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O olhar seletivo das tragédias

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O ciclone Idai atingiu a África no dia 15 de março, afetando majoritariamente Moçambique, e deixando rastros em Malaui e Zimbábue, totalizando mais de mil mortes. Já a Catedral de Notre-Dame, vítima de um incêndio também trágico não teve qualquer vítima fatal, sendo considerado um desastre do ponto de vista cultural, por ser um dos destinos mais visitados do mundo por turistas e apaixonados pela arte.

Mesmo com a diferença humanitária das duas tragédias, o que fica para reflexão é a mobilização gerada pelo continente atingido em questão. Enquanto a tragédia no país africano demorou cerca de 4 dias para ganhar espaço nos noticiários mundiais, segundo relatos da ONU, a tragédia na capital francesa em poucas horas já era o acontecimento mais falado no mundo. Pelo lado financeiro, a diferença de doações também assusta. Nos seis primeiros dias após o ciclone, as ajudas financeiras destinadas às vítimas somavam 57 milhões de euros, enquanto as doações destinadas a reconstrução da Catedral já contavam 900 milhões de euros no mesmo período.

O repórter brasileiro Vinicius Assis é correspondente internacional na África do Sul, e abasteceu o noticiário brasileiro com informações diretamente de Moçambique durante os primeiros dias da tragédia. O jornalista critica a falta de objetividade na hora da escolha sobre o que vai ser noticiado ou não no Brasil sobre desastres em outros países. “ É de se perguntar qual é o critério para publicar uma notícia internacional. As vezes acontecem pequenos acidentes em países europeus que causam muito mais comoção do que grandes tragédias africanas.”

Para o professor e sociólogo João Rafael dos Santos, essa cobertura e solidariedade seletivas têm uma mesma origem: o racismo. “O racismo é um polvo, cujos tentáculos estão espalhados nos mais diversos setores da sociedade, inclusive na imprensa”. Para o professor, não há dúvidas quanto a existência da seletividade. Ele explica que a cultura Eurocêntrica dos países ocidentais não tolera da mesma forma situações de perigo vividas por negros e brancos. “O corpo branco, quando visto em situações de desastre causa muito mais estranhamento e revolta do que o corpo negro, isso se dá especificamente por conta do racismo introjetado na nossa cultura, pelo Eurocentrismo enraizado desde a colonização.” finalizou.

Pensando nos reflexos que a diferença da cobertura dos dois desastres possa ter provocado no público, o Portal de Jornalismo foi às ruas para testar a memória das pessoas: E você, ainda se lembra das tragédias ocorridas na Europa e na África há dois meses atrás?