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Um sonho que se tornou projeto: como o Ame o Santo Amaro transforma vidas na favela

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“Tinham famílias que estavam dando água com açúcar para os filhos não dormirem com fome”. Esse era o cenário quando o estudante de administração e morador da comunidade Santo Amaro, Lucas Pessoa, chegou de viagem para São Paulo no começo da pandemia.

Conforme relatado pelo entrevistado, o coletivo “Ame o Santo Amaro” surgiu devido a necessidade de políticas públicas dentro da comunidade. De acordo com o mesmo, este sentimento de urgência foi potencializado pelo contexto da pandemia de Covid-19. Diante de milhares de pessoas desamparadas e buscando ajuda, o trabalho começou com a distribuição de 100 marmitas, feitas por ele junto com outros dois amigos, que juntos distribuiam para os moradores. Hoje, pouco mais de quatro anos depois, o projeto conta com mais de 35 voluntários espalhados pelo mundo, e mais de 9 mil pessoas impactadas pelo seu trabalho.

Esta é a história de Lucas Pessoa. Nascido no dia 16 de outubro, seu aniversário é celebrado junto ao dia mundial do combate à fome, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Foi adotado por sua família com seis meses de vida, e conta que em toda sua trajetória, esteve apenas por três anos morando fora da comunidade. É integrante da International Human Rights Advocacy da ONU, e já ganhou diversos prêmios, como o de Melhor Voluntariado do Brasil pela plataforma “VoL”, e o prêmio Edson Luís, pela categoria educação. Este último concedido pela prefeitura do Rio de Janeiro em setembro de 2022.

Lucas Pessoa, criador do projeto “Ame o Santo Amaro” (Foto: Miguel Andrade)

Ainda durante o cenário da pandemia, Lucas enxergou a necessidade de ampliar o trabalho de distribuição de marmitas. Assim surgiu o primeiro núcleo do coletivo: “Ame Estudar”, que visa a educação popular “de morador para morador”. “Porquê a gente tem que descer o morro todo dia para fazer um curso, uma aula?” ele questiona. Atualmente, o polo educacional criado por ele e sua equipe atende 60 crianças em toda a comunidade. O projeto conta com aulas de inglês, espanhol, reforço escolar e diversas oficinas. Algumas, como a de educação ambiental, ocorre em parceria com a Secretária Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro. A iniciativa se propõe a ser um complemento à sala de aula, e é organizada, portanto, de forma a não coincidir com os horários onde estes alunos estão na escola.

“Você muda a vida de uma família, se você conseguir ajudar a mãe” –  foi essa fala de sua mãe, Ana Maria, que o incentivou a criar o núcleo “Ame Elas” , dedicado à educação popular. Esta vertente do projeto foi criada para mulheres, e inclui rodas de conversa que mobilizam pautas dentro da localidade, a exemplo do combate à pobreza menstrual. O núcleo hoje possui 12 aulas/oficinas ativas, com eixo multidisciplinar, onde trazem desde educação básica a tecnologia, e debates sobre meio ambiente.

Ao todo, o coletivo conta com sete núcleos. Além dos já mencionados “Ame Estudar” e “Ame Elas”, o projeto inclui o “Ame Trans”, que faz um trabalho de captação de vagas de emprego voltadas ao público transsexual, além de conscientização e lutas pela comunidade trans. O “Cine Amaro”, que busca democratizar o acesso ao cinema, traz filmes que promovam debates sociopolíticos e que conscientizam o público que está assistindo, e atua também como um espaço de lazer.

Outro núcleo inclui o “Poderosas do Santo Amaro”, que oferece aulas de futebol para as meninas e mulheres do morro, promove equidade de gênero e debates sobre saúde mental. O núcleo conta com a parceria do futebol feminino do Clube de Regatas do Flamengo. O “Observatório do Santo Amaro” conta com apoio de pesquisadores que trabalha com levantamento de dados e elaboração de pesquisas a respeito de aspectos demográficos da comunidade. O último relatório levou em conta indicadores sobre a qualidade da água fornecida ao Santo Amaro.

O projeto “Ame o Santo Amaro” foi criado em 2020, e atualmente atua em sete núcleos (Foto: Miguel Andrade)

Envolvido nos debates mais atuais sobre transformação social  e justiça climática, Lucas Pessoa trouxe os temas comentados nos eventos que participa da ONU para sua realidade cotidiana. Assim surge o “Santo Amaro Verde”, voltado para educação ambiental, políticas de conservação e articulações governamentais. Este é o braço mais recente do projeto, criado em janeiro de 2023.

Além do trabalho de formação e conscientização ecológica, o núcleo realiza monitoramento das encostas que existem no perímetro da comunidade – uma pauta fundamental para os moradores da localidade. Afinal, ainda no mês de maio, um deslizamento deixou 12 casas interditadas. Este núcleo também atua em conjunto com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro.

 

Capa: Miguel Andrade

Reportagem: Miguel Andrade

Supervisão: Vinicius Nunes

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