‘’Europeização’’ do futebol: os brasileiros que torcem para times estrangeiros menos badalados
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Ignorado pelo torcedor brasileiro no passado, o futebol europeu virou sucesso absoluto no país neste século. Atualmente, é extremamente comum ver alguém por aqui dizer-se apaixonado pelo Real Madrid, Barcelona, Liverpool, PSG, Manchester United, dentre muitos outros gigantes oriundos do velho continente. Para se ter noção, uma pesquisa realizada em 2016 pelo IBOPE Repucom apontou que 72% dos nossos jovens torcem para algum time estrangeiro, número que representa um aumento de oito pontos percentuais em relação a três anos antes.
Com a decadência do futebol nacional, torcer para os grandes craques que jogam por clubes internacionais tornou-se uma espécie de refúgio aos brasileiros. Seja através da enorme venda de camisas ou da formação de torcidas oficiais nas redes sociais, esta nova geração de torcedores já é facilmente identificável no Brasil.
De acordo com Erich Beting, jornalista, fundador do site ‘’Máquina do Esporte’’ e consultor de marketing esportivo, o aumento do interesse dos nossos jovens pelos clubes estrangeiros começou há cerca de 20 anos. Para ele, este crescimento é resultado do trabalho dos principais times da Europa de fazerem suas marcas serem conhecidas mundialmente. ‘’O Brasil era um mercado que os europeus sempre deixavam em segundo plano por conta da nossa paixão preexistente pelo futebol e pela força das marcas locais’’, afirmou.
Porém, esclarece que com a realização da Copa do Mundo no país em 2014, os clubes europeus decidiram apostar mais no mercado brasileiro. ‘’Isso fez com que campeonatos e times de lá aparecessem cada vez mais aqui, formando uma geração mais ligada às marcas estrangeiras’’, explicou.
Além disso, conta que as redes sociais são uma parte bastante importante deste contato do torcedor com o time, e para ele, os clubes europeus souberam usar esse canal mais rapidamente para expandir suas marcas. ‘’Soma-se a isso ter o time presente nos games e, ainda, uma maior exposição dos campeonatos. Por aqui, estamos evoluindo bastante na rede social como plataforma de relacionamento com o fã’’, disse.
No entanto, afirma que precisamos nos preocupar com o conteúdo que é oferecido para o torcedor dentro de campo. Segundo ele, um jogo mais dinâmico, atrativo e emocionante ajuda a captar mais o jovem. ‘’Manter boa atuação nas redes sociais mas oferecer um jogo ruim para o público não vai gerar engajamento no longo prazo’’, acrescentou Erich.
Por outro lado, apesar de ainda não haver nenhum dado ou pesquisa capaz de ilustrar isso, um novo fenômeno parece estar surgindo: a criação de páginas brasileiras dedicadas a clubes europeus ‘’pouco badalados’’. A fanpage da Atalanta, @AtalantaBrasil, por exemplo, já possui 3.400 seguidores no Twitter. No Instagram, o perfil @PortsmouthBrasil também conta com cerca de 3.000 seguidores, enquanto 2.200 pessoas curtem a página ‘’FC St. Pauli Brasil’’ no Facebook. Estes são apenas alguns exemplos das milhares de comunidades brasileiras destes times estrangeiros com menos visibilidade espalhadas pela internet.
Com isso, junto dessa nova tendência, algumas dúvidas também aparecem: uma vez que tais clubes mais ‘’modestos’’ não se enquadram na maior parte dos fatores que ocasionaram esse crescimento, de onde essa torcida nasce? É ‘’simpatia’’ ou é paixão? Para entender um pouco mais sobre essa inusitada torcida, conversamos com Álvaro Logullo, 23, jornalista esportivo e dono da página @FiorentinaBrasil e Eduardo Baptista, 22, informático e criador da @RayoVallecanoBrasil. Confira no vídeo abaixo:
Reportagem: Joaquim Werneck e João Manoel Morais
Edição: Joaquim Werneck
Supervisão: Carolina Mie, Patrick Garrido e Yan Lacerda