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Representatividade LGBT no cinema: Reflexão sobre filmes inclusivos no Oscar 2019

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O Oscar 2019 aconteceu no dia 24 de fevereiro, e contou com as indicações mais representativas na história de suas 91 edições. Dentre os 8 indicados para a categoria melhor filme, 4 são inclusivos à comunidade LGBT, sendo eles, Nasce Uma Estrela, Bohemian Rhapsody, A Favorita e Green Book: O Guia. A academia e os diretores do mundo todo têm entendido a importância dessas representações nas produções audiovisuais, vendo o cinema como uma forma de arte e entretenimento que também atua como mecanismo político.

“A lista de indicados representa um ano maravilhoso para inclusão dos LGBT’s em filmes, e um sinal que os membros da Academia estão priorizando narrativas da diversidade, em um momento em que tanto o público quanto a crítica cobram essa posição. A diversidade da lista deve ser celebrada, e com certeza vai ocasionar filmes mais inclusivos”, comentou em nota Kate Ellis, presidente da GLAAD, “Gay and Lesbian Alliance Against Defamation”.

O filme que se destacou na noite do Oscar por ter sido o mais premiado foi Bohemian Rhapsody. O longa, que é uma biografia de Freddie Mercury, teve cinco indicações e levou quatro estatuetas de Melhor Ator, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de Som e Melhor Montagem. Rami Malek, intérprete de Freddie e ganhador do prêmio de Melhor Ator falou em seu discurso: “Fizemos um filme sobre um homem gay e imigrante que viveu sua vida sem pedir desculpas e seu sucesso é a prova de que as pessoas querem ver isso”.  Contudo, Malek e a direção foram criticados por não retratarem Freddie como bissexual, sendo notado como homem gay, como dito na premiação. A atriz Julia Reder, de 21 anos, comentou. “A representatividade do filme foi importante sim, por mais que existam erros. Foi um amor puro que eles representaram, é muito bonito e importante para as pessoas verem que é simplesmente amor, assim como os heterossexuais amam, os LGBT’s também”.

Rami Malek segurando estatueta do Oscar. By Matt Petit/A.M.P.A.S./Getty Images.

Um dos longa metragens mais representativos é A Favorita, que recebeu 10 indicações e ganhou apenas o Oscar de Melhor Atriz pela atuação de Olivia Colman como rainha Anne. O filme se desenvolve no século XVIII e conta a relação amorosa e disputas de poder entre a rainha Anne, a Duquesa de Marlborough e Abigail, uma criada que ganha a confiança da majestade. A trama inverte os papéis convencionais, dá aos homens personagens secundários e trabalha a sexualidade das personagens de forma aberta. Danielle Duque, de 21 anos comenta, “Fiquei muito feliz com a representatividade, mostra que antigamente existia sim a homossexualidade, que não é uma coisa recente, como as pessoas de mente fechada falam”.

Olivia Colman segurando estatueta de Melhor Atriz. Foto ROB LATOUR/REX/SHUTTERSTOCK

Um dos filmes aclamados pela comunidade LGBT, por trazer a cantora Lady Gaga como atriz principal, é Nasce uma Estrela. A trama gira em torno da relação de Ally, uma cantora insegura que trabalha em um restaurante, e Jackson Maine (Bradley Cooper), um cantor no ápice do sucesso que luta contra o alcoolismo. Ally é uma cantora pouco conhecida e conseguiu seu espaço para cantar em um bar de drag queens que a acolheram, além de ter um melhor amigo homossexual que é o único que acredita em sua carreira.

O filme é a mistura de drama com romance e possui uma trilha sonora marcante interpretada pela própria Lady Gaga junto ao Bradley Cooper. A música Shallow foi o maior destaque da obra, além de ter alcançado o topo do ITunes mundial por 100 dias e possuir no Spotify cerca de 395 milhões de reproduções, ganhou o Oscar na categoria Melhor Canção Original.  Gabriel Ferraz, de 20 anos, viu Nasce uma Estrela cinco vezes e afirma, “Ter um filme com a Gaga, que é um ícone LGBT, indicado ao Oscar é muito importante para a comunidade, ajudou a levantar nossa bandeira.”

Lady Gaga e Bradley Cooper cantando Shallow no Oscar. Foto Reuters.

Green Book: O Guia, foi o vencedor da noite, levando para casa a estatueta de Melhor Filme, além de Melhor Roteiro Original e Melhor Ator Coadjuvante. A obra fala sobre Don Shirley, um pianista negro, e a relação construída com seu motorista, Tony Lip, que o acompanha em turnê. O filme tem sido acusado de carregar uma mensagem de que o homem branco é quem salva o negro na história, construindo a representação de “white savior“, ou salvador branco. Nina Carvalho, estudante de cinema de 19 anos, não considerou o filme muito representativo. “A sexualidade do pianista é usada como mais uma justificativa para realçar o salvador branco que é o motorista”.

Peter Farrelly, diretor de Green Book, com o Oscar. Foto Reuters.

Marcos Campello, de 48 anos, é formado em cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e, atualmente, é diretor do Coletivo Transparente, grupo criado por ele para acolher jovens transexuais e transformar suas vivências em arte. Marcos afirma. “É muito difícil dialogar com todos os públicos e o cinema é um caminho viável para criar essa conexão”. Mas também inferiu que, apesar dos avanços na representatividade de grandes filmes estrangeiros, no Brasil, a realidade é outra. O diretor também abordou sobre a variedade de sexualidades e gêneros nas nossas produções audiovisuais não serem devidamente abordadas. Nas grandes obras brasileiras a imagem do homem gay, por exemplo, costuma ser apresentada como algo caricato. A sexualidade resume todo o embasamento do personagem, que, ao não possuir profundidade, serve de alívio cômico e se torna uma piada.

Trazer a imagem dessa minoria para o cinema aproxima o público de realidades que, apesar de serem comuns, nunca foram bem representadas e carregam muitos estereótipos e preconceitos. O ator de 26 anos, Gabriel Rocha, comenta. “A arte que traz uma conscientização acaba sendo vista como cult, um produto para um nicho que tenha interesse por esses filmes”. Afirma também que o cinema brasileiro ainda é muito pensado como “arte para vender”, que as representações não são bem desenvolvidas e os estereótipos ainda são livremente propagados.

 

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