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A realidade precária dos entregadores do Ifood

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No início de abril, entregadores foram às ruas das principais capitais brasileiras reivindicar melhores condições de trabalho dentro de aplicativos de entrega. Os protestos que ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Rondônia foram motivados pelo descumprimento do plano de ações estabelecido pelo iFood em dezembro do ano passado.

Na carta de compromisso, a plataforma garantiu que medidas seriam realizadas até março deste ano e,dentre as promessas feitas, estava incluso a possibilidade de revisão da tarifa mínima, que garantiria um aumento do valor pago por quilômetro rodado. O documento foi firmado após o 1º Fórum de Entregadores do país, onde a plataforma e os entregadores se reuniram para discutir melhorias nas condições de trabalho.

Em 2020, o iFood contratou duas agências de publicidade para impedir os movimentos dos entregadores contra a empresa. A estratégia deles era baseada na criação de páginas de memes que ridicularizavam a rotina de trabalho. O público tomou conhecimento dessas informações após a publicação de uma matéria escrita por Clarissa Levy, repórter da Agência Pública. “A grande pergunta que me motivou foi: seria possível que o iFood tivesse produzindo memes na internet para criar uma cultura positiva em relação a super exploração de trabalho?”, afirmou a jornalista. 

 A reportagem teve grande repercussão pela internet, atingindo quase 20 mil curtidas no Twitter da Agência Pública (@agenciapublica), e foi republicada por veículos como Folha de São Paulo e O Globo. Clarissa afirmou que, por ser uma pauta que as pessoas tinham medo de falar, o processo de investigação foi longo. “Há muito medo por ter represálias profissionais, medo por não poder se envolver numa denúncia de algo que elas já haviam trabalhado”, comentou a repórter. 

O entregador Paulo César conta que, para conseguir uma renda favorável, é preciso estar em mais de um aplicativo de delivery e contesta a necessidade de mobilização entre os trabalhadores da área para reivindicar aquilo que é direito deles: uma taxa decente de trabalho. O estudante de administração, Fernando Amaral Pereira,  durante a pesquisa para sua dissertação, descobriu que o iFood manipula as taxas, aumentando e colocando bônus quando não tem entregadores na rua. Porém, quando há grande circulação de trabalhadores, eles voltam para o preço normal.

O universitário entrou em 49 grupos de entregadores de todo o Brasil no Facebook para entender melhor sobre essa classe de trabalhadores. Durante a sua pesquisa, Fernando descobriu que através das redes sociais, eles conseguem se mobilizar para terem suas demandas atendidas. Ele também afirma que esses grupos foram responsáveis pela amplitude da manifestação, mesmo com a tentativa de desmobilização por parte do iFood.

Romolo Souza, entregador de Araraquara, comentou que durante o primeiro dia da manifestação, a plataforma realizou uma promoção, com o intuito de desestabilizar o movimento. O entregador reivindica que, além da falta de pagamentos justos, os trabalhadores sofrem com a falta de planejamento de segurança por parte do vínculo empregatício. 

Os entregadores Paulo e Romolo alegam que trabalham em uma condição precária e que não têm assistência caso aconteça algum acidente. “As condições que eu vejo do trabalho dos entregadores é uma condição precária, uma condição na qual o trabalhador não tem garantia nenhuma, não tem segurança nenhuma. É semelhante a escravidão, é super exploração”, finalizou Romolo.

 

Reportagem: Guilherme Dias, Lorenna Medeiros, Maria Clara Patrício e Renan Schimid

Supervisão: Clara Glitz, João Pedro Fonseca e Ricardo Ferro

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