Artistas independentes: as dificuldades em viver de música no Brasil
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Matéria de Luisa Lins e Isabelle Rodrigues
A vocação, a luta pela realização de um sonho e a busca pelo reconhecimento são alguns dos desejos que caracterizam o sonho de diversos artistas que visam a um único objetivo: viver de música. Artistas independentes buscam ganhar visibilidade e conquistar um espaço dentro da indústria fonográfica, promovendo seus trabalhos através de ferramentas como a internet e as mídias sociais. O caráter de independência, porém, faz com que a rotina diária desses artistas seja marcada por inúmeras dificuldades, que vão desde o processo de composição de um álbum até a busca pela fidelização de um público.
É o caso da banda A Torre, que une influências vindas do pop e do rock em suas músicas autorais. Formada pelos integrantes Eric Torres, Marcelo Ribeiro, Felipe Benevides e Bernardo Pellon, a banda surgiu em 2016 com o intuito de produzir músicas para uma monografia de faculdade e hoje já possui um disco gravado em estúdio profissional, além de realizar shows frequentes. Com uma setlist envolvendo composições próprias e covers de artistas como Legião Urbana, Cazuza e Foo Fighters, os integrantes buscam dar uma personalidade diferenciada a suas versões. “Nós não queremos ser uma banda de cover. Eu quero tocar o que as pessoas gostam, mas da minha maneira. Por isso, a gente trabalha com versões. Na noite, as pessoas querem ficar agitadas e dançar e nós pensamos nos arranjos dessa forma. Então, a gente transforma a música em uma coisa mais alegre e atual, para que o público possa ouvir o que eles já conhecem, mas com uma nova roupagem”, conta Eric, de 30 anos, guitarrista, letrista e vocalista da A Torre.
Além disso, ele acrescenta que não existe uma fórmula exata para compor uma canção. “Eu geralmente começo com o violão, mas existem diversos caminhos que se pode tomar. Isso varia muito, por isso eu sempre tento andar com um gravadorzinho. Tem uma música no disco que eu fiz em dez minutos, outra eu sonhei com uma melodia, achei sensacional, acordei e fiz. O processo em si varia muito, mas eu tento chegar para os caras com várias opções”, disse.
Porém, a dificuldade em viver só do trabalho feito na banda ainda existe, como conta o baixista e professor Bernardo Pellon, de 36 anos, formado em Música pela Unirio. “O lance de viver de música, pra mim, é fazer mais de uma coisa. Quando uma está ruim, você se apoia na outra. O mercado está em uma fase de transição porque agora a gente consegue fazer o independente chegar nas pessoas. Antigamente, o único meio eram as gravadoras. Hoje é possível usar as ferramentas de tecnologia pra chegar até o público”, disse o músico, que também dá aulas particulares de baixo elétrico.
Além disso, existe a produção de músicas para artistas e gravadoras, porém sem contratos de exclusividade. É o caso do produtor e compositor Wallace Viana, que compõe músicas para outros artistas, como o caso da canção “Beijinho no Ombro”, interpretada pela cantora Valesca. “A composição de uma música é lançada em uma gravadora que pode ou não modificá-la, de acordo com a demanda do público. Para mim, ainda é difícil conseguir gravadora hoje em dia. Foi um tempo em que poderíamos ficar ricos com um artista só e com uma música”, explica. O músico, que começou nesse meio com apenas 10 anos, diz se inspirar na sua avó para seguir no universo musical. “As dificuldades são inúmeras, não são apenas flores. Mas no final de tudo, quero que as canções prevaleçam e o povo fique feliz”, conta.
Apesar dos contrapontos, a música faz parte de um sonho presente nas vidas de diversas pessoas desde muito cedo. Segundo o estudante Daniel Batista, de 22 anos, a melodia sempre esteve dentro de si. O jovem, ao sair do Ensino Médio, decidiu cursar Jornalismo na Uerj e desistiu após quatro períodos, para cursar Música Popular Brasileira na faculdade Unirio. “Eu decidi entrar porque é o que quero pra minha vida”, conta ele. Paralelamente, Daniel tem uma banda chamada “Destinatários Anônimos” ,junto com outros três colegas, que também ainda não conseguiram nenhum tipo de contrato com gravadoras. “Para mim, vai além disso. O importante para nossa banda é ter a forma, e não apenas o som limpo. É, na verdade, o que aquela mensagem passa para cada um”, conta ele, que, além de fazer parte da banda, dá aulas de violão em uma igreja católica na Urca, zona sul do Rio de Janeiro. A música, segundo ele, ocupa um lugar de valor sem igual em sua vida. “Eu quero fazer algo que contemple as pessoas e dê conta de uma experiência humana. É uma coisa sincera, verdadeira e por isso mesmo bela. Por isso que eu faço, por isso que é música.”