Mulheres negras em espaços de poder
Compartilhar
O Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho, marca a resistência da população negra para diminuir as desigualdades e a violência, principalmente no que se refere à condição de mulher preta. No Brasil, é conhecido como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e homenageia um símbolo de liderança e resistência na luta contra a escravidão. A data tem como objetivo trazer maior visibilidade à luta e também, fortalecer organizações voltadas a essas mulheres.
Ao longo de toda a história, mulheres negras são as mais afetadas pela estrutura racista do país. Essa desigualdade mostra-se em diversas áreas, principalmente, quando se trata de espaços de poder. No Brasil, a maior parte dos ambientes de liderança e cargos de direção ocupados por mulheres, somente 0,4% são pretas e 1,6% ocupa a função de gerência, segundo dados do Instituto Ethos e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Na visão da filósofa Aza Njeri, as alarmantes desigualdades inseridas no país contribuem para a manutenção dessa estrutura. E acrescenta: “Há o genocídio da população negra com seus múltiplos tentáculos que avançam no feminicídio, violência obstétrica, subalternidade profissional no que tange às mulheres”. Contudo, Aza acredita que as gerações estão lidando da melhor forma que conseguem lidar e que erros do passado se repetem. “Cada geração só consegue dar o que lhe é possível dentro de suas realidades histórico-sociais, mas há avanços positivos rumo a um futuro que está sendo construído neste tempo do agora”.
Em espaços ocupados majoritariamente por pessoas brancas, elas precisam se esforçar muito mais para alcançar notoriedade, principalmente no campo profissional. Segundo a modelo e influenciadora digital Lu Vilaça, ser negra sempre vai ser quatro vezes pior, uma vez que para obter sucesso é necessário ser quatro vezes melhor em tudo. Ela ainda aponta o privilégio branco enraizado na sociedade, ”temos que lutar para conseguir as coisas e, às vezes, uma pessoa branca faz a mesma coisa e tem mais reconhecimento, só pelo simples fato de ser branca”.
Essa é uma realidade vivenciada por boa parte dessas mulheres, como a empresária Irlaine Tavares, que compartilha do mesmo ponto de vista. “Eu sempre procurei saber mais, estar sempre à frente dos demais, eu sei e sempre soube que eu teria que estar com uns dois passos à frente”.
Assim como para a cantora e ativista Bia Ferreira, que percebe os espaços que não tem metade das pessoas negras e alerta que, em um país de maioria negra, observar condições como essa deveria ser obrigação de toda a população. “É estranho porque a gente vive em um país que tem 56% da população preta, então é chocante saber que o povo preto não é 56% em todos os espaços”.
O apagamento de mulheres pretas dentro desses ambientes é algo recorrente no sistema racista de construção do mundo que é feito no sentido de seguir as regras do padrão. Assim, tudo que foge a ele não é bem visto, fazendo com que muitas mulheres se sintam desencorajadas e pensem em desistir da sua arte e trabalho: “Acho que não só eu, mas muitos artistas pretos se sentem desestimulados, às vezes desistem de continuar fazendo arte por causa desse não reconhecimento, por causa dos poucos recursos e da falta de investimento”, conta Bia Ferreira.
Desde cedo é necessário pensar em como iniciar o pensamento de protagonismo feminino negro, já que as crianças não tem muitas referências no mercado de trabalho e na indústria no geral. O podcast Siririca Co. trabalha na relação do protagonismo da mulher negra e visa compartilhar experiências que possam ajudá-las a se conhecer e a entender situações sobre o meio em que vivemos. “Desde a infância frisamos a necessidade de representatividade feminina negra, seja nos desenhos, nas publicidades e outros veículos, construindo perspectivas e levando até os inúmeros ambientes corporativos da vida adulta”.
Bia ainda reforça a importância de se estimular o intelecto e a memória ancestral, para que essas mulheres saibam que o conhecimento pode transformar vidas e que a maior beleza que os jovens pretos têm é o intelecto. “Lembrar as meninas pretas que nós descendemos de reis e rainhas e que nós podemos ocupar espaços de poder, que podemos estar em lugares onde o sistema diz que nós não vamos estar.’’
Por: Bruna Barros e Eloah Almeida
Supervisão: Maria Luísa Martins e Patrick Garrido