COVID-19, H1N1 e a paralisação da economia
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O mundo está passando por um momento delicado. A epidemia do novo coronavírus se alastrou muito rapidamente por diversos países e regiões, deixando mais de metade da população vivendo de acordo com as medidas de isolamento propostas pela Organização Mundial da Saúde – OMS. Este fato é relativamente recente se compararmos com episódios anteriores dentro da história, superando a última pandemia da gripe suína.
Tanto o novo Covid-19, quanto o H1N1 foram causadas por um vírus que passou por uma mutação em animais e começou a infectar os seres humanos. Entretanto, a primeira epidemia do século 21 não foi capaz de colocar cidades ou países inteiros em quarentena, como ainda ocorre atualmente com o coronavírus.
De acordo com a médica infectologista Otilia Lupi, de 32 anos, o Covid-19 é muito mais preocupante, pelo fato de ser mais letal e por ser transmitido mais rápido. Ainda segundo a médica, o H1N1 não era agressivo ao organismo como o coronavírus. “Já existia uma estratégia para cuidar dos infectados, mesmo com a doença no começo. Não existe maneira 100% correta de tratar de um paciente com o COVID-19 hoje”.
Algumas pesquisas da OMS, revelaram que o H1N1 possuía um nível de transmissão duas vezes menor que o atual vírus da Covid-19 e que a atual pandemia pode crescer a taxa de letalidade em até 3,4% (do total de doentes).
Segundo Otília, este número é muito alto, uma vez que apenas uma parte pequena da população foi testada. O fato de não se ter imunidade ao Covid-19 é determinante na hora de observar as diferenças entre os números das duas pandemias. “A gripe suína não tinha um grupo de risco específico, já no caso do coronavírus, pelo menos 15% dos idosos que se contaminam, morrem”
Os dados científicos da Universidade de Johns Hopkins, apontam que uma média de 80% das pessoas infectadas pelo novo vírus são assintomáticas ou possuem os sintomas, porém de forma leve, ao passo que 15% desenvolvem a doença e cerca de 5% entram em um estado mais crítico e desenvolvido.
Apesar de os índices não serem tão expressivos, o sistema de saúde das cidades e regiões ficam sobrecarregados. pois qualquer um está sujeito a pegar a doença e procurar o tratamento adequado, o nível de transmissibilidade é altíssimo. Além de que não existem medicamentos voltados para o combate direto da doença, tornando o impacto desta pandemia sobre os hospitais ainda maiores se comparado ao que ocorreu em 2009.
O isolamento social é o principal recurso atualmente contra o coronavírus. “As pessoas tem que ficar em casa, não é uma gripe qualquer, ela mata dez vezes mais que a H1N1”, completa a Dra. Otília Lupi. Além disso, segundo ela, antes existiam medicamentos que bloqueavam o risco de um pico de contaminados, diferente de como está acontecendo hoje.
Mesmo com todo investimento científico voltado para a criação de uma vacina, sem ela, as normas de distanciamento vão continuar, podendo causar um grande baque na economia brasileira. Segundo o economista Victor Hugo Martins, formado na UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), mesmo que muitos considerem o fim da quarentena uma solução, ele diz que não é bem assim. “As pessoas já estão muito assustadas e não vão sair consumindo mesmo que se decrete o fim do isolamento de repente.”
Victor Hugo acha que a reabertura do comércio pode causar um problema econômico ainda maior. “A situação da economia e a situação do vírus estão paralelas. Quanto mais tempo demorar para o fim do isolamento, o impacto em empresas, pequenas, médias e grandes, só aumenta. Muitas inclusive vão falir.” Diz o economista.
Ele reafirma que a solução mais viável seja o isolamento, porém com a falta de investimentos para o mesmo, ele está longe do fim. ” O povo brasileiro precisa receber um auxílio o mais rápido possível, pagar a população em um momento como esse é um gesto nobre. O ideal agora não é criar um sistema de renda perfeito, mas distribuir esse dinheiro rápido.”
Reportagem: Alberto Ghazale e Anna Luiza Miranda
Infográfico: Alberto Ghazale
Supervisão: Patrick Garrido, Matheus Pardellas, Maria Luísa Martins e Mariana Colpas