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Sobrevivente do massacre de Realengo conta detalhes após seis anos da tragédia

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Reportagem de Isabelle Rodrigues, Karoline Kina e Raquel Prazeres

“Do nada eu senti uma queimadura e pensei ‘será que eu tomei um tiro?’ Aí eu parei de me mexer, fingindo”. Foi assim que o baiano Diego Vargas percebeu que era mais uma vítima do massacre da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo. Há dois anos no Rio de Janeiro, o menino, que tinha apenas 12 anos na época, foi atingido três vezes: duas vezes na costela e uma no dedo, de raspão.

O dia 7 de abril de 2011 ficou marcado de forma tão intensa em sua vida que ele lembra dos mínimos detalhes. “Eu lembro de tudo, até da roupa que ele estava. Ele estava de calça preta, camisa social verde, cinto preto e com luvas, munições e duas armas”, conta Diego, se referindo ao assassino. Além disso, vivenciou cenas muito fortes, como a morte de muitos colegas de classe e o sofrimento dos feridos.

Ao descrever esses momentos, Diego traduz o horror deste dia através de gestos e expressões involuntários, como ao lembrar de seu amigo Luan sendo atingido. “Ele [o policial] colocou o Luan perto de mim e eu disse ‘calma, vai ficar tudo bem’. Eu olhei pra cara dele e não dava pra reconhecer, porque ele levou um tiro no olho. Eu comecei a gritar e ele tava agonizando”. Ele conta também que se deparou com um pai perguntando por seu filho e, sem saber como dar a notícia que o menino havia morrido, apenas balançou a cabeça, deixando o pai em estado de choque.

Diego e sua mãe, Débora Diau, um ano após a tragédia. | Foto: Acervo pessoal

A família de Diego também passou por momentos de desespero. Após receberem a notícia do atentado, foram procurá-lo na escola e, sem sucesso, foram encaminhados ao hospital, onde também não localizaram o menino por um erro de registro. “Procuraram meu nome e não acharam porque tinham escrito errado. Disseram que tinham que ir no necrotério pra ver se o corpo estava lá”. A angústia só acabou quando uma vizinha de sua tia deu a notícia de que ele estava no Hospital Estadual Albert Schweitzer, saindo de uma cirurgia. Ele ainda passou por outro procedimento cirúrgico por conta de problemas respiratórios. Ainda no hospital, o menino recebeu a visita do jogador Ronaldinho Gaúcho, que na época jogava pelo Flamengo.

Visita do jogador Ronaldinho Gaúcho durante seu tempo no hospital. | Foto: Reprodução

No ano seguinte, Diego voltou à mesma escola para terminar o Ensino Fundamental. O rapaz não apresentou nenhum sintoma de depressão ou outras doenças psicológicas. Atualmente, ele permanece com uma bala alojada na costela mas, apesar disso, vive uma vida normal e fala sobre o atentado abertamente. Além disso, trabalha como operador de call center e ainda pensa em fazer a prova para ser fuzileiro naval.