Nova categorização da OMS aos transexuais divide opiniões
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Nesta segunda-feira, na 72º assembleia mundial da saúde, organizado pela OMS em sua sede na Suíça, ocorreu a retirada da transexualidade enquanto doença mental, passando da categoria de transtorno mental para a categoria de saúde sexual. A reclassificação de “distúrbio de identidade de gênero” para “incongruência de gênero” foi oficializada na nova versão da Classificação Internacional de Doenças, a CID-11.
A Classificação Internacional de Doenças (CID) é utilizada pelos países para ajudar a definir seus planos, sistemas e padronizações de estatísticas de saúde, ou seja, neste caso a mudança na classificação ajuda na busca da comunidade trans por mais inclusão e receptividade social, auxiliando na mudança da estigmatização de sua condição. Incongruência de gênero é quando uma pessoa vive em conflito interno entre o seu gênero biológico e aquele ao qual se identifica, porém, nem toda pessoa transsexual sofre com a incongruência de gênero.
A psicóloga Marcelle Raja revelou que, entre psicólogos, essa diferenciação não existe. “Em geral, na psicologia a gente não tem essa diferenciação entre transtorno mental e transtorno comportamental, até porque o transtorno mental tem um grupo de comportamentos e sintomas que o caracterizam como tal. Essas coisas não são separadas”. Apesar de não haver diferenciação entre as categorias modificadas, para a psicóloga é extremamente importante esse reconhecimento da OMS de que a transexualidade não é uma doença, porque muda toda uma forma da sociedade se relacionar com a questão da transexualidade.
Ariel Nobre é idealizador do Projeto Preciso Dizer Que Te Amo, que atua na sensibilização e prevenção de suicídios de homens trans e considera a medida insuficiente: “Eu acho que primeiro a população deve ser contabilizada e incluída na questão do censo, e depois com esses dados, a gente ter políticas públicas.” O publicitário de 31 anos acredita que é importante a inclusão desse grupo nas decisões das políticas públicas e não só recebê-las. “A ideia é ter uma força tarefa que envolva várias instituições para colocar pessoas trans nos espaços de decisão.” analisou.
A saúde mental tem sido um tema muito debatido no século 21, um dos canais que tem feito mais sucesso no meio é o podcast Esquizofrenóias. A jornalista e ex-participante do programa Pânico na Rádio Jovem Pan, Amanda Ramalho, comanda o projeto que tem o tema como foco dos debates. “A passos lentos a saúde mental tem caminhado. Estranho pensar que até ontem a transexualidade era tida como doença. O suicídio entre trans é elevadíssimo e precisamos olhar com muito mais atenção para essa parcela da sociedade”, analisou. Para a apresentadora, é preciso capacitar profissionais e apresentar o problema sempre que tivermos a oportunidade.
O Brasil lidera a lista de mortes de transexuais e travestis no mundo, com 868 casos, mais que o triplo do México, segundo colocado de acordo com pesquisa feita entre janeiro de 2008 e julho de 2016 pela ONG Transgender Europe. A expectativa de vida da população chega apenas aos 35 anos, enquanto a expectativa de vida em geral no país chega a 75 anos, de acordo com a última pesquisa do IBGE.