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A animação além do infantil

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  • Reportagem de Davi Barbosa

Não é de hoje que filmes de animação se destacam por seu caráter fantasioso. Desde o lançamento de “A Branca de Neve” pela Disney em 1937, os filmes de princesas, principalmente, se tornaram um grande marco entre os longas animados infantis. Além disso, por muito tempo tiveram sua narrativa pautada na figura de uma donzela frágil à espera de seu príncipe encantado. Contudo, com o passar do tempo e com as mudanças sociais, o conteúdo desse produto vem se transformando.

O filme “Valente”, lançado em 2012,  não retrata mais a princesa da forma tradicional, como nos outros filmes da Disney. Nele, a protagonista é aquela garota que não quer ser a “princesinha”, mas sim a aventureira, quebrando um esteriótipo construído desde 1937. A jovem princesa Merida, que sempre se identificou mais com o espírito selvagem do pai, quer seguir seus passos e ser uma guerreira e usar as armas que são permitidas apenas aos meninos. Para o professor de design Maurício Vidal, por possuir efeitos exagerados que vão bem além da realidade, o cinema animado é um grande atrativo às crianças e, sendo assim, se mostra como um importante veículo para a transmissão dessas mensagens. “A criança tem a imaginação e isso faz com que ela receba melhor a animação do que os longas filmados.”

Produções audiovisuais devem ser sensíveis ao olhar do mundo e acompanhar o contexto da sociedade na qual estão inseridas. De acordo com o professor de computação gráfica da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Marcello Rosauro, a animação sempre foi explorada das mais variadas maneiras. “É uma forma de se contar uma história. Com o desenvolvimento da computação gráfica, ampliou-se as linguagens e narrativas a serem exploradas, onde essas acompanham a própria evolução humana e as relações interpessoais”.

Como toda produção de conteúdo, as animações fazem parte de um mercado e, por isso, é preciso observá-las além deste viés. Gustavo Uliana, 25 anos, é aluno de audiovisual da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP-SP) e vencedor do Prêmio de Melhor Animação do Festival de Curtas da FAAP com sua obra “Há Vagas”. Ele possui como tema principal a distopia, no qual é apresentado ao telespectador uma visão negativa do futuro, tendo em vista as várias mazelas sociais, com o objetivo de não apenas entreter, mas também gerar uma reflexão em quem assiste”.
Para ele o cinema tem o intuito de dar voz à uma história. “O cinema possui sua função social e o telespectador precisa passar por um processo de identificação com aquela narrativa”. Além disso, Gustavo diz ser preciso discutir, principalmente com o público infantil, questões sociais como o feminismo e o racismo. De acordo com o estudante, por ser um conteúdo que abrange todas as faixas etárias, a animação deve ser utilizada como um importante meio de informação e conscientização.

 

Cena do filme “Viva! A Vida é uma Festa”/Divulgação Disney/Pixar.

 

Segundo a psicóloga Isabela Vieira, a criança é muito influenciada pelos programas que assiste. “Uma animação influencia tanto o comportamento quanto a autoestima. Mexe muito com a forma que a criança se enxerga no mundo”. De acordo com ela, principalmente em relação às personagens femininas, as animações têm um importante papel no desenvolvimento infantil. “A mulher sempre foi colocada como a personagem frágil e indefesa. Com a mudança na sociedade, as animações acompanharam isso, e hoje, as meninas estão muito mais donas de si”.

“Touro Ferdinando” e “Viva! A Vida é uma Festa” são alguns dos longas animados lançados em 2018. Ambos trazem em sua narrativa a ideia de respeito às diferenças. Ferdinando e Miguel, protagonistas dos filmes respectivamente, em meio a uma época de grande intolerância à diversidade, trazem consigo uma importante reflexão sobre respeitar as diferenças. O que mostra que a animação, além de ser um objeto de fantasia e entretenimento, vai continuar exercendo um papel fundamental na educação e na construção da personalidade infantil.

 

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