Consumido pelo psicológico
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Novos modelos de Iphone foram lançados, na última semana, em um evento no Steve Jobs Theater, Califórnia. A empresa manteve o padrão de lançamento: ao menos um novo modelo de celular por ano. Esta estratégia remete ao conceito de “obsolescência psicológica ou perceptiva”, que ocorre quando o surgimento de novas versões de um produto tornam os aparelhos antigos obsoletos na visão dos consumidores.
Para Denise Barros, professora do mestrado e doutorado em administração da Unigranrio, a obsolescência perceptiva é perversa. Segundo ela, “exige esforço de uma empresa dizer que aquilo que esse consumidor tem e que funciona perfeitamente não é mais ‘cool’, ele precisa de alguma coisa parecida com o produto e que apenas se difere de um detalhe ou outro”.
De acordo com estudo de 2017 conduzido pela empresa de eletrônicos Qualcomm junto com a consultoria de tecnologia IDC, 41,9% dos donos de smartphone tendem a trocá-los a cada 2 anos. É o caso da estudante Lara Porcel, que pretende comprar um novo aparelho apesar do seu estar em bom estado. “Sinto que é um aparelho ainda útil, apenas com alguns problemas na bateria e no touch”. Ainda segundo a pesquisa, uma maior capacidade de bateria e a resolução da câmera estão entre as prioridades na hora da compra, representando 49,3% e 28,1% respectivamente. É o que Lara busca: melhor qualidade nas fotos.
Hoje em dia, existe a necessidade de consumir o produto mais atualizado, segundo a publicitária e professora Marina Wajnsztejn. Para ela, a identidade está pautada pelo o que as pessoas consomem. Não se atualizar nos novos modelos ou avanços, “significa que eu estou atrasada identitariamente também, é como se todo mundo estivesse na minha frente”, explica.
Liliane Rohde, mestre em marketing, acredita que a publicidade estimula a obsolescência. Para ela o papel da publicidade é destacar as pequenas mudanças nos produtos para despertar os desejos do consumidor. Assim, “provocando a sensação de obsolescência perceptiva, esquecendo a antiga versão mesmo que esteja em completo funcionamento”.
Em entrevista ao Portal de Jornalismo, Eduardo França, coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da ESPM Rio, explica a relação entre a propaganda e o consumo desenfreado.
O consumo está se tornando cada vez mais importante, chegando a ser superior ao próprio ser, segundo Manuela Birtel, psicanalista e mestre em psicologia. Para ela, a sociedade atual vive na base do narcisismo, e o ato de consumir “dá status e, muitas vezes, ajuda a pertencer a um determinado grupo”. Ela explica que a vontade de sempre buscar o novo, o mais atualizado, é da sociedade atual, para se sentir mais preenchido e camuflado do vazio interior.
Reportagem: Ana Júlia Oliveira, Carolina Oliveira, Diana Campos, João Victor Tomaz, Juliana Anjos, Renan Adnet e Yan Lacerda
Edição de vídeo: Ana Júlia Oliveira