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Mais que Maluquinho: o lado crítico de Ziraldo

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Ziraldo faleceu no dia 6 de abril, aos 91 anos de idade. O desenhista e escritor mineiro deixou um legado com diversas obras, dentre elas, as histórias do “Menino Maluquinho”, personagem que esteve presente na infância de incontáveis brasileiros. Ele assinou imagens marcantes, como a campanha nacional contra o tabagismo e as  representações dos mascotes dos times brasileiros de futebol. Nos anos 1960, fez parte de um importante momento para o jornalismo brasileiro ao se colocar em uma posição de oposição ao regime militar. 

Em 1968, foi publicado o Ato Institucional n°5, conhecido como AI-5, responsável por limitar a liberdade individual e da imprensa. Nesse contexto, surge “O Pasquim”, com a proposta de uma jornalismo independente, alternativo e contracultural com circulação semanal no país. O jornal tinha como grande característica o tom sarcástico e irônico que usava para criticar o regime e os comportamentos conservadores. “O Pasquim traz pautas que não estavam sendo faladas pelo restante da imprensa, como feminismo, machismo, homosexualidade. Além de falar contra a ditadura e apresentar pontos de crítica” – afirma a escritora e professora Lúcia Cruz. 

Quando o jornal foi criado, Ziraldo já havia começado sua carreira como desenhista e chargista. Em 1960, ele lançou sozinho a primeira revista em quadrinhos brasileira a cores, a “Turma do Pererê”, que anos mais tarde se tornaria seriado de televisão. O jornalista e escritor, Márcio Pinheiro, ressaltou a importância do artista no processo de criação e redação do Pasquim. “Ziraldo foi importante na medida que sua grandeza, já reconhecida à época, ajudou a legitimar o Pasquim”. Ele realça que o artista foi um ótimo entrevistador e ainda destaca sua contribuição na parte gráfica, nomeando sua capa sobre a morte de Juscelino como antológica.

Ziraldo, 1969

Charge de Ziraldo em “O Pasquim” de 14 de janeiro de 1971

Ziraldo faz parte da continuação de uma tradição brasileira de se apropriar da sátira e do humor para realizar a comunicação. Charges e anedotas são marcas registradas em seu trabalho no Pasquim. Lúcia Cruz explica que isso não só é uma forma de tornar as mensagens mais acessíveis e interessantes como também uma maneira de burlar as regras em momentos de censura. 

Embora esteja associado à literatura infanto-juvenil, Márcio Pinheiro reitera que Ziraldo soube separar suas características e épocas, agregando as diferentes vertentes que complementam sua figura. O desenhista, chargista, escritor e jornalista deixou um grande legado simbólico de momentos de resistência, que seguirá sendo de suma importância para o país por muitos anos. “Foi um raro caso de quem soube brilhar em todas as atividades às quais se dedicou. Ziraldo já está fazendo muita falta”, completa Márcio.

Reportagem: Luca Alexandre, Pedro Henrique Mello e Vinicius Nunes 

Supervisão: Davi Rosenail e Joana Braga 

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