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A influência da literatura na sociedade

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A literatura está presente em nosso cotidiano há séculos, e a partir dela podemos estudar como as pessoas viviam em outros tempos. Por meio dos livros, é possível testemunhar como era viver em períodos de guerras, regimes ditatoriais e transformações sociais que mudaram a forma como conhecemos o mundo hoje em dia.

A definição de um livro clássico ainda é bastante discutida, e a professora de Português e Literatura, Estela Gomes, analisa que um clássico é estabelecido pelo poder de transformação exercido no leitor. O professor Wellington Amorim, formado em Letras Português/Inglês, complementa que o que torna um livro clássico é a sua repercussão e influência com o passar do tempo: “Eles [os estudiosos] atestam, mas a definição, na verdade, é a reverberação do livro no seu público”.

William Shakespeare, autor renascentista do século XVI, é um dos maiores nomes da literatura inglesa e mundial. O contexto em que viveu foi o responsável por muitas mudanças no mundo, como a criação da monarquia absolutista na Inglaterra, que fez com que o país se tornasse centro de poder governamental e cultural, o Renascimento e o mais fácil acesso a livros, já que agora estes não eram controlados pela Igreja. O autor também é conhecido por suas peças cheias de metáforas e personagens ilustres, como Macbeth e o casal Romeu e Julieta. As obras shakespearianas ainda hoje são lembradas, contadas e adaptadas por retratar problemas humanos, e não apenas de sua época, ainda que mostrem características temporais. 

O professor Wellington Amorim comenta como o leitor, ao reler uma obra, consegue encontrar elementos que representam a sociedade da época de publicação, como os costumes, comportamentos, diálogos e vestimentas: “Você encontra vários tipos de informação que talvez chamem atenção e preenchem o coração das pessoas nessa segunda leitura, porque a percepção começa a se voltar para detalhes que são ricos, importantes e interessantes para o leitor”. 

“A literatura é o nosso jornal de ontem. ‘Jornal’ porque ele traz detalhes, ele nos atualiza, ele nos informa. ‘De ontem’ porque a literatura normalmente descreve um período que já foi.” – Wellington Amorim

Tais detalhes mencionados pelo professor de literatura podem ser percebidos em obras famosas, como as de Jane Austen, autora de Orgulho e Preconceito, Emma e Persuasão. Seus livros contêm um tom irônico para abordar as relações românticas e, para ela, o amor não era a única razão pela qual duas pessoas deveriam se casar. Uma união, em sua visão, deve ocorrer como se fosse um acordo, cujas características pessoais devem combinar mais do que qualquer outra coisa. Além disso, durante a leitura podemos ver costumes da época, como os bailes, a aristocracia britânica e as consequências da Guerra Civil. 

O Brasil é um país que possui muita riqueza no quesito literário, com autores que introduziram diversas questões importantes. Dom Casmurro, um dos livros mais conhecidos do movimento Realista brasileiro, foi escrito por Machado de Assis, e hoje em dia é considerado um clássico da literatura nacional. Recentemente, os estudiosos começaram a discutir se Bentinho, protagonista da obra, foi ou não traído por Capitu, seu par romântico, e isso desencadeou debates que saíram da Academia e chegaram aos amantes do autor. A professora de literatura Estela Gomes reconhece o valor que Dom Casmurro tem em âmbito nacional e a importância de conhecer o livro: “Não apenas para saber se Capitu traiu Bentinho, mas porque as obras literárias transcendem seu próprio tempo histórico e, a cada nova leitura, continuam a suscitar discussões, ampliando o alcance do debate estético em torno delas.”

Uma obra clássica traz não apenas a análise comportamental da época, mas também a maneira com que ela descreve os problemas sociais e econômicos enfrentados pela população. A professora Estela Gomes aponta Vidas Secas, de Graciliano Ramos, como um exemplo disso. O autor descreve a vivência de um homem trabalhador e sua família, que lutam para sobreviver em meio à pobreza e a seca do sertão nordestino. “Quantos ‘Fabianos’ tiveram suas histórias retratadas por Graciliano? A literatura representa as experiências do homem no tempo”, enfatiza.  

Outro exemplar que aborda um evento histórico que marcou o Brasil é Meninos sem Pátria, de Luiz Puntel. Publicado em 1981, o romance infantojuvenil aborda uma família que se exila durante a Ditadura Militar devido à perseguição sofrida pelo pai, que é jornalista. A maneira com que a infância dos protagonistas é retratada ajuda o leitor a entender mais sobre esse período obscuro que afetou tantos brasileiros, e por isso o livro é adotado há mais de 40 anos em escolas durante o Ensino Fundamental.     

Indo para livros escritos recentemente, o sucesso de vendas Jogos Vorazes também trata de assuntos atuais mesmo sendo uma distopia. Na narrativa, deparamo-nos com temas que protagonizam discussões nas redes sociais, como governos ditatoriais, banalização da morte, assédio midiático e culto à beleza. A trilogia da estadunidense Suzanne Collins teve mais de 100 milhões de exemplares vendidos. O último volume da série, “A cantiga dos pássaros e serpentes”, lançado em meio à pandemia, teve mais de 500.000 vendas em apenas uma semana. Os três primeiros livros tiveram quatro adaptações cinematográficas e, juntos, faturaram mais de U$2,3 bilhões de dólares. 

Apesar do sucesso de diversas obras atuais, ainda há uma discussão acerca da relevância do conteúdo abordado pelos novos autores. Muitos diminuem o valor da literatura moderna, argumentando que apenas os livros antigos possuem qualidade, mas a professora Estela discorda. “Não há pobreza literária! O universo da literatura é tão vasto, tão abrangente e vivo! Cabe ao leitor selecionar a obra que melhor se encaixa nas suas expectativas”.

“A Literatura é a arte de contar histórias que emocionem, que deem prazer, que ensinem a arte de conviver com o diferente, que valorize a empatia” – Estela Gomes

Reportagem: Gabriela Leonardi e Letícia de Lucas

Supervisão: Brenda Barros

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