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Distância e saudade: os desafios de quem trabalha longe da família

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Reportagem de Karoline Kina e Raquel Prazeres

Aprender a lidar com a saudade é o principal desafio de quem precisa trabalhar distante de casa. Seja por escolha própria ou não, essas pessoas  mudam completamente suas vidas em função de suas profissões e abrem mão da convivência com os familiares e amigos para viverem essa experiência.
É o caso de Julia Cruz, de 22 anos, que é comissária de bordo há 3 meses e resolveu seguir a carreira por influência de sua mãe, também comissária. Ela conta que sempre quis trabalhar fora do país e que já está acostumada a passar as datas comemorativas longe de casa: “Às vezes me sinto muito sozinha aqui e a saudade aperta, mas tenho a impressão de que é muito mais difícil para a minha família do que para mim”, conta. A jovem chegou a fazer faculdade, mas assim que recebeu a oportunidade de trabalhar na Qatar Airways, foi sem pensar duas vezes: “sinto que minha casa é aqui em Doha e que eu só vou voltar para o Brasil de férias”.

Apesar de já estar acostumada, ela afirma que a distância afetou muito a forma de se relacionar com a família. “Hoje eu converso muito mais com o meu pai e estou muito mais amiga do meu irmão. A minha relação com a minha mãe diminuiu porque éramos muito juntas e agora às vezes eu estou voando e ela não, ou vice-versa”. Mesmo com as dificuldades, ela conta que a internet é uma boa forma de amenizar a saudade e que mantém um contato frequente com os pais por meio das redes sociais: “meus pais são super conectados, mas quando vou para um lugar diferente gosto de mandar um cartão postal, eles amam”, conta.

Julia com o uniforme da Qatar Airways | Foto: Acervo Pessoal

 

 

Angela Lopes na plataforma em que trabalha | Foto: Acervo Pessoal

Assim como Julia, a técnica de enfermagem Angela Lopes, de 51 anos, também tem que lidar com a distância devido à sua profissão. Ela, que trabalha em regime off shore na Petrobrás, concilia há 28 anos a criação dos seus dois filhos com a rotina de embarque. “Às vezes eu chegava em casa e eles já falavam, andavam, nasciam os dentinhos..  Sempre uma novidade que eu tinha perdido”, conta. Angela explica que a ajuda de sua mãe foi fundamental para que ela pudesse permanecer na profissão: “Eles ficavam com ela quando eu não estava e isso me dava um conforto e tranquilidade para me manter neste regime de trabalho”.

Mesmo com a distância, a técnica de enfermagem conta que sempre se mostrou presente: “A nossa relação sempre foi intensa. Mesmo quando estava embarcada, sempre me envolvi em tudo, tentei dar todo amor, suporte e atenção que me foi possível e até hoje é assim”. Para Matheus de Carvalho, filho mais novo de Ângela, a relação com a mãe não foi afetada pela distância. “Eu sempre lidei muito normal porque desde que eu me entendo por gente, é a mesma rotina”, explica. O jovem conta ainda que apesar disso, a ausência materna em algumas datas comemorativas, como por exemplo, o dia das mães, eram difíceis, mas nunca encarou a situação como uma dificuldade extrema.

 

Angela e sua família na comemoração do aniversário da filha em 2016 | Foto: Acervo Pessoal

 

Janaina Conde, de 40 anos, também vive a mesma situação, porém de forma um pouco diferente. Ela é casada há 23 anos com um sub-oficial da Marinha, com quem teve dois filhos. “Quando nos conhecemos, ele estava bem no início da carreira. Essa questão da distância sempre houve. Mesmo que fosse por 15, 20, 40 dias, ter que conviver com isso foi uma das coisas que eu tive que me acostumar”, conta ela, que em 2011 precisou encarar um momento mais difícil ainda: a primeira missão do marido, Antônio, para o Haiti.

Janaina explica que recebeu ajuda psicológica oferecida pela Marinha para encarar a situação e que a decisão só foi tomada depois de uma conversa entre o casal: “Quando ele veio me contar que queria ir para o Haiti, passaram muitas coisas pela minha cabeça”. Além de ter que assumir todas as tarefas que antes eram de responsabilidade do marido durante os seis meses em que ele ficou fora, a preocupação com a integridade do mesmo também foi uma das dificuldades: “Eu me vi sozinha para resolver absolutamente tudo. Tomar conta da casa, criação, problemas, etc. Eu ficava preocupada com a violência de lá. Eles foram pela ONU em missão de paz, então eu tinha muito medo dos ataques, mas graças a Deus tudo correu bem”, conta.

 

Antônio no final da missão de paz da ONU | Foto: Acervo Pessoal