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Burnout pós-pandemia: como os novos modelos trabalhistas contribuem para a doença

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No início de 2020, o mundo se deparou com uma pandemia que mudaria as relações interpessoais, em especial, as relações trabalhistas. Abandonando o conceito clássico e tradicional do escritório, muitas empresas foram forçadas a implementar o Home Office, uma forma de trabalhar a distância. O mercado de trabalho não foi mais o mesmo, a metodologia de produção se solidificou e, com ela, vieram consequências que descendem desse ambiente não tradicional de trabalho.

O que é Burnout?

Criado durante os anos 70 nos Estados Unidos, o conceito e o termo “Burnout” explica os motivos pelos quais vários trabalhadores, principalmente de corporações, sofriam de estresse, exaustão extrema e desgaste físico. Relacionada à precarização nos cuidados pessoais e ao desequilíbrio da saúde mental, a Síndrome do Burnout se apresenta como uma resposta direta a uma cultura de trabalho desagradável e relações precárias que o indivíduo tem com suas funções laborais.

A Síndrome do Burnout é tratada no Brasil como uma doença profissional pelo Ministério da Saúde desde 1999. Diversos estudos foram feitos analisando como as relações profissionais e o ambiente de emprego podem gerar esse distúrbio emocional, que causa esgotamentos físicos e mentais às pessoas. No entanto, o termo recebeu destaque na mídia recentemente.

Mudança permanente nas dinâmicas trabalhistas

O mundo e a sociedade enfrentam mudanças a respeito das dinâmicas laborais, da forma como ela é entendida e processada pelos trabalhadores. Os riscos sofridos pelos funcionários de instituições com condutas prejudiciais de negócio são diversos e perceptíveis. O médico do trabalho, Marcelo Brandão, reflete sobre os ambientes de serviço que favorecem o Burnout. “Geralmente são ambientes com baixos níveis de apoio e de estímulo para o desenvolvimento pessoal. A má comunicação e os estilos de liderança falhos que esses tipos de empresas oferecem, visam apenas lucrar e obter resultados de forma rápida”.

A precarização entre o indivíduo e suas responsabilidades profissionais podem ser solucionadas com a adoção de práticas que melhoram a dinâmica do trabalho. Segundo Marcelo, a definição de objetivos reais e a melhora na comunicação entre os indivíduos dentro da empresa são fundamentais. O médico ainda ressaltou a importância da empatia e do não julgamento do indivíduo. Para ele, esses comportamentos ajudam a criar uma rotina mais saudável entre seus empregados. 

Por mais que o Burnout seja mais reconhecido em funcionários de grandes corporações, ele tem um alcance em todas as dinâmicas trabalhistas. O atendente de um comércio local, Kaique Deyvison, relata como as pressões profissionais que estava vivendo causaram propensão à doença.“ Eu tinha acabado de completar 18 anos e sentia muita pressão para conquistar meu futuro logo pra ser alguém na vida. Eu transitava por várias emoções durante o dia, era tudo muito intenso”. 

Outro fator que contribui para a síndrome é o modelo de Home Office. Sem os limites de espaço definidos, pessoas que trabalham em casa encontram dificuldade em se aproximar de outros funcionários da empresa. Beatriz Cunha, estagiária da área do direito administrativo, fala sobre sua relação com seus colegas de trabalho no formato híbrido. O contato do dia a dia faz a gente se entender mais. Hoje, se estiver acontecendo algo na minha vida que possa afetar meu trabalho, eu vou ter uma abertura gigante para explicar e eles vão me entender.”

Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a Síndrome do Burnout, através da 11ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-11), como doença ocupacional. Agora,ela é indicada como síndrome resultante do estresse crônico no contexto laboral que não foi efetivamente administrado. 

Além disso, aqueles profissionais que forem diagnosticados com Burnout têm direito às mesmas garantias trabalhistas e previdenciárias previstas às demais doenças do trabalho. Assim, o sujeito diagnosticado passa a ter direito a licença médica de até 15 dias de afastamento remunerados pelo empregador e auxílio-doença acidentário pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Caso ultrapasse este tempo estabelecido, é garantido uma estabilidade provisória. 

A Síndrome do Burnout é uma doença complexa. Cada dia nos deparamos com mais casos e pessoas enfrentando uma realidade dolorosa. A ajuda de um profissional especializado é essencial para que um possível transtorno não se agrave criticamente. Kaique, reflete a importância do autocuidado e do acompanhamento médico durante o processo de recuperação: “Cuide da sua pessoa, você não é seu trabalho e não precisa sofrer para merecer. Não se cobre tanto, tudo acontece no seu tempo, se ame e não tolere atos que corrompem seu bem-estar”.

Reportagem: Carolina Dorfman e Pedro Henrique Mello

Supervisão: Joana Braga

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