Ballet Clássico: Uma Arte Inacessível?
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No mês de maio, o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro voltou aos palcos com “O Lago dos Cisnes”, sob regência de Tobias Volkmann. A peça clássica foi remontada por Hélio Bejani e Jorge Teixeira e contou com 11 apresentações. Com a abertura das vendas pelo site do TMRJ, os ingressos, que variavam entre R$20 e R$80, acabaram em menos de uma hora. O esgotamento das entradas, tão rápido quanto vendas de shows internacionais disputados em solo brasileiro, indica a existência de um público que consome ballet clássico e levanta a discussão sobre a acessibilidade dessa arte – seja para quem pratica, seja para quem acompanha.
Bailarina do Theatro Municipal, Manuela Roçado tem 24 anos e interpretou Odile e Odette nessa temporada. Sua história na dança começou aos sete anos, motivada pela necessidade de fazer alguma atividade física. Foi somente aos onze, ao ter contato com o mundo dos concursos nacionais e internacionais, que decidiu ser bailarina. Para Manuela, o ballet é uma arte cara, mas não inacessível, “Existem instituições gratuitas e projetos de dança, mas o ballet ainda envolve dinheiro. Por mais que você esteja inserido em uma instituição estadual, por exemplo, você tem que bancar seu material de aula, que tem um custo alto”.
Apesar dos altos custos para se tornar um bailarino profissional, o Theatro Municipal e outras instituições buscam facilitar o acesso à arte e à dança. O projeto escola, realizado pelo Theatro, conta com atividades pedagógicas voltadas para estudantes, além de espetáculos gratuitos para 1500 alunos e funcionários da rede pública de ensino do Rio de Janeiro, como forma de estimular a adesão às artes no público jovem.
O valor dos ingressos também é um ponto crucial, e que estimula muitos a conhecerem mais do ballet. Pela precificação acessível, os ingressos acabam muito rápido, o que causa uma dificuldade para compra: “O valor do ingresso eu achei mega acessível, porém obtive muita dificuldade em comprar, porque acabam muito rápido, é a única coisa que deveriam modificar”, afirma a estudante volta-redondense Maria Clara Valory, de 23 anos. Apesar de não ser bailarina, a jovem ama a arte, “Não pratico dança e é a minha primeira vez em um espetáculo de ballet, sempre fui apaixonada pela dança e como ela é fluida e artística, acho uma linda forma de expressão”.
Para Manuela, poucas pessoas no Brasil realmente assistem e conhecem o ballet clássico, e é necessário aumentar sua visibilidade para além dos artistas: “A arte é muito pouco falada nas escolas, em casa ou na televisão. Muito se fala sobre dança, mas o ballet clássico fica de lado. Existem informações históricas dentro dos grandes ballets clássicos de repertório, que, na minha visão, poderiam ser mais exploradas na educação e na mídia”.
Muitos que frequentam o Theatro fazem parte do mundo artístico e já conhecem o ballet clássico. Paula Fernandes Cáfaro, de 23 anos, já assistiu a outros espetáculos, graças a seu interesse precoce pela dança. João Reis, de 42 anos, também frequentador de apresentações, é arquiteto, mas já foi dançarino e participou de muitas outras peças. “Eu já pratiquei atividades como dança, música, já fiz musicais também. Hoje em dia, eu atuo como arquiteto e também como cenografista. Em eventos também já fiz desenhos de cenário, palco, eventos musicais, mapa de palco. E me identifico com essa área artística”.
Os entrevistados ressaltam a beleza da dança e as emoções despertadas ao assistir O Lago dos Cisnes. “Essa experiência foi magnífica, a sensação de assistir e ouvir a orquestra ao vivo me trouxe um sentimento único, inexplicável, várias cenas eu me derramei em lágrimas, foi realmente muito emotivo e com muita certeza eu iria novamente, é tudo muito perfeito e profissional”, conta Maria Clara.
Reportagem: Duda Reis e Julia Novaes
Supervisão: Carolina Dorfman e Eduardo Gama