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Aprendendo a salvar vidas

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Todos os anos, milhares de pessoas são vítimas de câncer só no Brasil. A doença ainda não possui cura e os tratamentos são muito invasivos, por isso, é causa de tantas mortes anuais. Maria Cecília Massena, de 19 anos, perdeu sua mãe para o câncer aos 14. Desde então, sempre que chegava a data do aniversário da mãe, a jovem passava o dia em casa chorando ou saía para tentar se distrair e evitar a tristeza. Mas, este ano, ela resolveu fazer algo diferente e homenageá-la através de um gesto que salva vidas.

Maria Cecília criou um evento no Facebook com o nome “Doar
sangue”, convidando mais de 500 pessoas a irem ao Hemorio, no dia que seria
aniversário de sua mãe, para ajudar a salvar vidas. E assim foi feito. No dia
22 de maio, a estudante doou sua primeira bolsa de sangue. Ela conta que estava
se sentindo muito nervosa quando chegou ao local, mas, depois de feito, a
sensação foi de orgulho e satisfação consigo mesma.

A vontade de ajudar o próximo foi uma das coisas que ela herdou
de sua mãe. Desde a infância, era incentivada a separar roupas para doar a
outras crianças que precisavam mais. Mas a empatia é apenas um dos pontos que elas
têm em comum. Maria Cecília diz ser extremamente parecida com a mãe, tanto de
jeito quanto de aparência, e adora essas semelhanças. Guarda sentimentos intensos
de carinho e admiração. “A minha mãe era tipo uma faísca. Ela era contagiante,
era a risada que ela dava e todo mundo dava junto”, afirma a jovem.

Seis meses depois do falecimento, Maria Cecília fez sua
primeira tatuagem. No pulso direito, carrega escrito “Te amo” com a letra da
mãe, que havia deixado algumas cartinhas, sendo uma delas para a filha. A
menina só descobriu sobre a carta depois da perda. Tirou uma cópia, recortou o
final, onde a mãe dizia que a amava, e então eternizou a pequena frase em sua
pele.

Vera Maria Massena, avó de Maria Cecília, foi quem cuidou da
menina e continua cuidando. Aos 80 anos, ela diz que admira muito a decisão da
neta de dedicar o aniversário da mãe para salvar vidas, mas garante que, apesar
do tempo, continua sendo um dia muito difícil: “Ela sente até hoje, mas a vida
urge. É um dia atrás do outro, sempre tem um sol que nasce e a vida continua”.

Maria Cecília diz que sua avó sempre fez parte de sua criação,
pois a mãe viajava muito a trabalho e elas ficavam duas ou três semanas sem se
ver. Por isso, ela diz que a parte mais difícil não foi perder a mãe, mas
aceitar que, dessa vez, não era temporário. Apesar da dor e da saudade, hoje,
aos 19 anos, acredita que o que aconteceu tinha que acontecer e entende que foi
importante para sua formação como pessoa. “Quando eu tinha 14 anos eu não
entendia o que era o câncer, mas tudo que aconteceu me transformou. Apesar de
eu ter sofrido, foi uma coisa que me tornou quem eu sou hoje e eu não mudaria”,
conta a estudante.

A ideia de prestigiar sua mãe foi elogiada por muitas
pessoas. Luiz Carlos Nunes, de 20 anos, é amigo de Maria Cecília e a define
como uma pessoa incrível de coração gigante e achou sua iniciativa algo
fantástico. “Me emocionou bastante e me cativou. Mostrou que, apesar de ser um
assunto sensível, ela tem força para lidar com isso”, conta Luiz. O estudante
não pôde doar sangue no dia, pois havia feito uma tatuagem recente e esta é uma
das restrições para doação no Hemorio,
mas já é um doador há dois anos.

Maria Cecília pretende continuar sendo uma doadora
e em cada ano, no aniversário de sua mãe, superar alguma barreira e fazer algo
novo. Em alguns anos, quer fazer parte de uma ONG ou auxiliar no INCA. Para
ela, ajudar o próximo é fundamental e a jovem carrega sempre consigo uma das
maiores lições que aprendeu com sua mãe, o trecho de uma canção de Geraldo
Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Reportagem: Carolina Sampaio

 

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