Conversa com Thaisa Coelho: seremos mesmo substituídos pela inteligência artificial?
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Nas salas de aula, no trabalho, na elaboração de pautas e reportagens, existe uma ferramenta em comum que colabora no desenvolvimento da produção jornalística: a tecnologia. A palestra com Thaisa Coelho, head de produtos digitais de notícias do g1, aconteceu nesta última terça-feira (10), no auditório da ESPM-Rio, e teve como ponto de partida a importância da inteligência artificial na profissão. A jornalista destacou como o novo recurso está transformando as redações, desde a geração de pautas até a produção de reportagens.
Responsável pela estratégia de negócios, tecnologia e evolução, ela apresenta aos alunos de jornalismo alguns dados que evidenciam a ascensão da IA no mercado de trabalho. Em fevereiro deste ano, um levantamento feito pela Page Interim – responsável pelo recrutamento especializado e gestão de profissionais da empresa PageGroup – revela que 76,6% dos respondentes no Brasil, acreditam que a tecnologia resultará no desemprego e na falta de privacidade e segurança de dados.
Thaisa instigou a audiência a questionar o que realmente define inteligência, em meio ao contexto de inteligência artificial. A jornalista explicou que, embora o ChatGPT esteja capacitado para gerar respostas coerentes, a busca por soluções “corretas” é uma expectativa equivocada. As ferramentas não foram treinadas para isso. A plataforma se propõe a responder de forma similar a humana, e não de forma definitiva. “O objetivo não está na correção da informação, mas sim na proximidade que esses textos ou vozes se parecem com a humana.”, afirma.
Para exemplificar a relação do uso da inteligência com o valor emocional do trabalho jornalístico, a palestrante mostrou a reportagem do Jornal Nacional sobre o cavalo caramelo no telhado durante as enchentes do Rio Grande do Sul, em maio deste ano. Segundo ela, esse é um exemplo de matéria na qual a IA não consegue competir com o sentimento humanitário: “A máquina é um reflexo nosso, mas a experiência molda nosso olhar de forma única. Ao comunicar, sobretudo em um mundo marcado pela disputa de atenção, a maneira como narramos nossas histórias e o repertório que carregamos ultrapassa qualquer capacidade artificial”.
O caminho é conciliar os avanços tecnológicos com o jornalismo tradicional. Durante a palestra, ela destacou algumas situações em que a inteligência artificial se tornou uma prática necessária. Ela usou de exemplo o monitoramento de notícias, o resumo e simplificação de documentos oficiais que é recebido na redação, e na revisão das matérias, a partir da plataforma de análise Chartbeat – ferramenta que auxilia editores na compreensão de comportamentos de leitores, e como otimizar a experiência do usuário.
Entretanto, os impactos não podem deixar de serem mencionados. A velocidade da informação também traz desafios como a proliferação de fake news, o reforço de preconceitos e a ameaça à privacidade dos dados. Thaisa reforçou a importância do preparo dos profissionais para lidar com essas novas realidades, buscando um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a ética jornalística.
O bate-papo evidenciou a relevância das ferramentas digitais para a disseminação da informação e a interação com o público no cenário jornalístico atual. Ao promover essas discussões dentro da faculdade, os alunos conseguem ampliar o conhecimento sobre as novas tecnologias e possíveis aplicações na profissão, desenvolvendo habilidades essenciais para atuar no mercado.
“Acredito que falar sobre os impactos da Inteligência Artificial no Jornalismo é uma conversa que não pode ser adiada. Temos que pensar em como vamos nos adaptar e usar essas ferramentas tecnológicas com responsabilidade e ética. Acho que trazer profissionais do mercado de trabalho para conversar com a gente na ESPM é uma baita oportunidade. Na noite de ontem trocamos ideias e até mesmo compartilhamos certas preocupações com o avanço da IA na comunicação.” – relata Catharinna Marques, aluna do quinto período de jornalismo.
No encerramento do evento, Matheus Francisco, analista de produto digital na Globo, apresentou aos estudantes a página de jogos do g1 na qual ele participa da elaboração. Além de entreter, eles se alinham aos interesses dos leitores, estimulando habilidades cognitivas como concentração e raciocínio lógico. Ele também promoveu um momento de descontração para os estudantes com um dos jogos que ele ajudou na criação, o ‘Dito. Inspirado no Wordle do jornal americano The New York Times, o jogo consiste em tentar adivinhar a palavra do dia, que possui cinco letras, em menos de seis tentativas. Os três primeiros ganhadores conseguiram, para além da diversão, levar brindes para casa.
Capa: Miguel Andrade
Reportagem: Joana Braga
Supervisão: Carolina Dorfman e Vinicius Nunes