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Slam das Minas: “resistência” é uma palavra feminina

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O Slam das Minas é um coletivo artístico que organiza batalhas de poesia falada, com o intuito de dar visibilidade a mulheres heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou trans, pessoas queer, agênero e não binárias. Sem objetos cênicos ou instrumentos musicais, os poetas possuem em média três minutos para recitar uma poesia. O movimento, que surgiu em 2015, no Distrito Federal, tem se popularizado por levantar diversas temáticas sociais, como machismo, racismo e  LGBTfobia.

Essas problemáticas fazem parte da formação social do Brasil, e, por isso, são temas recorrentes nas rodas de poesia dos Slams. De acordo com o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 2018, 75% das pessoas assassinadas no país eram negras, sendo as mulheres as vítimas mais recorrentes. O mesmo relatório aponta que 61% dos feminicídios ocorridos entre 2017 e 2018 foram de mulheres negras. Além disso, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), o Brasil registrou 129 assassinatos de pessoas trans nos oito primeiros meses de 2020, um aumento de 70% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Por ser voltado para um público específico, o Slam das Minas visa oferecer um espaço para que os poetas possam se expressar sobre as particularidades de suas vivências. A cantora Carol Dall Farra fala que é difícil para mulheres, mulheres negras, pessoas trans e pessoas não-binárias, encontrarem um lugar seguro de fala e de escuta. Carol complementa que o Slam é importante, pois permite às pessoas serem ouvidas e ouvirem sobre outras realidades. “Então, acho que a importância do Slam é estabelecer esse respaldo, dar lugar de voz, de escuta e de fala para as pessoas.”

O movimento tem grande relevância dentro do contexto social, racial e de classe vivido no Brasil. A poetisa e slammer Ludmila Singa diz que a poesia marginal pode ser uma ferramenta poderosa para o despertar de cada indivíduo sobre a realidade do mundo. “É importante para que a gente consiga fortalecer comunidades periféricas e buscar novos caminhos enquanto sociedade. O Slam das Minas vem com essa importância e recorte”, finaliza.

A desigualdade entre os gêneros ainda é muito evidente no país. De acordo com uma publicação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres receberam 77,7% do salário dos homens em 2019. A diferença é ainda mais elevada em cargos de maior rendimento, como diretores e gerentes. Nesse grupo, as mulheres ganham apenas 61,9% do rendimento dos homens. Para Juliana Luise, do Slam Das Minas no Rio Grande do Sul, a arte tem o poder de denunciar injustiças como machismo e “nos dá o poder de gritar para quem não quer nos ouvir, incomodar”.

As juventudes das periferias compõem a maior parte do público que participa dos slams. No entanto, Ludmila conta que, nos Slams Unigêneros a predominância é masculina. “A gente percebeu que existia uma falta, um problema dentro do cenário do Slam. Então a ideia do Slam das Minas é justamente acolher, fortalecer e potencializar as vozes femininas”.

Roda de batalha de Slam

Resistência, acolhimento e protesto fazem parte dos encontros promovidos pelo Slam. A poesia falada e marginal traz um pouco disso e ajuda crianças e mulheres a se identificarem com as histórias ouvidas. Para a poetisa Carol, o mais importante de contar sua luta é servir de referencial para crianças pretas: “Fazer com que outras pessoas se vejam em mim e tenham coragem de contar sua própria história”, diz Dall Farra. 

A poetisa Juliana também fala sobre a importância de levar o Slam para as escolas. Ela diz que quando ministra oficinas, os estudantes se contagiam pela ideia e começam a escrever. “Eles deixam de lado a vergonha para ter a experiência de participar e recitar, ouvem os colegas e se interessam por outros poetas”, afirma.

Ludmila Singa fala que há uma ideia presente na comunidade que diz que as mulheres não podem contar suas histórias e serem protagonistas delas. “A sociedade nos leva a acreditar que a todo momento temos que estar trabalhando para alguém, cumprindo ordens e demandas. A poesia nos ensina um estilo de vida mais lento, uma outra rota de trabalho. Por que não ter uma profissão que é contar nossas histórias?” Ela reitera que muitas vivências são coletivas, e que nisso reside a importância de contá-las: pode servir de ajuda para outras pessoas. “As nossas histórias não são só nossas, então o que acontece comigo e a forma como eu lido com isso pode ajudar outras pessoas” conclui.

Reportagem: Beatriz Chagas, Deborah Lopes e Isabela Garz.

Supervisão: Gabriela Leonardi e Letícia De Lucas.

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