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Veganismo popular

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O veganismo, enquanto um movimento social, tem atuação política. A prática surge no Brasil e no mundo como uma corrente contestadora da sociedade, reivindicando o direito à soberania alimentar para todes e o fim da exploração animal. O veganismo popular ou anticapitalista, define-se como o posicionamento político e modo de vida vegano que mantém firme a colocação ética contrária ao especismo (discriminação arbitrária daqueles que não pertencem a uma determinada espécie).

O processo das comidas vendidas em mercados é colonizado, começando da semente transgênica que é vendida por grandes empresas, e em seu crescimento é adicionado grandes quantidades de agrotóxico. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, no ano de 2019 o Brasil aprovou o registro de 474 agrotóxicos, um volume 5,5% maior do que em 2018, quando foram permitidos 449 pesticidas. Esses produtos chegam ao consumidor através de grupos com grande capacidade de negociação, que vendem os alimentos por um preço alto e muitas vezes inacessível. Além disso, segundo o site do Senado, o agronegócio é o setor que mais que mais “contrata” pessoas em regime similar a escravidão.

Em 2005 a OIT (Organização Internacional do Trabalho) fez uma estimativa de que 25 mil pessoas estavam em situação análoga à escravidão no Brasil, sendo que 80% delas estavam no setor de agricultura e 17% na pesca. Vitor, ativista pela causa vegana, afirma que o consumo de animais está atrelado a uma série de problemas gravíssimos no Brasil. Entre eles: o desmatamento, desperdício de água, trabalho análogo à escravidão, produção de lixo, emissão de gases do efeito estufa, etc. 

O ativista ainda acrescenta que o capitalismo encontrou uma fonte de lucro interessante na exploração animal, já que ao explorar pessoas, elas podem resistir fazendo greves, processando ou se revoltando, mas ao explorar animais, o cenário muda. “Eles são incapazes de se organizar da mesma forma que nós: não podem fazer um sindicato nem pegar armas para fazer uma revolução”, ele reitera.

As grandes instalações de criação industrial prejudicam a fonte de renda de milhões de pequenos pecuaristas e camponeses em escala mundial. E paralelo a isso, reduzem as opções dos consumidores e aumentam os lucros de transnacionais e investidores sem medir as consequências, o que causa diversos efeitos colaterais. Indo de problemas de saúde à extinção de raças, esse sistema que leva alimentos e que parece estar apenas colocando comida na mesa é causador de problemas que a sociedade enfrenta e que estrutura um modelo de exploração.

A ativista Carla Candace, dona da página “Veggie sem Grana”, diz que a forma com que a distribuição de alimentos é feita no Brasil é um plano para que quem é pobre continue com acesso a alimentos que enchem a barriga mas não nutrem.

O capitalismo enquanto sistema econômico vigente se beneficia das opressões, e quando o assunto é o especismo, ele se favorece diretamente da morte e sofrimento dos animais não humanos.  A militante completa: “Se não houver politização e noção de que o capitalismo vai se adaptar e tentar engolir pautas sociais importantes, infelizmente muita gente vai considerar um grande avanço ao veganismo uma empresa que lucra com o sofrimento de animais lançar um produto vegano”.

O coletivo UVA (União Vegana de Ativismo) considera que o movimento surge para contestar a sociedade e busca transformação social: “Em nosso caso, apoiamos um movimento que pauta conexões e solidariedade política entre lutas contra as estruturas de opressão e contra a exploração capitalista”. Ainda assim, o capitalismo tenta mostrar um lado de transformação e empatia com produtos veganos e “consciente”.  O sistema tenta remodelar pautas por justiça social e transformar em bens de consumo ou em questões individualizadas. Ter mais produtos veganos não vai resultar necessariamente no fim da exploração dos animais nem garantir um meio ambiente saudável. 

Comer é um ato político, ao decidir não participar da crueldade animal, seja na alimentação, vestuário, e cosméticos,  enxerga-se que o especismo também atrapalha a vida humana,  no número de pessoas que passam fome, já que não tem como todos comerem carne, e boa parte dos grãos que serviram para saciar a fome de humanos, viram ração de gados. Seja no trabalho em fábricas de carne, que é um dos mais nocivos para os humanos, ou pela quantidade de acidentes graves e até o quanto a saúde mental é atingida, e seja também pelo nutricídio. 

 

Reportagem: Brenda Barros | Eloah Almeida.

Supervisão: Camilla Hucs | Gabriela Leonardi.

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