Mais que Maluquinho: o lado crítico de Ziraldo
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Ziraldo faleceu no dia 6 de abril, aos 91 anos de idade. O desenhista e escritor mineiro deixou um legado com diversas obras, dentre elas, as histórias do “Menino Maluquinho”, personagem que esteve presente na infância de incontáveis brasileiros. Ele assinou imagens marcantes, como a campanha nacional contra o tabagismo e as representações dos mascotes dos times brasileiros de futebol. Nos anos 1960, fez parte de um importante momento para o jornalismo brasileiro ao se colocar em uma posição de oposição ao regime militar.
Em 1968, foi publicado o Ato Institucional n°5, conhecido como AI-5, responsável por limitar a liberdade individual e da imprensa. Nesse contexto, surge “O Pasquim”, com a proposta de uma jornalismo independente, alternativo e contracultural com circulação semanal no país. O jornal tinha como grande característica o tom sarcástico e irônico que usava para criticar o regime e os comportamentos conservadores. “O Pasquim traz pautas que não estavam sendo faladas pelo restante da imprensa, como feminismo, machismo, homosexualidade. Além de falar contra a ditadura e apresentar pontos de crítica” – afirma a escritora e professora Lúcia Cruz.
Quando o jornal foi criado, Ziraldo já havia começado sua carreira como desenhista e chargista. Em 1960, ele lançou sozinho a primeira revista em quadrinhos brasileira a cores, a “Turma do Pererê”, que anos mais tarde se tornaria seriado de televisão. O jornalista e escritor, Márcio Pinheiro, ressaltou a importância do artista no processo de criação e redação do Pasquim. “Ziraldo foi importante na medida que sua grandeza, já reconhecida à época, ajudou a legitimar o Pasquim”. Ele realça que o artista foi um ótimo entrevistador e ainda destaca sua contribuição na parte gráfica, nomeando sua capa sobre a morte de Juscelino como antológica.
Ziraldo faz parte da continuação de uma tradição brasileira de se apropriar da sátira e do humor para realizar a comunicação. Charges e anedotas são marcas registradas em seu trabalho no Pasquim. Lúcia Cruz explica que isso não só é uma forma de tornar as mensagens mais acessíveis e interessantes como também uma maneira de burlar as regras em momentos de censura.
Embora esteja associado à literatura infanto-juvenil, Márcio Pinheiro reitera que Ziraldo soube separar suas características e épocas, agregando as diferentes vertentes que complementam sua figura. O desenhista, chargista, escritor e jornalista deixou um grande legado simbólico de momentos de resistência, que seguirá sendo de suma importância para o país por muitos anos. “Foi um raro caso de quem soube brilhar em todas as atividades às quais se dedicou. Ziraldo já está fazendo muita falta”, completa Márcio.
Reportagem: Luca Alexandre, Pedro Henrique Mello e Vinicius Nunes
Supervisão: Davi Rosenail e Joana Braga