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Bolsonarismo nas igrejas evangélicas; confira a opinião desses cristãos

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De acordo com pesquisa feita em agosto pelo PoderData, o presidente Jair Bolsonaro (PL) detém cerca de  62% das intenções de voto no eleitorado evangélico. No entanto, mesmo já tendo conquistado boa parte desse público, uma parcela desses religiosos afirmam não pretender votar no candidato este ano. Enquanto alguns acreditam que ele seja a melhor opção para um eleitor cristão, outros não só discordam do projeto de governo dele, como também não confiam em sua relação com a fé.

Recentemente, em 2021, o pastor e teólogo Yago Martins escreveu o livro intitulado “A Religião do Bolsonarismo”. Nele, o escritor nordestino critica a postura de Bolsonaro, afirmando que o mesmo teria apenas se apropriado de pautas cristãs e criado para si a “própria religião”, baseada na defesa da família e na luta contra a esquerda. O livro foi duramente criticado por conservadores, mesmo o Yago sendo abertamente de direita.

O livro “A Religião do Bolsonarismo”.

O Engenheiro Florestal e estudante de teologia Carlos Henrique tem uma opinião parecida. Ele é cristão desde pequeno e já iniciou diversos projetos sociais pela Mocidade Para Cristo (MPC). Para Carlos, o presidente conseguiu capturar o marketing das igrejas defendendo ideias presentes no meio evangélico: como moralidade e patriotismo. “Uma vez que ele soube usar isso em campanha, foi fácil capturar essa ala”, frisou.

Já Ana Staut, escritora do livro “Forte e Fracos”, acredita que o atual presidente utilizou de conceitos cristãos para convencer uma nação cansada dos antigos discursos políticos. “Apesar da narrativa proposta por Bolsonaro parecer condizer com alguns princípios bíblicos, as ações dele são contraditórias e não revelam um verdadeiro testemunho cristão”, completou.

Foto: Arquivo Câmara dos Deputados

No ano de 2018, Jair se candidatou pela primeira vez à presidência. Ele, que foi deputado federal pelo Rio de Janeiro de 1991 a 2018, prometeu uma política de Estado nova, diferente de todos os presidenciáveis. Sua popularidade se deu principalmente com um discurso anti petista e de combate à corrupção.

Essa projeção, no entanto, na opinião de Carlos, já vem sendo construída desde 2011. Ele relembra, por exemplo, o período em que Damares viajou pelo Brasil pregando a ideia de que o “mundo secular” estaria desconstruindo o princípio de família. Para o ativista, ao usar verdades e mentiras dentro das mesmas falas, Damares colocou a igreja e sociedade em posições opostas – como se lutassem entre si.

Foto: Ueslei Marcelino

Essa ideia ganhou bastante força no meio evangélico nesse tempo, mas ela já é criticada desde o século XX, por Abraham Kuyper. Para o teólogo e jornalista holandês, “dizer que Deus criou todas as coisas é também dizer que a ele tudo pertence, tornando-se impossível fazer essa separação”.

A escritora Ana Staut atribui a ascensão do presidente a diferentes fatores, como: corrupção, descaso com a população cristã e a atual situação política do país.

“Não vejo a vitória do Bolsonaro como uma jogada política religiosa, mas como um ciclo vicioso de partidos polarizados que utilizam das fragilidades de um Brasil sem perspectiva e entendimento de bem-comunidade. Vindo de um cenário de contínuos abusos para com a população cristã e com a descoberta de esquemas de corrupção sob o governo anterior, o discurso de Bolsonaro foi rapidamente comprado por milhares de brasileiros”, afirma a escritora.

O pastor da Lagoinha André Valadão, principal apoiador do candidato, discorda. Segundo ele, Jair Bolsonaro chegou à presidência por ser um homem íntegro e defender os valores conservadores cristãos. Ele também afirma que qualquer um que apoia a esquerda não entendeu a mensagem de Jesus.

Foto: Lagoinha

Nikolas Ferreira, candidato a deputado Federal (PL) e escritor do livro “O Cristão e a Política”, também faz a mesma afirmação em sua propaganda eleitoral. “Ou você é Cristão ou é de esquerda” , frisa.

Já o cantor e compositor cristão, Cael, tem uma opinião incomum. O artista pretende votar no Bolsonaro nas próximas eleições, mas não acredita que o prestígio dele se deu apenas por aspectos religiosos. “Ele ficou conhecido por ser autêntico e falar o que pensa”, destaca. “É independente da fé. Ele poderia ser ateu que conseguiria a mesma projeção”, completa.

Sobre acreditar ou não na declaração de fé de Bolsonaro, o cantor afirma:

“Eu só conheço o seu lado político. Ele não gosta de roubalheiras ou escândalo e está sempre se gabando por isso. Então a gente vê uma tentativa de ser íntegro. Mas ser cristão não é só sobre ser moral. A gente precisa analisar os seus frutos e é um julgamento que só cabe a Deus. Hoje eu não afirmaria que ele é cristão, mas não sei nem se eu tenho conseguido ser”.

 

Reportagem: Lucas Luciano e Julia de Paulo 

Supervisão: João Fonseca

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