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Ruth de Souza e o seu legado

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Ruth Pinto de Souza nasceu no dia 12 de maio de 1921, no Rio de Janeiro e marcou a história da teledramaturgia brasileira, sendo a primeira atriz negra a se apresentar no Theatro Municipal do Rio e consolidar uma carreira na dramaturgia. Hoje, celebramos os 100 anos deste nome que mudou o cenário artístico no Brasil e segue sendo lembrado através de gerações. 

O interesse pela atuação surgiu quando ainda era menina, ao assistir a peças no Municipal, com ingressos que a mãe, que trabalhava como lavadora de roupas, recebia de suas patroas. Depois, ela ingressou no Teatro Experimental do Negro, um grupo de atores liderados por Abdias do Nascimento, e em 8 de maio de 1945, fez a sua estreia em O Imperador Jones, de Eugene O’Neill no palco do Theatro Municipal. 

Com essa peça, Ruth se tornou a primeira atriz negra a ser recebida no Theatro, o que ajudou a abrir portas para que outras artistas negras também tivessem as mesmas oportunidades. Ela chegou a atuar em outras peças, como Todos os Filhos de Deus Têm Asas e O Moleque Sonhador, de O’Neil; Anjo Negro, de Nelson Rodrigues; e O Filho Pródigo, de Lucio Cardoso.

“Eu era apaixonada por cinema. Queria ser atriz, mas naquela época não tinha atores negros, e muita gente ria de mim: ‘Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto’. Eu ficava meio chateada, mas sabia que ia fazer; como, não sabia” – Ruth Pinto de Souza 

A atriz Aline Deluna participou recentemente do especial Falas Negras, em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Ela conta que Ruth foi, e ainda é, uma de suas maiores inspirações e figuras de identificação por ter tido a coragem de atuar em uma época tão racista. “Era a primeira, a grande, a mais conhecida. Uma referência pelos traços, boca, olhos, cabelo, era uma mulher como eu sou.” 

Ruth teve uma reviravolta em sua vida quando, em 1948, recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Rockfeller, por indicação de Paschoal Carlos Magno. Ela também estudou na escola de teatro Karamu House, em Cleveland, Ohio, e na Howard University, uma universidade exclusiva para negros, em Washington. 

Ainda em 1948, fez a sua estreia no cinema atuando em Terra Violenta, adaptação do livro Terras do Sem Fim, de Jorge Amado. A atriz trabalhou em outros filmes, mas o seu destaque se deu pelo trabalho em Sinhá Moça, dirigido por Tom Payne, que foi reconhecido mundialmente. Ruth foi indicada para o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza de 1954, disputando com Katherine Hepburn, Michele Morgan e Lili Palmer. Infelizmente, ela acabou perdendo por dois votos para Palmer, porém se tornou a primeira brasileira a ser indicada a um prêmio internacional de cinema.  

A figura pioneira de Ruth impulsiona atores de grupos minoritários a ultrapassarem a barreira do preconceito e também terem seu espaço no meio artístico. Para Aline, a revolução na arte vai sendo construída a cada figura, que antes era colocada em segundo plano, ganha visibilidade nas mídias. “A gente tem que chegar a um ponto onde isso seja tão natural que deixe de ser uma questão”, reitera a atriz.

Em 1965, a atriz participou de sua primeira telenovela na TV Excelsior, A Deusa Vencida, escrita por Ivani Ribeiro. Mais tarde, em 1968, foi contratada pela TV Globo, estreando na novela Passo dos Ventos, de Janete Clair. Um ano depois, ela se tornou uma pioneiras no protagonismo negro na televisão, ao estrelar em A Cabana do Pai Tomás. No total, ela participou de mais de 30 novelas, durante seu período na Globo. 

Com mais de 70 anos dedicados à dramaturgia, seu último trabalho foi na minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, em 2018. Ruth de Souza morreu no dia 28 de julho de 2019, aos 98 anos, no Rio de Janeiro, vítima de uma pneumonia. Para a atriz Aline Deluna, a grande dama negra do teatro não teve seu devido reconhecimento, apesar de ter conquistado uma carreira deslumbrante. “Infelizmente, sua morte foi um alerta para como nós deixamos de aproveitar uma excelente atriz, bonita e carismática, como ela, e como sua carreira poderia ter sido muito maior do que foi.”

 

Foto de capa: Acervo TV Globo

Reportagem: Ana Beatriz Miranda e Gabriela Leonardi

Supervisão: Camila Hucs e Juliana Ribeiro

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