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A crise hídrica e seus impactos na produção de energia

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O Brasil  vem sofrendo, nos últimos meses,  com a possibilidade de escassez de luz no território nacional. Reservatórios abaixo do nível normal, grande demanda por energia em virtude do home office e até o desmatamento são alguns pontos levantados para explicar a situação atual do país.  O presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista para Jovem Pan, na última semana, dia 27 de setembro, que não há total garantia de que os apagões vão deixar de ocorrer, mas que o fornecimento de energia será mantido para a população. 

A crise hídrica atual atinge diretamente a produção de energia, já que a principal fonte de geração vem das usinas hidrelétricas. No momento, os reservatórios se encontram em níveis abaixo da média esperada. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico, o nível médio de concentração de água está abaixo de 20%. O geógrafo, Otávio Robaina, analisa que não há uma causa única para o aumento dos gastos em energia, como muitos justificam pelo efeito reverso do horário de verão, a falta de um consumo consciente e o aumento de produtos elétricos do home office. “As hidrelétricas, os mananciais e os reservatórios são do poder do Estado, ou seja, é uma administração do Brasil, não é um problema só de 2020”, explica o professor. 

Nos últimos anos, o país vem sofrendo com o desmatamento e áreas de queimadas, o que faz com que haja uma interferência no ciclo hídrico. Um dos lugares que mais tem se prejudicado com essa retirada da vegetação é a região do Cerrado, conhecida como o berço das águas brasileiras. Segundo o Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil, o Cerrado é o segundo bioma que mais vem sendo desmatado, com estimados 31,2% do total das terras. O geógrafo Luiz Cláudio Cardoso explica que a gravidade da situação está na alteração da vegetação local, e que estas interferências atrapalham o processo de retenção da água do solo, que impede que o ciclo de reabastecimento das nascentes aconteça. O professor ainda acrescenta sobre a alteração dos ambientes naturais. “O ciclo hidrológico faz tanto a recarga da água, quanto a alimentação da atmosfera e da água do subsolo, e isso está sendo afetado pela nossa maneira de viver e produzir”, concluiu.

O clima brasileiro, o grande reservatório de água doce e o regime de chuvas são fatores que contribuem para que o país não passe por uma crise hídrica. Contudo, a má gestão econômica e ambiental gerou a situação atual. O engenheiro civil, Felipe Pereira, acredita que o uso das hidrelétricas seria a melhor opção para o Brasil: “Elas não apenas produzem, como também podem armazenar energia, estocando o excesso de água dos períodos úmidos nos reservatórios para serem usados em períodos mais secos.” Por mais que neste momento haja falta de água nos reservatórios, o Brasil possui um diferencial hídrico que o possibilita de fazer uso desse meio de produção de energia de forma excepcional. 

A respeito da influência da geopolítica na produção brasileira, o professor Luiz Cláudio explica que, sendo o Brasil um  país periférico, que por meio da exportação de commodities atende aos interesses dos países ricos, o que se vivencia é uma relação de comércio desvantajosa. “Essa pressão muito grande pela produção interna de commodities leva também à expansão da fronteira agrícola, o que tem sido verificado no Centro-Oeste e na Amazônia. Com isso, há uma maior possibilidade de produção, mas, ao mesmo tempo, uma aceleração do desmatamento no país.”

A crise hídrica fez com que os reservatórios ficassem com níveis abaixo da média, prejudicando e preocupando a produção de energia para os próximos meses. Por mais que haja um potencial hídrico vantajoso, o Brasil não pode depender apenas das hidrelétricas, que são consideradas uma fonte barata e limpa. Na situação atual, o governo precisou recorrer para as termelétricas, que utilizam o combustível fóssil, um recurso mais caro e também poluente. Tal recurso faz com que o valor na conta do consumidor acabe aumentando, pois ele precisa pagar uma energia mais cara, e, como estratégia governamental, um controle e economia de energia. 

Ainda segundo o engenheiro, a crise hídrica não é um fator surpresa, já que houve alguns sinais para esses acontecimentos. Ele também deu alguns exemplos para solucionar esses problemas. “Certas medidas já poderiam ter sido tomadas. Por exemplo, uma política para estímulo à economia de água e energia já poderia ter começado mais cedo, para ocorrer de maneira mais agradável para a população”. Tal situação já era prevista por institutos de pesquisa. Porém, o engenheiro também concorda que, com a atual conjuntura, as termelétricas são a melhor solução.

 

Reportagem: Arthur Vilela | Filipe Fernandes | Isabela Garz | Jullia Santarém  

Supervisão: Amanda Domicioli | Letícia de Lucas

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