Plantando novos hábitos
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O coronavírus tem impactado diretamente a vida dos cidadãos em todo o planeta. Sem poder sair de casa com a mesma frequência, alguns viram a oportunidade de começar a cultivar hortas dentro de suas próprias casas. Com os cuidados necessários para combater a pandemia, muitas pessoas tiraram vantagens desse costume. Apesar de alguns continuarem consumindo produtos industrializados, o caminho para a diminuição desse hábito tem sido cada vez mais aberto. Assim, o iniciante Ivan Gelabert, e a experiente Camila Grinsztejn, contam sobre a importância e a trajetória da prática de cultivo nesse período.
O economista Ivan Gelabert, de 65 anos, mudou sua rotina desde o início da quarentena e enfrenta as dificuldades do confinamento através de hábitos mais naturais. Em meio a disponibilidade de tempo e incertezas sobre o abastecimento de recursos, o economista agora investe em sua horta. Com tudo pronto e plantado, espera os resultados da primeira colheita que se aproxima.
Já a jornalista Camila, trabalha com agricultura regenerativa e plantas alimentícias não convencionais há mais de dez anos, quando fez um curso de permacultura. Desde então, ressalta como a relação do ser humano com a comida é distante. “A maioria das pessoas acha que a comida vem da prateleira do mercado, isso é muito triste.” diz. Assim, o cultivo de diferentes tipos de plantas tem feito parte de seu estilo de vida nessa última década. Hoje, ela tem uma varanda produtiva em seu apartamento com – além de plantas alimentícias não convencionais -, hortaliças, temperos e algumas ervas medicinais.
Camila conta que se surpreende com os vegetais que cultiva, e fala da ausência do costume de se comer certas plantas pela sociedade. Nesse contexto, explica que muitas delas são confundidas com mato ou algum tipo de praga. “Na verdade, elas têm um valor nutritivo imenso vindo gratuitamente da natureza e em extrema abundância. A trapoeraba e a chanana, por exemplo, conseguem crescer em qualquer lugar e são flores lindas e comestíveis, que podem ser usadas em saladas, chás…” Segundo ela, essas plantas são fáceis de serem cuidadas e podem ser cultivadas em qualquer varanda.
Entretanto, mesmo com a presença do covid-19, a ida ao mercado ainda se faz necessária, mas para a jornalista, o apoio à agricultura familiar, e a compra de alimentos de pequenos produtores é prioridade. O diferencial é a qualidade dos produtos e a menor intermediação até o consumidor final, em comparação às prateleiras dos mercados. Por isso, ela faz assinaturas de cestas de orgânicos, que a levam raízes, frutas, e também alguns produtos mais perecíveis, como folhas e brotos. “Esse incentivo aos pequenos produtores é muito importante, como eu não consigo produzir tudo na minha varanda, eu apoio essa cadeia produtiva.”
Nesse cenário de pandemia, Camila destaca a importância da higienização de alimentos e a maior atenção que o processo merece nesse momento. “Quando meus alimentos chegam, eu faço todo o procedimento. Coloco os produtos em uma bacia com água e um pouco de água sanitária para diluir e conseguir fazer toda higienização.” diz. Além disso, ela também evidencia as vantagens de se comprar de um pequeno produtor e não precisar lidar com os riscos das embalagens.
A maior dificuldade para ela, nesse período de confinamento, têm sido conseguir ir atrás de terra e composto para manter sua horta. Nesse sentido, o que a tem ajudado, tem sido sua assinatura de ciclo orgânico, que faz a reciclagem dos resíduos de sua casa, e a devolve sob forma de adubo. Outro impacto negativo com a implementação da quarentena têm sido a interrupção das “feirinhas”, onde Camila tem contato direto com os pequenos produtores, e consegue realizar trocas de mudas e sementes.
Mesmo com os obstáculos que a quarentena tem proporcionado para a manutenção desses hábitos naturais, ela segue firme com suas práticas e convicções. Reforça o apoio da agricultura familiar e o incentivo aos produtores locais de sua região e entorno do Rio de Janeiro. Camila hoje colhe conhecimento e experiência na área, resultado de um processo que começou há mais de dez anos. “Minha vida mudou e minha casa virou uma grande florestinha.”
Reportagem: Gabriel Lorenzo e Lucas Geia