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Crítica – Thor: Amor e Trovão

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No novo filme lançado pela Marvel, Thor: Amor e Trovão, dirigido por Taika Waititi, acompanhamos Thor (Chris Hemsworth) em uma jornada de autoconhecimento pelo universo. Sua busca, no entanto, é interrompida por Gorr, o Carniceiro dos Deuses, interpretado por Christian Bale, cujo desejo é que todos os deuses sejam mortos. Com isso, o asgardiano precisa arrumar um jeito de detê-lo, mas a aparição de um antigo amor muda os seus planos. Jane Foster (Natalie Portman) é escolhida pelo Mjölnir e assume o manto da Poderosa Thor, embarcando nessa aventura romântica e engraçada. 

O que me impressiona é ver como alguns personagens às vezes precisam se tornar bobos para serem levados a sério. Talvez esse seja o único ensinamento profundo que conseguimos tirar dessa nova produção do Taika Waititi, que repetindo o tom sátiro da sua filmografia, não passa disso: uma repetição. É apenas uma cópia da linguagem usada em Thor Ragnarok (também dirigido por ele) em cima de uma comédia romântica que, além de previsível, não funciona. A fórmula é até divertida durante os primeiros trinta minutos, mas ao decorrer da trama você não sabe se está em um filme da Marvel ou em uma comédia fraca do Adam Sandler. 

Isso é resultado do gênero escolhido para dar vida a história. Waititi é bem conhecido por misturar o drama e o cômico, o que, na minha opinião, funciona bastante na mão dele. Seu trabalho em Jojo Rabbit é um ótimo exemplo disso. A forma que ele satiriza o tema sem perdê-lo de vista é brilhante e te carrega por horas com leveza. Em Ragnarok, essa mistura é bem feita, mas nesse novo filme ele deixa a desejar. 

O tom do roteiro de Amor e Trovão é tão simples que poderia ser escrito por um fã de treze anos. As soluções, os diálogos e as motivações foram jogadas na tela sem qualquer crença no que estava sendo feito. Claramente é um filme que não liga para ser levado a sério, entretanto, até para rir nós precisamos do mínimo de complexidade. Não tem desenvolvimento claro e os conflitos principais não sustentam a atenção por mais de uma hora. Todo drama que a história se propõe a passar é escondido embaixo de futilidade e não gera impacto algum. 

Essa nova abordagem trazida ao personagem parece ser só uma tentativa de consertar o erro dos primeiros filmes. Quando viram que o Thor sério não era mais comercial, apelaram ao cômico para vendê-lo. O “marvetizaram”. Não estou dizendo que é impossível existir bons heróis engraçados, Deadpool está aí para nos mostrar que essa linguagem funciona também. O que não pode acontecer é deixar o tema para trás e se contentar com risos. É muito pequeno comparado ao potencial que o deus do trovão pode alcançar. 

Outro recurso usado por Taika Waititi para sustentar esse humor foi a forma que as câmeras são usadas. Trazendo um foco bem mais próximo ao rosto, ele transmite uma comunicação não verbal quase suficiente para ignorarmos os erros do enredo. Ela nos captura e nos leva ao lugar que ele quer. Eu fui até esse lugar e eu gostei. Funcionou bastante. Se ele prestasse atenção no que é falado tanto quanto prestou no que é visto, essa crítica seria bem diferente. 

A fotografia me conquistou bastante também. Usar o preto e branco em um filme de super herói é bastante ousado e eu gosto dessa ousadia. A maneira como os conflitos vão escurecendo a tela é um trabalho que me lembra muito Sam Raimi em Multiverso da Loucura. As transições visuais da fotografia só não são impecáveis porque trabalham quase sozinhas. Mais um potencial que poderia ter sido explorado, mas acabou se perdendo nessa farofa toda. 

A trilha sonora foi outro ponto forte. Eu tenho para mim que a música é um dos maiores recursos para uma comédia funcionar. A trilha certa no lugar certo tem um poder cinematográfico gigante. No longa, o rock se torna um amigo do cineasta e carrega toda catarse nas costas, passando a imagem de um diretor completamente louco (o que não está errado). As músicas quase apelam para sentirmos o mínimo de seriedade pela obra, mas infelizmente não bastam. É uma pena que esse trabalho não tenha dado certo, porque teria sido incrível. 

As atuações não tiveram tanto destaque, com exceção de Christian Bale, que teve uma performance brilhante. Em entrevista, o ator já tinha falado sobre o medo de interpretar o personagem por não achá-lo assustador o bastante. Mas o que ele fez o colocou para mim no pódio de melhores vilões do UCM. Ele é o único que consegue nos fazer acreditar em seu sofrimento. É real. É palpável. Como todo personagem bem escrito deveria ser. Nos leva ao seu coração e monta um espaço tão sincero que fica difícil vê-lo como o vilão. 

A Natalie Portman também tenta entregar uma boa personagem, mas é engolida pela superficialidade. Não chega a ser ruim, mas não requereu dela algo surpreendente. Chris Hemsworth também não fez nada além do esperado, foi apenas o Thor que estamos acostumados a ver no cinema. Até seus maiores momentos de sofrimento são escondidos embaixo de muito humor. A Tessa Thompson entregou uma Valkiria tão comum ao ponto de eu não saber se é necessário falar dela. Não porque foi frustrante, só não tem nada demais em nenhuma dessas apresentações. 

Quanto aos efeitos visuais e a montagem, a minha opinião é a mesma: normal. Amor e Trovão não tenta ser magnífico e memorável, é apenas mais uma obra para completar o universo compartilhado e ele sabe disso. Nessa leva de produções descartáveis, é só mais um que não faz diferença ser visto. Se você vê a arte do cinema como sendo apenas uma forma de entretenimento, você provavelmente vai gostar. Mas se quiser rir de algo mais sólido e reflexivo, esse filme não é para você. 

Alguém até poderia falar: “Ah, mas nem tudo precisa ser surpreendente”. Eu concordo. Mas é difícil acreditar em emoções tão mal produzidas e pensadas. Para mim, ignorar os erros dessa obra e aceitá-la como a farofa que se propõe a ser é vender meus olhos por porcaria. Não cheguei nesse nível e espero nunca chegar. Toda piada precisa ser minimamente inteligente, seja nos surpreendendo com a genialidade ou até mesmo com a idiotice. Nem isso conseguimos ter com Thor: Amor e Trovão. 

Por: Lucas Luciano

Supervisão: Anna Julia Paixão

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