Moda agênero para quebrar preconceitos
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Marcas do ramo da moda vêm surgindo com a proposta de derrubar padrões de gênero ao lançar coleções com variadas peças que podem ser usadas tanto por homens quanto por mulheres. Ao criar uma categoria na moda, dita como agênero, na qual os limites entre “aquilo que é feito para mulheres” e “aquilo que é feito para homens” são anulados, a liberdade torna-se maior para que as vestimentas possam ser usadas por qualquer pessoa, independentemente do gênero.
Ao considerar que os corpos diferem uns dos outros, para que as peças agêneros funcionem, é necessário que os cortes e estampas sejam analisadas com cuidado pois eles podem influenciar no caimento quando usadas por ambos os sexos. No Brasil, já é possível encontrar muitas lojas online voltadas para pessoas que desejam usar roupas livres de rótulos.
Fundada pelos irmãos Rafael Ferrero e Rodrigo Ferreira, a marca carioca Hex, recém-chegada ao mercado, surgiu da necessidade de construir uma moda fora dos padrões e da possibilidade de experimentar o novo, de mesclar dois universos em um só: o feminino e o masculino. “Como a proposta da Hex é bastante de vanguarda, alguns homens ainda são conservadores ao experimentarem o ‘novo'”, observa Rodrigo. “Sendo assim, o interesse é maior pelas peças ditas “masculinas”, como, por exemplo, as camisas e casacos com formatos padronizados”, afirma. “Já entre as mulheres, as peças em paetê calça-saia são sucesso”, diz Rodrigo. Tendo sua primeira coleção baseada no disco “Batuk Freak”, da rapper brasileira Karol Conka, a marca vem ganhando espaço no mercado e pensa em abrir uma loja física no futuro, além de construir, mensalmente, um showroom para que os clientes possam conhecer melhor os produtos.
Outro exemplo de marca agênero é a Astro Runners, que conta com João Lopes, Luana Santana, Lucas Oliveira e Juliano Grendene como colaboradores. Ela surgiu de maneira curiosa. “Nunca tivemos a ideia de criar uma marca agênero, a vontade surgiu de outras vertentes em comum: filosofia, leituras, misticismo etc”, diz João. “Essa ideia, na verdade, nunca surgiu racionalmente. Só percebemos que tanto homens quanto mulheres compravam nossas camisetas”, conta. “Nunca fez sentido separar a coleção em feminina e masculina”, afirma João. A marca, que ainda não tem loja física, faz sucesso nas vendas de pochetes, bonés e camisetas.
Além das marcas já citadas para jovens e adultos, a Marré deci, que tem Luisa Piechnik e Marina Ribeiro como principais fundadoras, foi além e promoveu a não diferenciação de gênero entre crianças. “As meninas vestem rosa e princesa e os meninos, azul e roupa de herói. Isto determina um padrão. Estabelece bem cedo as barreiras”, observa Marina. De acordo com ela, o projeto está engajado na luta para derrubar essa barreira e construir um mundo mais igualitário, sem tantos preconceitos e com muito mais respeito.
A inspiração para as linhas do vestuário vem de diversas premissas: uma menina pode vestir a roupa do Batman e um menino, roupa com flores. “No universo infantil, isso não cria constrangimento, mas abre janelas para se vislumbrar realidades que estavam comprometidas como pertencentes a outro gênero”, sustenta Marina. “Nosso propósito principal é o empoderamento materno-infantil. Buscamos retirar o foco da polaridade princesa-herói, no sentido de que as crianças não devem assumir os estereótipos. Pelo contrário, devem ser livres para fantasiar, brincar, utilizar todos os recursos disponíveis ao acumularem seus repertórios para a vida”, observa ela. “Ainda achamos que há perdas no fato de que as meninas são “inconscientemente” afastadas das ciências e os meninos, dos sentimentos”, completa Marina.
Muitas dessas marcas ainda estão crescendo no mercado com a ajuda da divulgação feita pela internet, além da crescente divulgação em torno do assunto. Lojas já conhecidas, como Farm e Cantão, também lançaram recentemente linhas de moda despadronizada. No ramo dos calçados, a loja Melissa, que antes era voltada para calçados femininos, lançou a coleção Flox Unissex que, diferentemente das demais linhas, conta com calçados disponíveis até a numeração 44. Dessa forma, torna-se mais fácil atender à demanda masculina.
Com tantas opções presentes no mercado, para que se limitar às padronizações de gênero? A moda agênero confirma: não existe “roupa de mulher” e “roupa de homem”, é possível ser livre e ultrapassar aquilo que antes era dado como limite.