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113 anos de Japão no Brasil

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Há 113 anos, no dia 18 de junho de 1908, chegou no porto de Santos, em São Paulo, o primeiro navio com imigrantes japoneses. O navio Kasato Maru trouxe cerca de 165 famílias vindas do Japão para fazer parte da mão de obra brasileira, depois de um acordo entre o governo dos países. A embarcação se tornou símbolo da presença japonesa no Brasil.

Nikkei é o nome que se dá na língua japonesa para os seus descendentes nascidos fora do país ou que vivem no exterior. No Brasil, vivem mais de 2 milhões de japoneses e nipo-brasileiros, o que representa a maior comunidade nikkei fora do Japão do mundo, segundo dados do portal do Governo de São Paulo. A cidade mais populosa do país também é o lugar onde se concentra a maior parte de nipônicos vivendo em solo brasileiro, cerca de 1,3 milhões. 

No entanto, mesmo o Brasil possuindo a maior colônia japonesa do mundo, os seus herdeiros ainda tem que lidar com casos de discriminação dentro da sociedade brasileira. Hugo Katsuo tem 22 anos, é cineasta e possui ascendência japonesa, tanto por parte materna, quanto paterna. Quando indagado sobre a violência social, ele disse: “Existe um preconceito em relação às pessoas e à cultura japonesa/nipo-brasileira no país. Mas ele se dá muito mais no âmbito de um orientalismo, ou seja, de um imaginário ocidental estereotipado sobre o chamado Oriente”.  

A discriminação mencionada por ele trata-se de julgamentos pré-concebidos que podem envolver tanto atos de agressões físicas quanto mentais contra pessoas nascidas ou com ascendência de países asiáticos. Katsuo ainda traça ainda um paradoxo com a pandemia do coronavírus e o Mito do Perigo Amarelo, uma ideia que põe a Ásia como um perigo para a comunidade ocidental. “As coisas ficam mais complexas quando o covid-19 é racializado como um ‘vírus chinês’ e qualquer pessoa com fenótipo do leste-asiático se torna um potencial vetor do vírus, aumentando o discurso de ódio contra pessoas com ascendência dessa parte do mundo no país, inclusive japoneses”, concluiu Hugo. 

Por outro lado, a cultura japonesa é muito popular no Brasil, sendo responsável por levar milhares de pessoas a festivais. De acordo com dados do Festival do Japão de 2017, realizado na São Paulo Expo, 182 mil pessoas compareceram ao evento ao longo dos seus 3 dias de duração. O presidente da Associação Nikkei do Rio de Janeiro, Kenhitiro Kurihara, diz que o que faz a cultura do Japão ser tão atraente é por ser uma coisa tradicional e com uma longa história.

Os animes, desenhos animados japoneses, se tornaram uma sensação mundial e os sucessos de títulos como Akira, Sailor Moon e Dragon Ball foram responsáveis pela popularização deles no Brasil. Animes e mangás, trazem consigo diversos elementos dos costumes nipônicos para o público através das mais diferentes histórias e visuais. Kurihara diz que ficou impressionado com como os animes conseguiram disseminar mais a visão de mundo do Japão, “Isso [o anime] ajuda a divulgar a cultura e entender um pouco do pensamento do povo japonês.” Ele ainda completa dizendo que esse tipo de mídia é capaz de transmitir muito o sentimento, fazendo com que a audiência consiga compreender mais o funcionamento social da terra do sol nascente.

Arthur Croce, de 20 anos, é consumidor de animes e mangás desde criança e diz que esse entretenimento foi responsável pelo seu crescente interesse na cultura do Japão. “Hoje eu tenho muita vontade de não só visitar o Japão, como eu tenho um grande interesse na língua japonesa, nos costumes, na história. Algo que só aconteceu devido a essa aproximação fornecida pelos mangás e animes”, completa. A existências de serviços de streaming dedicados a conteúdos japoneses, como o Crunchyroll, ajuda a fortalecer a ponte entre culturas ricas, que só têm o que ganhar com essa troca.

Os 113 anos de convívio direto entre as culturas ajudaram a transformar o Brasil na maior colônia japonesa fora da terra do sol nascente. A influência dos imigrantes japoneses está presente hoje na agricultura, nas ciências, cultura, religião e na culinária. Isso tudo mostra o quão importante foi a chegada dos nikkeis na formação de hábitos e costumes que a sociedade brasileira carrega até os dias de hoje.

 

Reportagem: Filipe Bias e Guilherme Rezende

 

Supervisão: Gabriela Leonardi e Letícia de Lucas

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