CARREGANDO

O que você procura

Geral

O aniversário do sequestro do embaixador estadunidense: as dificuldades de se contar essa e outras histórias

Compartilhar

Há exatos 51 anos, chegava ao fim o sequestro do embaixador estadunidense, Charles Burke Elbrick. A ação iniciada três dias antes, na tarde do dia 4 de setembro de 1969, foi arquitetada e executada pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) e pela Ação Libertadora Nacional (ALN), que tinha como líder Carlos Marighella.  

Em um manifesto publicado pela mídia no dia seguinte ao rapto, os sequestradores exigiam a liberação de 15 presos políticos, que estavam sob a custódia do regime militar. Atendida a exigência, na tarde do 147º aniversário da Independência do Brasil, o embaixador foi deixado próximo ao Estádio do Maracanã, em dia de jogo, o que facilitou a fuga dos sequestradores. Mais cedo naquele dia, os detidos já haviam desembarcado no México. 

Naquele momento, o mundo vivia em um cenário de Guerra Fria e havia uma disputa pela hegemonia política internacional. O historiador André Luis, graduado em história pela Universidade Estácio de Sá, afirma sobre isso: “Essa disputa internacional refletia na postura do governo brasileiro e, assim, o sequestro de um embaixador estadunidense por um grupo de esquerda representava também essa disputa.” 

O sequestro, organizado conjuntamente pelo MR8 e pela ALN, foi significativo para esses grupos. Conforme explica o historiador Daniel Marques, graduado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,  o MR8 funcionou como uma espécie de “fator surpresa” por contar com integrantes, até então, menos conhecidos. Já sobre a ALN, fala que o movimento liderado por Marighella já tinha um histórico de resistência política e sofria com a  perseguição: “Trajetórias de figuras como ele [Marighella] representam bem o que significava fazer parte da Ação Libertadora Nacional durante a Ditadura Militar no Brasil”

O jornalista e biógrafo do guerrilheiro, Mário Magalhães, publicou o livro “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo” em 2012. Posteriormente, a obra foi adaptada ao cinema em longa dirigido por Wagner Moura, ainda sem data de estreia para o grande público. No processo de apuração da biografia, Mário conta que enfrentou a combinação de dois obstáculos principais: “Por um lado, certa historiografia tentou eliminar Carlos Marighella da memória nacional. Por outro, ele se empenhou em apagar os próprios rastros, para evitar prisão, tortura e morte.” frutos da trajetória de perseguição citada pelo historiador Daniel Marques. 

O escritor relata que a intolerância e o obscurantismo impediram a divulgação do livro em muitos espaços, mas pontua que, no ano do lançamento, a resistência foi menor do que seria hoje, no país inquieto em que vivemos. Nesse sentido, o anúncio do filme agitou algumas parcelas da sociedade. 

Mesmo sem a estreia comercial do filme, o site Internacional Movie Database (IMDb) já conta com mais de 42.000 avaliações majoritariamente negativas. Após questionar a veracidade, o site chegou a tirar do ar os sistema de avaliação para o filme e excluir os comentários de alguns usuários. Além disso, os produtores do longa abriram mão da verba da Ancine (cerca de 1,2 milhão de reais) após terem o pedido liberação do dinheiro negado. A negativa causou o adiamento da estreia de novembro de 2019 para maio de 2020.

A pandemia atrasou mais uma vez a estreia, e a reabertura nacional das salas de cinema ainda não ocorreu. Sobre a exibição pública do longa, Mário conclui:  “É direito das pessoas não assistir ao filme […], mas quem quer assistir também deve ter seu direito assegurado”.

 

Reportagem: Brenda Barros, Eloah Almeida, João Pedro Abdo

Supervisão: Ana Julia Oliveira, Carolina Mie, Patrick Garrido

Tags: