nações Unidas. Isso tudo apenas foi possível graças à uma reunião ocorrida em Versalhes, França, no dia 28 de abril de 1919. Neste dia, foi idealizada a Liga das Nações, primeiro órgão internacional que visava reunir o número máximo de países em busca da paz no mundo.

A criação do grupo se baseou nos 14 pontos de paz propostos por Woodrow Wilson, presidente americano daquela época. As ideias surgiram no período após a primeira grande guerra e possuíam o objetivo de proteger a sociedade de um novo conflito internacional de imensa proporção. “A liga das nações foi criada no cenário pós primeira guerra mundial e foi o primeiro organismo multilateral, que contou com a participação de países de vários continentes, cujo o objetivo era reorganizar as relações internacionais e criar as bases para a manutenção de um cenário mais pacífico” define Andre Sampaio, professor de história, sobre a idealização e o objetivo do organismo.

Salão dos Espelhos, local onde ocorreu a reunião que idealizou a Liga das Nações. Foto: Yuri Murta

Apesar da existência do organismo e do começo promissor, o projeto fracassou e o mundo acabou entrando em novos conflitos e em uma nova grande guerra. Para Marianna Albuquerque, professora de Organizações Internacionais do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF, a falência do órgão pode ser explicada por três elementos centrais. “Em todo seu tempo de existência, a Liga das Nações foi uma organização pouco representativa do mundo naquele contexto. Os Estados Unidos, que trouxeram os pontos iniciais de criação, não conseguiram convencer o congresso a entrar na organização. A liga não tinha nenhuma forma de uso da força por conta própria, não tinha como mobilizar um exército, então não havia como punir quem tivesse atitudes desviantes. E ela tinha uma paralisia decisória, ou seja, a organização decidia tudo por consenso, o que significa que, na prática, nada era decidido.”

A sociedade das Nações teve o seu fim no dia 20 de abril de 1946, após a Segunda Guerra Mundial, deixando todos os seus bens para uma nova organização que seria fundada e tomaria o seu lugar, a ONU. Portanto, pode se dizer que ela deixou um legado material simbólico para o mundo, porém seu legado histórico transcende os erros e a não conclusão de seu objetivo principal.

” A Liga das Nações é o embrião desta discussão (multilateralismo), ou seja, de que o mundo pudesse caminhar em função de posições diversas e uma tentativa de você conciliar várias questões no planeta. Me parece que o legado da liga das nações é o pensar em um novo modelo.” Conclui Marcelo Coelho, professor de geografia, sobre o ideal deixado pela organização.

O docente ainda complementa sobre as semelhanças da antiga instituição com o existente na atualidade. “Ambas as organizações promoveram vários projetos de integração do globo. Diversas organizações ligadas à questões sociais, do trabalho, foram idealizadas como forma de cooperação internacional.”

Para Marianna Albuquerque, a ONU aprendeu com o seu embrião a necessidade de não confiar no otimismo de uma época específica, ou seja, que é preciso ter sempre mecanismos para punir comportamentos contrários aos ideais do grupo.

Chafariz do Jardins do Palácio de Versailles. Foto: Yuri Murta
Chafariz do Jardins do Palácio de Versailles. Foto: Yuri Murta

A professora do INEST da UFF, ainda colocou as diferenças e melhorias que o organismo atual possui em relação à Sociedade das Nações. “A ONU é uma organização representativa, é um organismo de abrangência internacional. Ela tem um órgão, por exemplo, que é a Assembléia Geral, em que têm igualdade de voz e de voto. Sobre a paralisia decisória, a ONU não decide mais por consenso, como a Liga decidia, ela tem um procedimento que normalmente define por dois terços as votações. E o terceiro, sobre a capacidade de sanção, a ONU tem capacidade de montar um exército e assim o faz.”

Pode-se então, dizer que hoje em dia a Organização das Nações Unidas existe como o organismo que busca promover a paz mundial e resolver os conflitos existentes na sociedade moderna. Apesar de seus problemas, já admitidos diversas vezes em pronunciamentos, a organização mostra ao mundo a possibilidade de igualdade entre os países e a forma de resolver conflitos de forma diplomática. A ONU vem mantendo o seu propósito de evitar uma outra grande guerra, porém poderíamos estar em um mundo completamente diferente se a 100 anos atrás, no salão dos espelhos do Palácio de Versailles, não tivesse a ideia de criar a Liga das Nações. O mundo pode celebrar hoje, apesar dos pesares, um século de uma nova forma de se fazer política internacional.

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